Além do Vegetarianismo

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Purushatraya Swami

Abster-se de alimentos de origem animal é muito positivo, mas será o auge?

O movimento Hare Krishna sempre esteve na vanguarda do vegetarianismo. Os devotos têm uma grande parcela do mérito na expansão do vegetarianismo pelo mundo. No Brasil, os pioneiros do vegetarianismo foram basicamente os adventistas, a macrobiótica e o movimento Hare Krishna. Os adventistas tiveram seu auge com a marca Superbom, mas a mesma foi vendida a um grupo poderoso não comprometido diretamente com a dieta vegetariana.

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Os adventistas tiveram seu auge com a marca Superbom, mas a mesma foi vendida a um grupo poderoso não comprometido diretamente com a dieta vegetariana.

Muitos adventistas não são estritos em sua dieta vegetariana, por isso perderam a força. A macrobiótica foi somente uma onda, como tantas outras. É mais adequada para quem vive no Japão. Hoje em dia, pouco se fala nela. Vegetarianismo é uma marca registrada da cultura védica da Índia milenar. Os devotos de Krishna estão sempre empenhados numa campanha vitalícia de livrar as pessoas do consumo de carne e minimizar a violência no mundo. Sua força está na fé que eles têm na prasada.

Prasada e vegetarianismo nunca estarão dissociados. A questão que queremos analisar é: Estamos aproveitando bem o fato de termos adotado uma dieta karma-free? Estamos aperfeiçoando nosso vegetarianismo? Estará nosso vegetarianismo contribuindo realmente para nossa saúde? Ou é somente parte da doutrina religiosa, como um ritual ou um tabu? Estamos, realmente, dando um exemplo do melhor que o vegetarianismo pode apresentar? Ou nosso vegetarianismo resume-se somente a evitar comer carne, peixes e ovos?

Congresso Vegetariano Mundial

Participei, em 2004, do 36º Congresso Vegetariano Mundial, em Florianópolis, que pela primeira vez foi realizado no Brasil. A questão dos transgênicos foi um dos temas mais debatidos e alguns querem tomar posturas políticas para lidar com o assunto.

Hoje em dia, a onda mais forte no vegetarianismo é a postura “vegan”, ou “vegana”, que rejeita qualquer produto de origem animal, como o leite, derivados lácteos, mel etc. Alguns vegans são muito “prosas”, pois julgam-se estar num nível de vegetarianismo mais elevado do que os lacto-vegetarianos. Mas outras correntes aparecem no cenário e, por sua vez, insinuam que “temos a última palavra em alimentação”.

Dois grupos foram as “vedetes” do congresso: os crudívoros, liderados por um jamaicano rastafári, e o pessoal dos alimentos vivos ou, como eles chamam, biochips. O jamaicano dizia: “Quem come arroz cozido e quem come churrasco está no mesmo nível. A alimentação tem que ser totalmente crua”. O pessoal ficou impressionadíssimo. Suas apresentações eram verdadeiras performances e atraíam muita gente.

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O jamaicano Aris La Tham demonstrando a culinária crudívora.

Já o pessoal dos alimentos vivos, que se alimentam principalmente de grãos germinados, eram todos bem magrinhos e pareciam entusiasmados com sua alimentação. Quanto a nós, “os Hares”, continuamos firmes em nossa proposta lacto-vegetariana, que consideramos ser muito mais realista. Temos, no entanto, que aprender a usar corretamente essa dieta para podermos usufruir de todos os benefícios que a dieta vegetariana tem a oferecer.

Princípios Védicos da Alimentação

Na palestra que dei no congresso, falei sobre “Os Princípios Védicos da Alimentação”. Primeiro, abordei um ensinamento do terceiro capítulo do Bhagavad-gita, em que Krishna diz que, se não reconhecemos as dádivas que temos recebido dos semideuses, e indiretamente dEle, e usamos essas coisas para nosso desfrute sensual, desenvolveremos a mesma mentalidade de um ladrão.

Agradecer a Deus pelo alimento que consumimos é um sinal de gratidão ou, pelo menos, de boa educação. Ao recebermos um favor, um simples “Muito obrigado” harmoniza o ambiente e todos ficam felizes. Se ajudamos uma pessoa e não recebemos nenhum sinal de agradecimento, ficaremos em dúvida se devemos ajudar em outra ocasião, pois não sabemos se nossa ajuda foi bem recebida ou não.
No Bhagavad-gita, é explicado que, quando a pessoa não somente agradece, mas oferece algo de si a Deus, Ele, presente no coração de toda entidade viva, irá, de Sua parte, reciprocar. A verdade é que precisamos muito mais dEle do que Ele de nós.

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No diálogo entre Krishna e Arjuna conhecido como Bhagavad-gita, um dos tópicos abordados é a alimentação.

A alimentação é uma atividade em comum com o reino animal. Quando estamos com fome e “atacamos” a comida, estamos com o mesmo nível de consciência de qualquer animalzinho esfomeado. Se, nesse exato momento em que nossa consciência é empurrada para baixo pelos impulsos corpóreos, nós elevarmos nossa consciência a Deus, isso vai enaltecer nossa condição humana, frear o controle da natureza inferior sobre nós, fortalecer nossa estrutura moral e vai estreitar nossa conexão com Deus.
Quem cultiva um contato direto com a Natureza está sempre consciente de que o alimento que é ingerido é o resultado do milagre da vida: cresceu de uma pequena sementinha, foi nutrido por elementos minerais e orgânicos do solo – que, por sua vez, são subprodutos de outras entidades vivas – captou o prana do éter e a energia proveniente do Sol e ficou completamente dependente da chuva providencial ou de uma rega generosa. Podemos assim apreciar todo processo sistêmico que harmoniza os inúmeros ciclos de vida que interagem entre si. Quem tem esse contato com a Natureza e tem visão holística pode apreciar essas maravilhas e, naturalmente, elevar sua consciência para Deus por ter sido agraciado por essas dádivas.

Vida Artificial

Por outro lado, a vida urbana impõe um ritmo e concepção de vida completamente artificial e bloqueia a percepção holística. A pessoa fica literalmente desassociada da Natureza. Sem o contato direto com a terra, deixa-se de apreciar os milagres que a Natureza proporciona.

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Sem o contato direto com a terra, deixa-se de apreciar os milagres que a Natureza proporciona.

O grande argumento da vida urbana é a sua praticidade. Fica tudo muito fácil. É só ir ao Supermercado 24 horas, encher o carrinho e pagar o preço. Em casa, a geladeira conserva os produtos por alguns dias. Daí para a panela de pressão ou para o microondas. Tudo muito simples, prático e automático. O vegetariano urbano fica, em muitos casos, envolvido nessa cultura de supermercado. É, portanto, fundamental expandir nossa consciência e ir além do vegetarianismo de motivação pura e simplesmente corpórea.

Vegetarianismo e Consciência de Deus

O vegetarianismo, pela sua natureza sattva-guna, é totalmente compatível com a consciência de Deus. Tenho, contudo, observado que existem muitas pessoas agnósticas e ateias também entre vegetarianos. Muitos perderam a motivação na fé religiosa e canalizam sua tendência devocional para sua dieta. Fazem do processo alimentar, levado às últimas consequências e minúcias, a meta principal da vida. Tornam-se, muitas vezes, fanáticos, similares a alguns grupos religiosos dogmáticos e sectários. Isso acontece também em outras atividades, tidas como humanistas, como ecologia, política (no bom sentido), trabalho social, indigenismo, psicanálise etc. A atividade caracterizadamente secular é revestida de uma aura que sugere um quê de sectarismo religioso.

Não obstante serem atividades piedosas, não se deve considerá-las no mesmo nível da espiritualidade. Quando falamos em “espiritualidade”, referimo-nos à noção de espiritualidade sã, onde o enfoque primordial é a conexão amorosa com a Transcendência, sem motivações materialistas e egoístas.

Quem cozinha? Importante também na alimentação é a vibração que vem embutida na comida. Não é só o valor nutricional do alimento que é importante, mas também seu lado mais sutil, sua vibração. A consciência na hora de se cozinhar deve ser a mais elevada possível. Deve-se ter um ambiente de alto astral, pois as impressões sutis da mente de quem cozinha ficam impregnadas no alimento.

Uma vez ouvi, na Índia, uma história, tida como verídica, de um renunciante muito idoso e iluminado. Todos os dias, no final da tarde, seu servente buscava um copo de leite das vaquinhas do goshala (curral) da vizinhança. Um dia, uma pessoa mundana e materialista estava presente quando o servente foi pegar o leite e, para sentir-se generoso, fez questão de pagar o copo de leite do homem santo. Dessa forma, algumas moedinhas foram economizadas e o materialista ficou com a consciência de ter feito uma grande caridade. Porém, quando o sadhu tomou o primeiro gole do leite, sentiu que havia algo estranho e desagradável naquele leite, diferente da costumeira vibração sattva-guna de seu leitinho diário. O servente contou então que tal pessoa tinha pagado, no que o renunciante rejeitou tomar aquele leite. Embora sem diretamente ter tocado, a vibração pesada do materialista tinha impregnado o leite e interferiu na harmonia, pureza e amor que envolvia essa singela atividade cotidiana. Esse é, sem dúvida, um exemplo de extrema sensibilidade, mas podemos entender como uma vibração sutil no éter pode afetar o alimento.
Se isso é assim, o que dizer de quando o alimento é diretamente manuseado e preparado por pessoas de baixo nível moral e espiritual. É realmente importante sabermos quem cozinha e com qual consciência o alimento é cozinhado.

Bhakti-yoga na Cozinha

Da mesma forma com que um alimento pode ser contaminado por vibrações nocivas, pode ser vivificado por uma vibração pura. Quando cozinhamos com a intenção de fazer uma oferenda a Deus, o alimento é dessa forma espiritualizado. Essa intenção é muito importante, pois, se iremos oferecer o alimento que está sendo preparado para Deus, ele deve ser preparado com todos os critérios de limpeza e pureza de consciência. Deve-se evitar antecipar o desfrute sensório que iremos ter ao comer. Nossos sentidos devem permanecer tranquilos, sem agitações. Nada de comentários como “Que cheirinho bom…” e o que dizer de “dedão” na panela para experimentar. O oferecimento do alimento requer um pequeno momento de reflexão e até um pequeno ritual com algum mantra, hora em que a consciência eleva-se a Deus num ato de amor e devoção. Após isso, podemos então satisfazer nossos apetites, demandas corpóreas e desfrutar das delícias do sabor. O alimento assim oferecido a Deus é chamado “prasada”, palavra em sânscrito que significa “satisfação” ou “misericórdia”.

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Srila Prabhupada, fundador da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna, preparando alimento a ser oferecido a Krishna.

Imagine se convidamos uma pessoa importante e querida para almoçar em nossa casa e, quando ela chega, dizemos: “Nós já almoçamos, agora você almoça sozinha”. Realmente, essa não é a etiqueta apropriada. Damos sempre a primazia para quem convidamos. Da mesma forma, quando oferecemos o alimento a Deus, evitamos qualquer tipo de antecipação de desfrute sensório. Desfruta-se, e muito, quando o alimento passa a ser prasada. Esse é um “segredinho” importante no processo de bhakti-yoga, o yoga da consciência.

Na prática do yoga clássico, o controle dos sentidos chama-se pratyahara, que significa controlar os sentidos de forma a não ficar à mercê dos estímulos externos. É dito que, dos sentidos, a língua é o mais voraz. Sem o devido controle, a pessoa pode cair vítima do descontrole compulsivo da língua. Como diz o ditado: “O peixe morre pela boca”. Isso vale também para muitos humanos.

Doenças entre Vegetarianos

Em websites de notícias da ISKCON, um dos temas que tem aparecido com certa frequência é a notícia de doenças e falecimentos de devotos, principalmente discípulos de Srila Prabhupada. “Sridhara Maharaj abandona o corpo”, “Gangamayi Devi Dasi abandona…”, “Praghosh Prabhu está com câncer”, “Mula Prakriti Devi Dasi deixa o corpo”, “Falecimento de Bhava-bhuti Prabhu”, “Shyama Devi Dasi…”, são algumas notícias que foram divulgadas recentemente. Todos esses devotos saíram desse mundo prematuramente, pois não tinham idades avançadas.

O lado bom da história é que esses devotos, e muitos outros mais, estão saindo desse mundo de forma pacífica e com alto nível de consciência de Krishna. Podemos ver que o processo da consciência de Krishna, como foi instruído por nosso amado fundador-acharya Srila Prabhupada, está funcionando. Ele mesmo, no seu papel de acharya, mostrou pessoalmente como sair desse mundo com lucidez, desapego, dignidade e pleno de amor por Krishna.

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Mesmo sendo um alimento santificado, se não tivermos um critério rígido do que ingerimos, teremos inevitavelmente problemas com o corpo.

A causa mais frequente das doenças fatais entre devotos é o câncer. Problemas no trato intestinal, fígado e coração, assim como diabete e obesidade, são igualmente comuns. Isso nos leva a questionar: Qual seria a causa dessas doenças, visto que o estilo de vida adotado pelos devotos é supostamente o mais saudável possível? Embora sem nenhum dado concreto em mãos, arrisco dizer que, na maioria dos casos, a causa da doença foi a alimentação inadequada. Mas como? Alguém pode argumentar que muitos deles comeram toneladas de maha-prasada durante suas vidas. Mesmo sendo um alimento santificado, se não tivermos um critério rígido do que ingerimos, teremos inevitavelmente problemas com o corpo.

Conceito Ayurvédico de Doença

Um dos maiores perigos na alimentação é o uso constante de alimentos industrializados. É a massa de tomate, o leite condensado, o açúcar refinado, sal refinado, queijos, batatas fritas, leite embalado, margarinas, gordura hidrogenada etc. Também, muitas frituras, muito ghi, muitos doces. Tudo isso gera resíduos, chamados na nomenclatura da medicina ayurvédica de ama. Esses resíduos apodrecem internamente e contaminam todo o organismo, pois a energia sutil circula por todo o corpo. Nesse percurso pelo corpo, quando essa energia contaminada encontra um bloqueio ou um órgão debilitado, ali vai aparecer um foco de doença. Dessa forma, uma indigestão pode provocar, por exemplo, um tumor no cérebro.

Dos grandes inimigos da saúde, o comer além da conta, o over-eating, é imbatível. Geralmente depois de uma comilança em demasia, o organismo reage e bate até um arrependimento, mas já é tarde – não dá para voltar atrás. Agora só resta esperar as consequências.

Temos, portanto, que estar sempre conscientes e alertas para não cair no engodo do desfrute irrestrito da língua. Quem desenvolve esse autocontrole preserva muito mais sua saúde. Toda alimentação deve ser feita na hora certa e sem ansiedades. Muitos engolem a comida sem mastigar. Uma coisa é certa: quando ficamos dominados pela gula e pelo prazer da língua, nossa saúde fica totalmente comprometida.

Existem muitos planos de saúde, como Amil, Golden Cross etc., mas todos esses são basicamente “planos de doenças”. O verdadeiro “plano de saúde” deve ser nossa mesa de refeições.

Cultura Védica
A questão do leite é um assunto bem delicado. A dieta vegan, entre outras, rejeita terminantemente. Leite, para eles, só de soja. Já para os devotos, o leite da vaca é muito apreciado.

Para começar, Krishna é o vaqueirinho transcendental. Na primeira infância, Krishna era chamado de makhana-chora, “o ladrãozinho de manteiga”; o leite é chamado nas escrituras de “religião líquida”; o ghi é o elemento indispensável para o ritual de sacrifício de fogo, agni-hotra; a vaquinha kamadhenu pode suprir quantidades ilimitadas de leite; o elixir da imortalidade, soma-rasa, surgiu da agitação do oceano de leite – são muitas histórias da cultura védica relacionadas ao leite.

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Krishna pastoreando junto de Seus amigos gopas.

Além disso, é dito que um copo leite quente ao dormir produz um efeito que nenhum outro alimento produz: alimenta as células da área cerebral que lida com assuntos espirituais. Na cultura védica, a vaca e o boi são os animais mais próximos à sociedade humana. A convivência entre esses animais e o homem é completamente natural e harmoniosa. Contudo, em nossa sociedade moderna, eles perderam essa posição para a classe canina, que funciona como expansão do ego da pessoa.

Mamãe Vaca

O leite é uma dádiva especial de uma de nossas mães, a vaca. Esse é o status da vaca na cultura védica. Assim como a mãe biológica amamenta o bebê com leite materno, a vaca também fornece seu leite para a sociedade humana. É dito por alguns opositores do consumo de leite que tirar o leite da vaca seria um ato desumano, que o leite pertence ao bezerro e não se deixa praticamente nada para ele. Isso certamente pode ser que ocorra entre pessoas muito gananciosas e materialistas e deve ser repudiado.

Uma vez li que, em fazendas produtoras de leite nos Estados Unidos, vacas que não produzissem mais do que trinta litros diários eram mandadas ao matadouro, pois ficavam inviáveis economicamente, devido ao alto custo das rações, hormônios e remédios que eram investidos nelas. Sei também que vacas leiteiras da melhor qualidade são usadas como reprodutoras. Assim que o feto começa a se desenvolver em seu ventre, ele é retirado por meio de uma cesariana e introduzido no ventre de outras vacas de menos raça que a mãe original. Com isso o tempo da gravidez da vaca reprodutora diminui sensivelmente e ela, ao invés de parir uma cria por ano, produzirá dez. Pode ser que esse procedimento aumente os lucros do produtor, mas é o suprassumo da ganância, maldade e insensibilidade.

O que realmente acontece é que a vaca produz muito mais leite do que o bezerro pode consumir. Se deixarmos o bezerro beber todo o leite diário que sua mãe produz, ele vai sofrer de diarreia. Por outro lado, se não extraímos todo o leite do úbere da vaca, ela sofrerá e terá problemas nas tetas. Dessa forma, o consumo de leite pela sociedade humana é algo completamente natural. No lado masculino, o boi deve ser empregado para atividades que exigem força, como tração e aração. Hoje em dia, com a mecanização das atividades rurais, o boi perdeu sua função para o trator. Só resta mesmo mandá-lo para o matadouro.

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Rebanho aposentado da fazenda Hare Krishna Gita Nagari, nos Estados Unidos. Em fazendas comerciais, os bois e as vacas que deixam de dar leite são abatidos.

Durante a maternidade, a vaca produz e libera o leite devido ao amor maternal. É indiscutivelmente um ato de amor. Quem lida com esses animais no curral sabe que cada vaca tem uma personalidade e um temperamento particular. Esses animais, apesar de enormes, são muito sensíveis e relacionam-se perfeitamente com os seres humanos. Já tenho presenciado coisas impressionantes: vi, por exemplo, numa fazenda do Movimento Hare Krishna, uma vaca que por oito anos fornecia leite sem ter crias. Ela vivia tão feliz que seu leite nunca parava de ser produzido e assim ela podia satisfazer muita gente.

Terapia da Vaca

Um argumento bem conclusivo que diferencia a classe bovina dos outros animais é o fato de que o seu excremento, ao invés de ser nojento e repugnante como de todos os animais, humanos incluídos, pode ser manuseado e é dito que tem, inclusive, propriedades antissépticas. Nas zonas rurais na Índia, é comum espalhar o esterco do gado pelo chão e paredes. Outra prática comum é amassar o esterco e formar umas “bolachas” achatadas, que são secadas ao Sol e usadas como material combustível para a cozinha. Diz-se que produz a melhor chama para se cozinhar.

Na Índia, conhece-se bem as propriedades terapêuticas dos derivados lácteos. Tanto o leite e derivados, como o iogurte, quanto o esterco e a urina da vaca têm poderosos efeitos terapêuticos. O ghi, então, pode fazer milagres. Qualquer raça bovina produz o ghi, que é usado na culinária e na medicina. Todavia, existe uma raça específica que produz o ghi mais poderoso. São as vacas branquinhas de Vrindavana, um tipo de raça nerole. Essas vacas dão pouco leite e, ainda por cima, ralo. Mas o ghi produzido desse leite tem um valor terapêutico tremendo. Quanto mais velho o ghi, mais ativo. Pode ficar enterrado por dez anos ou mais, e, assim, seu poder terapêutico será mais ativo.

Um dos argumentos contra o leite é que ele produz mucos. É por isso que não se deve tomar frio e, mesmo quente, deve ser tomado em pequenas quantidades. Para neutralizarmos a tendência de produzir mucos, deve-se acrescentar o turmeric, ou cúrcuma em pó, que tem coloração amarela. Aqui no Brasil é chamado de açafrão. O uso do leite deve ser bem moderado. É um alimento forte e, em excesso, trará distúrbios ao organismo. O queijo consumido em excesso faz os mesmos estragos no organismo que a carne. Tenho presenciado lacto-vegetarianos promovendo verdadeiras orgias de queijos. Pode ser que seja um festival para a língua, mas força muito o aparelho digestivo e produz ama, resíduos não digeridos que apodrecem dentro do organismo.

Leite Industrializado

Uma coisa que concordamos cem por cento com o pessoal vegan é que o leite industrializado é de péssima qualidade. Primeiro porque, como todo alimento industrializado, possui conservantes químicos que definitivamente devem ser evitados o máximo possível. Segundo porque as vacas, para que suas produções sejam aumentadas, são tratadas com produtos químicos (hormônios, remédios contra vermes e carrapatos, e outros produtos da indústria veterinária) e com rações que contêm produtos muito duvidosos para a saúde dos animais. O maior escândalo que o mundo assistiu recentemente foi a epidemia das “vacas loucas”, causada pelo uso de rações que eram recheadas com sangue e ossos dos animais já abatidos. A Natureza naturalmente rebelou-se contra esses abusos.

Is Milk Bad for You? Here's What the Science Says | Discover Magazine

Uma coisa que concordamos cem por cento com o pessoal vegan é que o leite industrializado é de péssima qualidade, além de ser subproduto da matança de animais.

Um vaqueiro de uma fazenda próxima à nossa, em Paraty, falou da seguinte maneira a um devoto que comentou que os animais estavam muito bonitos: “Tenho pena de quem vai comer a carne desses animais, pois três vezes por semana injetamos neles uma quantidade de veneno para vermes e carrapatos porque assim o couro fica lisinho e vale mais”.

Além desse aspecto mais físico, existe as implicações mais sutis. O leite industrializado é subproduto da matança de animais. Isso porque o valor que as cooperativas de leite pagam ao produtor é muito baixo, de modo que o preço final ao consumidor seja compatível ao bolso das classes menos favorecidas. Ninguém sobrevive comercialmente apenas com o leite. O lucro, então, vem de onde? Dos bezerros machos que são mandados para a engorda e, posteriormente, para o matadouro. Isso implica em que o leite industrializado carrega esse karma embutido nele.

Aliás, muitos alimentos hoje em dia são contaminados. O açúcar refinado é branqueado com produtos feitos de ossos de animais. Outro perigo vital é a gordura hidrogenada que é a responsável por inúmeros enfartes. A legislação contém normas para regular as cotas de venenos que são utilizados na agricultura, mas quem garante que isso é respeitado e qual órgão do governo pode controlar isso?

Pessoalmente conheci um produtor de tomate que disse que sua produção era pulverizada com venenos pelo menos sessenta vezes. O medo que ele tinha de perder a produção por causa de alguma praga era tanto que dava sua última pulverizada minutos antes da colheita. Poucas horas depois, seus tomates, muito grandes e bonitos, estavam nas prateleiras dos supermercados e hortifrútis. A salada feita com aqueles tomates foi temperada com azeite de oliva, agrotóxicos e fungicidas. A coisa ainda vai longe…

Muitos vegetais, principalmente em países do “primeiro mundo”, já têm incorporado em si genes animais para aumentarem de tamanho e terem aparência mais “saudável”. Outras experiências em progresso são ainda mais sinistras: células cancerígenas humanas, que têm a propriedade de se proliferarem de forma assustadora, são incorporadas nos vegetais para estes aumentarem o tamanho! Nessas alturas, as calorosas discussões sobre os transgênicos e seus efeitos futuros já estão caducando. Já são coisas do passado… Não temos aqui o intuito de ser alarmista, mas precisamos estar bem conscientes para não comprometermos nossos princípios e manter certo padrão de pureza, essencial para a manutenção da saúde.

Muitos devotos argumentam em favor de um relaxamento na questão da alimentação com base no que foi dito por Srila Prabhupada em diferentes ocasiões. Temos, contudo, que entender que essas afirmações foram feitas há mais de trinta anos, época em que a indústria alimentícia e os hábitos alimentares eram bem diferentes dos de agora. Também, muita coisa a que Srila Prabhupada se referiu teve como base o que se passava na Índia, e não a realidade do Ocidente. Devemos, portanto, considerar esse assunto baseado em nossa experiência presente e com o uso de toda a nossa capacidade de bom senso.

Srila Prabhupada anteviu a degradação da qualidade de vida nos grandes centros urbanos e propôs o estabelecimento de comunidades rurais. Sua ideia foi que as fazendas dos devotos produzissem alimentos puros para a comunidade urbana de devotos. É imperioso que os devotos se conscientizem desse fato e apoiem com energia as iniciativas nessa direção que vêm sendo feitas no Movimento Hare Krishna. Devotos que têm formação profissional ou vocação nata para a agricultura devem canalizar seus talentos para enriquecer a missão de Srila Prabhupada com essa contribuição.

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Devotos de Krishna trabalhando nas atividades rurais da comunidade Goura Vrindavana, em Paraty.

Por não estar na linha de frente da pregação, as atividades rurais do Movimento Hare Krishna são consideradas por muitos devotos como algo de segunda ou terceira classe. Mas que guerra pode ser ganha sem boa logística? Não podemos cair na antilógica da galinha dos ovos de ouro, que concentra o interesse no buraco onde sai os ovos e negligencia a parte de cima que tem que ser alimentada.

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2 Respostas

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  2. Olá, como sempre um excelene texto para reflexão, porém uma dúvida ou diria um tormento me acompanha: compro ração de gatos e de cachorros e estou sempre procurando algo que seja “diferente” para não ser mais um sócio da indústria assassina e gananciosa de alimentos, mas não tem jeito, pois todas as rações e produtos para esses animais têm sempre carne e outras coisas piores(os patês são verdadeiros filmes de horror) além do mais, eles precisam dessas proteínas( principalmente os gatos).segundo os veterinários. Os gatos necessitam de taurina; por acaso vcs sabem de algum produto que seja mais saudável e por enquanto está fora desse circo da indústria alimentícia? Grato por tudo.

    25 de fevereiro de 2017 às 12:41 AM

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