As Cinco Opiniões de Chaitanya Mahaprabhu
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Quem é o mais adorável? Qual a morada igualmente mais adorável? Quem são os melhores adoradores? Qual é a escritura imaculada? Qual a meta mais elevada da vida?
A missão do Senhor Chaitanya foi descrita por Visvanatha Chakravarti, um dos mestres espirituais em nossa linha. Ele estudou e disse que a missão do Senhor Chaitanya consiste no seguinte:
aradhyo bhagavan vrajesha-tanayas tad-dhama vrindavanam
ramya kachid-upasana vrajavadhu-vargena ya kalpita
srimad-bhagavatam pramanam-amalam prema pumartho mahan
sri chaitanya mahaprabhur-matam-idam tatradaro nah parah
“A forma mais adorável da Suprema Personalidade de Deus é Krishna, o filho do rei de Vraja, e Vrindavana é a morada mais adorável. A mais elevada e mais prazerosa forma de adoração a Krishna é aquela das vaqueirinhas de Vraja. A obra Srimad-bhagavatam é a autoridade imaculada. E o amor puro a Krishna é a meta última e mais elevada da vida. Eis as opiniões conclusivas do Senhor Chaitanya, pelas quais temos a mais alta estima”. (Chaitanya-matta-manjusha)
1. O Objeto Supremo de Adoração
Então, a filosofia de Chaitanya é aradhyo bhagavan vrajesha-tanayah. Vrajesha-tanayah é Krishna. Krishna apareceu como o filho do rei de Vraja, Vrindavana. Vrajesha significa “rei de Vraja”, e tanaya significa “filho”. Assim, a propagação, a substância, o ensinamento de Sri Chaitanya Mahaprabhu é que Krishna é o objeto mais adorável.
Nós adoramos a pessoa original, adi-purusham. Assim como todos nós somos pessoas, a nossa origem também é uma pessoa. Devemos sempre compreender que, a menos que meu antepassado seja uma pessoa, eu e outros descendentes não poderíamos ser pessoas. Assim, o pai original e supremo, ou Deus, ou Krishna, tem que ser uma pessoa, e não algo impessoal. Devemos sempre nos lembrar disso.
Ninguém é a fonte de Krishna, e Krishna é a fonte de todos.
Quando solicitado por Chaitanya Mahaprabhu, Ramananda Raya discursou sobre o assunto da posição de Krishna. Ele é Suprema Personalidade de Deus – a fonte de todas as encarnações e a causa de todas as causas. Há inumeráveis planetas Vaikuntha, inumeráveis encarnações e expansões do Senhor Supremo, bem como inumeráveis universos, e, de todas essas existências, o Supremo Senhor Krishna é a única fonte. Seu corpo transcendental é composto de eternidade, bem-aventurança e conhecimento, e é conhecido como o filho de Maharaja Nanda. Ele é pleno de seis opulências – toda riqueza, toda força, toda fama, toda beleza, todo conhecimento e toda renúncia. Na Brahma-samhita, confirma-se que Krishna é o Senhor Supremo, o Senhor de todos os senhores, e que Seu corpo transcendental é sac-chid-ananda. Ninguém é a fonte de Krishna, e Krishna é a fonte de todos. Ele é a causa suprema de todas as causas e um residente de Vrindavana. Ele é também muito atrativo, tal qual Cupido.
2. Sua Morada: Também Adorável
E assim como Ele é adorável, Seu local de aparecimento, Vrindavana, também é.
Na Brahma-samhita, a terra transcendental de Vrindavana é descrita como sendo sempre espiritual. Essa terra espiritual é povoada por deusas da fortuna que são conhecidas como gopis, ou vaqueirinhas. Elas são todas amadas de Krishna, e Krishna é o único amante de todas essas gopis. As árvores dessa terra são todas árvores-dos-desejos: você pode obter qualquer coisa que queira a partir de qualquer árvore. A terra é feita de pedras filosofais, e a água é néctar. Nessa terra, toda fala é canção, todo caminhar é dança, e a companhia constante é a flauta. Tudo é autoluminoso, exatamente como o Sol e a Lua neste mundo material. Nessa morada suprema, a morada de Krishna, há vacas surabhis que inundam a terra com leite. Visto que nem mesmo um instante ali é desperdiçado, não há passado, presente ou futuro.
Assim como Krishna é adorável, Vrindavana também é.
Uma expansão dessa Vrindavana está presente aqui na Terra, e devotos superiores adoram a Vrindavana terrestre como não-diferente da morada suprema. Ninguém pode apreciar Vrindavana sem ser altamente elevado em conhecimento espiritual, consciência de Krishna. Segundo a experiência ordinária, Vrindavana parece um lugar como qualquer outro, mas, aos olhos de devotos elevadíssimos, é tão boa quanto a Vrindavana original. Um grande acharya santo cantou: “Quando minha mente ficará limpa de toda sujeira para que eu possa ver Vrindavana como ela é? E quando serei capaz de compreender a literatura deixada pelos Seis Gosvamis de modo que eu possa compreender os passatempos transcendentais de Radha e Krishna?”. A forma humana de vida se destina à compreensão da terra transcendental de Vrindavana, e quem é afortunado deve cultivar o conhecimento referente a Vrindavana e seus residentes.
3. O Melhor Método de Adoração
E qual é o melhor método de adoração para Krishna? Ramya kachid upasana vraja-vadhu-vargena ya kalpita. O melhor método de adoração a Krishna foi exibido pelas gopis. Qual era o método delas? Elas não eram estudiosos muito eruditos ou vedantistas. Tampouco teosofistas ou especuladores mentais. Não. Eram mocinhas comuns de vila. E também não vinham de uma família real muito elevada ou de uma família brahmana, senão que eram vaqueirinhas. O método de adoração das gopis era que não conseguiam se esquecer de Krishna nem mesmo por um momento. Essa era a qualificação delas. Há muitos versos sobre a situação mental das gopis. Tentarei explicar a mentalidade delas, como amam Krishna.
O melhor método de adoração a Krishna foi exibido pelas gopis.
Krishna costumava levar Suas vacas para a floresta de modo que pudessem pastar. E as gopis, quando Krishna estava fora da vila, ficavam pensando: “Oh! Os pés de Krishna são tão macios, e Ele está caminhando descalço nas pedras e lascas de pedras, e estão machucando Seus pés. Oh! Como Ele deve estar sofrendo!”. Deste modo, pensam e sofrem. Assim, enquanto elas cozinhavam ou enquanto davam comida a seus filhos, estavam sempre pensando em Krishna. Essa era a qualificação delas. Apenas isso. Elas absorviam tanto seus pensamentos em Krishna que nem mesmo um só instante se passava sem consciência de Krishna.
As gopis pediam a Krishna: “Meu caro Krishna, muitíssimos yogis e muitíssimas personalidades santas vão para a floresta e meditam em Teus pés de lótus. Eles, no entanto, não conseguem se manter fixos. Embora meditem em Teus pés, pensam em outras coisas. Não são perfeitos. A meditação deles fracassa. No nosso caso, entretanto, Teus pés de lótus fixaram-se tão solidamente em nosso coração que ficamos pensando em Ti e não conseguimos cumprir nossos deveres familiares. Portanto, por favor, sai de nosso coração”. Essa era a oração delas. Isso é a consciência de Krishna ideal. Eis a instrução na Bhagavad-gita: man-mana bhava mad-bhakto mad-yaji mam namaskuru. Krishna diz: “Pensa sempre em Mim em tua mente”.
4. A Obra Imaculada
Qual é a fonte para se entender Krishna?
Vyasadeva, mesmo depois de ter escrito toda a literatura védica, não deu consigo satisfeito. Ele escreveu os quatro Vedas; então, escreveu os Puranas, suplementos dos Vedas, e, em seguida, o Vedanta-sutra, a última palavra em conhecimento védico. Apesar disso, não ficou satisfeito. Narada Muni, então, seu mestre espiritual, perguntou: “Por que experiencias insatisfação depois de teres escrito tantos livros, dando conhecimento à sociedade humana?”. Ele disse. “Sim, mestre, sei que escrevi muito. Contudo, não estou satisfeito. Não sei qual a razão para isso”.
O Srimad-Bhagavatam é uma obra imaculada, pois tem como único tema a devoção a Krishna.
“Você apresentou muitíssimas obras”, Narada Muni disse, “mas não há incessante glorificação à Suprema Personalidade de Deus”. O Mahabharata, por exemplo, é um grande épico, mas há política, sociologia, luta e muitas outras coisas, e, no meio, há um pouco das glórias de Deus, o Bhagavad-gita. Narada insinuou também: “Você está muitíssimo orgulhoso de ter escrito o Vedanta-sutra, mas não pense que Deus ficou satisfeito. Deus não está satisfeito porque você é um estudioso muito erudito. Deus está satisfeito com o amor das gopis. Elas não são filósofos – são garotas ordinárias de vila –, mas a devoção a Krishna que elas têm é incomparável”.
Narada Muni, então, disse: “Tens que escrever um livro simplesmente glorificando o Senhor Supremo. Nesse momento, ficarás satisfeito”. Sob a instrução de seu mestre espiritual, então, Vyasadeva fez sua última contribuição, em sua maturidade: o Srimad-Bhagavatam. Diante disso, os vaishnavas têm o Srimad-Bhagavatam como amalam. Amalam significa “sem contaminação”. Os demais Puranas lidam com karma, jnana, yoga. Portanto, são samalam, “com contaminação material”. O Srimad-Bhagavatam, em contrapartida, por lidar apenas com bhakti, é amalam. Bhakti é o que tem conexão direta com o Senhor Supremo e o devoto, e a operação é bhakti, o serviço.
5. A Meta Última da Vida
As pessoas, em geral, pensam que a liberação é a meta última da vida, a conquista completa. A liberação, porém, é algo muito insignificante na presença do serviço devocional. Portanto, o Srimad-Bhagavatam diz que dharma, artha, kama e moksha estão fora do seu estudo. Um devoto está acima do ponto de liberação. O serviço devocional é chamado de “a quinta meta da vida humana”. Sri Chaitanya Mahaprabhu deu sua opinião: prema pumartho mahan. Ele disse que o pumartha é prema, e não dharma.
Prema, o amor a Deus, é superior a moksha, a liberação do ciclo de nascimentos e mortes.
Esta é a versão védica: dharma para tornar as pessoas religiosas. Sem religião, não há possibilidade de paz e prosperidade. Depois do dharma, a condição econômica melhora. E por que se quer uma condição econômica melhor? Para kama, que significa que as necessidades da vida serão bem atendidas. E, então, o que vem por fim? Se você está pacífico na sociedade, você pode cultivar sua liberação. Assim, dharma, artha, kama e moksha são, em geral, as metas da sociedade humana. No entanto, Chaitanya Mahaprabhu diz: “Sim, tudo bem quanto a tudo isso, mas, com todas essas coisas, se não há amor a Deus, tudo perde o sentido”.
Chaitanya Mahaprabhu recomenda o amor a Deus, Krishna, como o maior sucesso da vida. Há um método prescrito pelos acharyas para isso. Aqui no templo, por exemplo, estamos praticando. Os ateístas dirão: “Eles são tão tolos que estão se dando a tanto trabalho para preparar o alimento e oferecê-lo em um ritual. Estão perdendo tempo. Seria melhor gastar o tempo indo a uma boate, desfrutando de vinho e jogando baralho”. Desperdiçarão seu tempo dessa maneira, e rirão de nós quando usarmos nosso tempo como usamos. Eles criticarão. Estão prontos para gastar seu tempo em um prostíbulo, porém, se alguém se senta educadamente em um templo para conversar sobre Krishna, para servir Krishna, eles rirão. Temos que ser insensíveis a essas críticas. Temos que ir em frente com nosso afazer, a consciência de Krishna. Isso é tudo.
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