O Universo de acordo com os Vedas: Os Sistemas Planetários Inferiores (Parte 3 de 3)
Chaitanya-chandra Dasa
Um lembrete aos moradores da Terra: Nada está tão ruim que não possa piorar.
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Planeta Terra, ou Bharata Varsha, um dos planetas no sistema intermediário. Este é um lugar onde os habitantes vivenciam uma mistura de condições dos planetas superiores e inferiores. Sentimos calor e também sentimos frio. Existe felicidade, mas também existe sofrimento. Existe bondade, mas também crueldade. Existe amor e existe ódio. Há paz, mas também há guerra. Este é um mundo de extremos, onde temos contato com o bom e o mau, um lugar de dualidade. Este é o lugar onde estamos agora.
No artigo anterior, exploramos o caminho que uma alma pode tomar quando ela entra pela primeira vez na esfera material. Podemos observar que esta viagem de descida é conectada com o quanto o sujeito se envolve com a matéria, uma associação que leva a ambições e desejos.
A alma é originalmente pura, mas, à medida que ela penetra cada vez mais fundo dentro da esfera material, ela se torna progressivamente mais envolvida com qualidades como luxúria, ira e ganância. Isso degrada sua consciência e faz com que desça cada vez mais baixo na sequência de diferentes sistemas planetários.
Isso continua até certo ponto, onde a pessoa entra novamente em contato com o conhecimento espiritual, seja através de um livro, um amigo ou um mestre espiritual, e decide começar seu caminho de volta, desta vez voltando para níveis mais elevados de consciência.
Nosso planeta é descrito nos Vedas como karma-kshetra, um lugar onde as almas que esgotam seu karma passado vêm para executar atividades e assim criar uma nova bagagem de karma que vai determinar seu próximo destino. Em outras palavras, este planeta é uma espécie de encruzilhada cósmica, e as decisões que tomamos aqui têm implicações duradouras.
Por ser um lugar onde temos uma vida difícil, onde precisamos trabalhar muito para qualquer pequena medida de sucesso material, este planeta é considerado um lugar ideal para cultivar conhecimento espiritual e seguir o caminho da autorrealização. Diferente dos planetas celestes, onde há muita distração, do planeta Terra a alma pode ir para qualquer outro planeta material (de svargaloka até brahmaloka, o planeta mais elevado do universo material), ou alcançar a liberação, voltando ao lar e reobtendo sua posição original nos planetas espirituais.
No entanto, há também um grande perigo: aqueles que usam mal a oportunidade se tornam mais e mais materialistas. Estes continuam o caminho para baixo, indo assim para os planetas inferiores, onde as pessoas vivem apenas atrás de confortos materiais, e há poucas oportunidades para a autorrealização.
Essa parte do universo é descrita no Srimad-Bhagavatam como um poço escuro porque, uma vez que alguém entre lá, é difícil sair. Os planetas inferiores são descritos como estando situados mais baixo do que a Terra na estrutura cósmica. Todos eles são reinos subterrâneos, onde a luz natural do Sol não entra. Os habitantes vivem no subsolo em uma noite perpétua, dependendo de diferentes arranjos de luzes artificiais.
Materialistas que são muito piedosos têm a oportunidade de nascer em Bila-Svarga, planetas inferiores com características celestiais, onde os habitantes vivem confortavelmente, rodeados de facilidades materiais, em cidades criadas pelo grande arquiteto Maya Danava.
Em termos de padrão de vida, os habitantes desses planetas não vivem de maneira muito diferente dos habitantes de Svargaloka. A principal diferença é que, em Svargaloka, os habitantes são conscientes de Deus e, portanto, têm a oportunidade de progredir para reinos mais elevados, seja diretamente ou após uma parada na Terra.
Os habitantes dos planetas celestes inferiores, no entanto, são ateus. A lei do karma não faz distinção entre as duas classes, e assim eles são capazes de desfrutar de um padrão de vida semelhante, desde que permaneçam piedosos. O problema é que, sem uma boa associação, eles tendem a perder gradualmente sua piedade, e assim afundar nos níveis mais baixos.
Materialistas menos piedosos nascem nos planetas inferiores intermediários. Esses são planetas avançados tecnologicamente. No entanto, diferente de planetas mais elevados, há muita ansiedade nesses lugares, com muita pressão e competição. Nem todos têm as mesmas oportunidades, e cada um luta para se manter acima do outro. É um padrão de vida semelhante à maneira como as pessoas vivem na maioria das grandes cidades hoje em dia.
Nestes reinos, os habitantes vivem vidas completamente artificiais, desconectados da natureza. Em alguns desses planetas, as pessoas são muito viciadas em sexo, e os que caem lá são explorados com esse propósito. Não é exatamente um bom lugar para ir, apesar das facilidades materiais.
Da mesma forma que existem passagens que conectam nosso planeta com os planetas celestes, há também caminhos que conectam nosso planeta com esses reinos inferiores. Isso permite que os habitantes desses locais visitem regularmente nosso planeta. No entanto, as interações de seres humanos com tais seres não são as mais positivas… Cheios de orgulho e um falso conceito de superioridade, esses seres veem os seres humanos como cobaias, uma raça inferior a explorar. Felizmente, forças cósmicas superiores limitam suas ações em nosso plano.
Materialistas que são ímpios, muito contaminados por qualidades inferiores, nascem nos planetas mais baixos. É aí que as coisas começam a ficar mais sombrias. Esses planetas oferecem um padrão de vida cada vez mais baixo, com mais ansiedade e menos paz de espírito. A mentalidade dos habitantes é progressivamente inferior, e mais luxúria, raiva e violência estão presentes. Os mais baixos desses planetas são lugares escuros onde cobras inteligentes gigantescas vivem em buracos. Invejosos e violentos, os habitantes desses locais vivem vidas perturbadas, onde as serpentes mais fracas temem as mais fortes e todos temem outros seres que aparecem regularmente para devorá-los. Às vezes, esses reptilianos conseguem visitar nosso planeta, e as experiências que seres humanos têm em suas mãos não são as mais agradáveis.
Finalmente, existem os planetas infernais, lugares para onde pessoas que cometem crimes graves vão especificamente para pagar pela violência que cometeram contra outros seres vivos.
Almas que chegam lá ouvem enquanto todas as suas transgressões são descritas por Yamaraja. Em seguida, elas são condenadas a diferentes níveis de punição de acordo com a gravidade de seus crimes. É descrito que aquele que rotineiramente mata animais, por exemplo, tem seu corpo perfurado pelos chifres e presas dos mesmos animais que matou, e aqueles que tinham vidas centradas em torno de relações sexuais promíscuas são forçados a abraçar formas de metal em brasa do sexo oposto. Pessoas que aprisionam e torturam animais são obrigadas a viver em cavernas onde são torturadas por seres infernais. Não é um lugar que gostaríamos de visitar.
Os planetas infernais estão no fundo do universo. A partir daí, não há mais para onde descer. Uma alma que atinge este nível tem, após ter pagado por seus crimes, a oportunidade de novamente nascer neste planeta Terra ou outro planeta intermediário, geralmente como uma planta ou animal (de acordo com seu nível de consciência) e, a partir daí, lentamente progredir no processo kármico evolutivo até ter novamente a oportunidade de nascer como um ser humano, uma posição onde novamente tem a escolha de subir ou descer.
Nascer como um ser humano no planeta Terra é considerado algo muito afortunado, porque aqui a pessoa tem a chance de conhecer um dos espiritualistas que propagam conhecimento transcendental e, assim, iniciar seu caminho de volta ao plano espiritual.
É fácil fazer as escolhas erradas e seguir o caminho do materialismo e da indulgência dos sentidos, em vez de seguir o caminho da autorrealização, já que isso exige disciplina. É por isso que a maioria das almas acaba ficando na esfera material por muito tempo, indo para cima e para baixo no ciclo do samsara.
É como investir dinheiro. Quem tem um certo capital pode investir sabiamente seu dinheiro e multiplicá-lo, fazendo as escolhas certas. Isso vai lhe trazer ainda mais dinheiro, que vai multiplicar suas oportunidades de investimento, até o ponto de ele se tornar um bilionário. No entanto, aquele que gasta seu dinheiro em uma vida decadente, acaba por gastar tudo. Ele pode então manter esse padrão de vida artificial por mais algum tempo, fazendo dívidas, mas, eventualmente, seu crédito vai secar e ele não terá alternativas além de trabalhar duro para pagar suas dívidas e, a partir daí, começar de novo a partir do zero.
Da mesma forma, em nossa vida atual, temos a escolha de cultivar conhecimento espiritual e autocontrole e assim criar um caminho brilhante para nós, traçando o caminho do desenvolvimento espiritual, que nos permitirá nascer nos planetas superiores ou atingir a liberação. A segunda opção é nos rendermos aos desejos carnais e abusarmos da oportunidade, criando um caminho que pode não ser tão agradável.
Essa é a beleza e o perigo da vida humana. Na Bhagavad-gita, é mencionado que “Aquilo que no início é como veneno mas no final é como néctar e que desperta para a autorrealização diz-se que é felicidade no modo da bondade.” O caminho do materialismo envolve gratificação instantânea dos sentidos e, portanto, é um caminho que é prazeroso no começo, mas doloroso a longo prazo. O caminho do progresso espiritual, por outro lado, envolve disciplina e autocontrole. Aquele que está estudando para passar em um exame e entrar em uma boa universidade, por exemplo, tem que renunciar a muitas coisas que ele de outra forma desejaria fazer e, em vez disso, passar dias e noites imerso em seus estudos. No entanto, isso permite que ele alcance uma posição muito melhor no futuro.
Da mesma forma, o caminho da autorrealização envolve trabalharmos em nossos maus hábitos, vícios e qualidades inferiores. Este, portanto, é um caminho que pode apresentar certos desafios no início, mas nos trará resultados sublimes no final.
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