O Universo de acordo com os Vedas: Os Sistemas Planetários Superiores (Parte 2 de 3)

Chaitanya-chandra Dasa

Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.

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Conforme explicado no vídeo anterior, o modelo do universo descrito nos Puranas, as partes da literatura védica que tratam de conhecimento espiritual, não descreve o universo que experimentamos com nossos sentidos, mas, sim, a forma como o universo é experimentado por seres superiores.

O modelo do universo descrito nos Puranas é focado em descrever os diferentes sistemas planetários, dando-nos um mapa dos diferentes recantos do cosmos e o padrão de consciência necessário para acessar cada um deles. Embora descritos como discos, esses diferentes sistemas planetários são mais como diferentes níveis de consciência aos quais alguém tem acesso de acordo com sua pureza e avanço em conhecimento espiritual.

Em outras palavras, os Vedas nos dão um mapa que nos ajuda a entender onde estamos e qual é o caminho para chegar ao destino desejado. O universo material é incrivelmente grande e complexo, e uma alma pode seguir inúmeros caminhos diferentes, transmigrando de um corpo a outro na roda do samsara.

Ao compreender este processo, podemos traçar um caminho mais brilhante para nós e também ajudar os outros. O segredo para entender esta explicação é não tentar relacionar esses locais diferentes com diferentes estrelas e galáxias, mas, sim, tentar entender os diferentes níveis de consciência dos habitantes de cada um.

Este processo de reencarnação é explicado na Bhagavad-gita. Não somos o corpo, nem a mente, mas, sim, uma partícula espiritual de consciência pura, que é independente do corpo. Assim como alguém pode trocar de roupa, abandonando roupas velhas ou rasgadas, a alma muda para outro corpo quando o atual fica muito velho ou deteriorado. Quando a alma abandona um corpo particular, chamamos isso de “morte”, e quando ela aceita um novo corpo, chamamos de “nascimento”. Este é um ciclo que está acontecendo há muito, muito tempo.

Os Vedas explicam que existem 8.400.000 formas de vida neste universo, entre as quais existem 400.000 espécies de vida inteligente, espalhadas por planetas diferentes. Diferente da definição científica moderna, que classifica as espécies de acordo com sua capacidade de gerar descendentes viáveis, as espécies descritas nos Vedas descrevem diferentes níveis de consciência. Um cachorro que vive em um planeta diferente pode ter um tipo diferente de corpo e, portanto, não ser capaz de acasalar com uma cadela da Terra, mas, ainda assim, eles são considerados uma espécie só de acordo com os Vedas, uma vez que têm o mesmo nível de consciência.

As almas transmigram entre estas diferentes espécies de vida de acordo com sua consciência, ações e desejos, dentro do ciclo de samsara. Mas quando esse ciclo começou? Quando termina? Como a alma espiritual entra neste universo material, e como ela pode sair? É explicado que toda alma tem um relacionamento eterno com Krishna, uma identidade espiritual que é eterna e inquebrável. Esta identidade é o verdadeiro ego, ou a verdadeira identidade da alma. Como a alma pode sair desta posição de bem-aventurança eterna e cair na luta perpétua deste mundo material é um mistério. No entanto, quando isso acontece, a jornada da alma dentro do reino material começa no oceano Karana, na fronteira entre o plano espiritual e a energia material.

Assim como para entrar em um país é preciso passar através de sua fronteira, da mesma forma o oceano Karana é uma fronteira entre as duas esferas, uma fronteira entre o espiritual e o material. O oceano Karana contém a soma de toda energia material, mas em um estado imanifesto. Uma maneira de ver isso é como um oceano, como descrito em linguagem poética. Outra é como uma nuvem, uma massa de matéria imanifesta que cobre parte do céu espiritual. Para criar os universos materiais, Krishna assume a forma de Maha-Vishnu, que Se deita no oceano Karana, criando os universos materiais e impregnando a energia material com as inúmeras almas que desejam tomar parte na criação material.

No oceano Karana, a alma ainda está em um estado quase puro e goza de um grau de bem-aventurança espiritual. No entanto, desejando variedade, a alma assume a cobertura do falso ego, que leva às designações materiais. Falso ego significa aceitar uma identidade que não é nossa posição espiritual original. Sob a influência do falso ego, a alma aceita diferentes identidades, como seres humanos, semideuses, animais e outras espécies. O falso ego leva às outras coberturas da alma: inteligência e mente (que formam o corpo sutil), os sentidos e finalmente o corpo grosseiro. Examinamos essas coberturas em um vídeo anterior.

O oceano Karana é o destino final para os seguidores da doutrina shunyavada (budistas), que o chamam de nirvana. Esse é um lugar onde se está livre da dualidade material, mas não se tem acesso às variedades do reino espiritual. As almas podem ficar lá por muito tempo, em perfeita paz, mas o desejo de variedade faz com que eventualmente caiam nos universos materiais. Descendo de um estado quase puro, a alma tem seu primeiro nascimento em Satyaloka (ou Brahmaloka), o planeta mais elevado dentro deste universo material. Lá, ela vive uma vida muito longa, cheia de conhecimento e livre de misérias. Na verdade, é descrito que o único sofrimento experimentado pelos habitantes de lá é a compaixão para com os habitantes dos planetas inferiores, que não têm o mesmo padrão de vida que eles.

Devido a isso, alguns desses habitantes nascem nos planetas inferiores como filósofos e mestres espirituais para compartilhar seus conhecimentos e assim ajudar outros a progredir no caminho espiritual. A questão é que, embora muito longa, a vida dos habitantes de Brahmaloka é limitada. O tempo passa para eles da mesma maneira que passa para nós. Quando chega a hora, eles precisam sair.

O problema é que sendo Brahmaloka o planeta mais elevado do universo, existem apenas duas possibilidades: voltar ao reino espiritual, ou descer, indo a algum dos planetas inferiores. As almas que se tornam mais enredadas com a matéria, pegam o segundo caminho, e assim nascem em um dos sistemas planetários superiores, situados diretamente abaixo de Brahmaloka: Tapoloka, Janaloka ou Maharloka.

Estes são sistemas planetários sutis onde almas piedosas vivem. Aqueles que são muito puros e atraídos pela prática da meditação, vivem nos dois primeiros, enquanto aqueles que são atraídos pela prática de disciplina e atos piedosos para o benefício dos outros vivem no terceiro. Novamente, a alma tem a escolha de subir ou descer. Aqueles que levam a sério a autorrealização podem atingir a liberação e voltar ao plano espiritual, ou mesmo nascer novamente em Brahmaloka. Porém, outros que se tornam ainda mais emaranhados com a matéria, caem nascendo em Svargaloka, os planetas celestiais.

Nestes planetas, as almas piedosas vivem em grande deleite, tendo a oportunidade de satisfazer seus desejos sensuais. As mulheres de lá são chamadas de apsaras, e são belas como anjos, com rara beleza e encantos femininos irresistíveis, enquanto os homens são extremamente fortes, inteligentes e belos. Sendo piedosas, as pessoas são inocentes e de boa índole. Há muito pouca raiva ou inveja por lá. Este sistema planetário combina muito bem com as descrições do paraíso que temos em outras escrituras.

Uma característica comum a todos os planetas superiores é que em todos eles os habitantes vivem um estilo de vida completamente natural, em harmonia com a natureza. Eles têm perfeições místicas que os permitem manipular a matéria livremente, e assim eles não precisam de máquinas. Eles podem até viajar pelo espaço usando suas vimanas, e construir palácios inteiros apenas por seu mero desejo. Sua visão das diferentes máquinas que usamos em nossa era moderna não é muito mais positiva do que a visão que temos das máquinas antiquadas, incômodas e sujas que pessoas usavam no século 19.

Cada um dos planetas celestes em Svargaloka é presidido por um semideus específico. Esses são seres empoderados, que têm controle sobre as forças da natureza e executam tarefas relacionadas com a manutenção do universo. Eles são como ministros que cuidam dos assuntos universais, bem como mantêm os habitantes de seus próprios planetas. O problema com Svargaloka é que, devido à oportunidade praticamente ilimitada para gratificação dos sentidos, a maioria usa seu tempo por lá para simplesmente desfrutar de deleites celestiais, em vez de seguir o caminho da autorrealização.

Portanto, depois de uma longa vida (10.000 anos celestiais, ou 3.600.000 anos de nosso tempo), a alma cai novamente. Aqueles que têm um resquício de crédito piedoso, recebem um último nascimento em condições celestiais em um dos reinos terrenos de Bhu-mandala (ou Bhu-loka). Lá, os habitantes têm corpos grosseiros (quase como nós), mas eles ainda gozam de um padrão de vida bastante confortável. Esses locais celestiais são como resorts de férias, onde os que estão caindo de reinos superiores, ou que realizaram atos piedosos no passado podem permanecer por algum tempo para satisfazer seus desejos materiais restantes. Em vez de dólares ou euros, a estadia lá é paga pelo bom karma da pessoa. No entanto, assim como é preciso sair de um resort quando o dinheiro acaba, é preciso sair desses locais celestiais quando os créditos piedosos passados se esgotam.

Tendo completamente esgotado seus créditos piedosos, a alma tem seu próximo nascimento neste plano terreno. É descrito que as almas caem neste plano com a chuva. Elas são então transferidos para diferentes plantas que produzem grãos. Abrigando-se nesses grãos, a alma é transferida para o sêmen de um homem, e finalmente a um feto quando há concepção. Este é o lugar onde estamos agora.

Na terceira parte continuaremos nossa exploração do universo védico, explorando a vida nos planetas inferiores e como uma alma pode fazer seu caminho de volta, desta vez no caminho ascendente, de volta para os sistemas planetários superiores, ou alcançar a liberação, voltando para a esfera espiritual.

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