Por que a Religião Parece Dispensável?
Chaitanya-charana Dasa
“Hoje, a religião é algo útil para casamentos e funerais, mas, no resto, dispensável.” (Christopher Lasch, crítico cultural)
Na atualidade, a questão de propósito último não ocupa a mente da maioria das pessoas. E quando a religião se divorcia de questões desse tipo, ela se degenera a um conjunto de rituais que são seguidos por consideração à cultura ou à tradição. Consequentemente, se restringe a ocasiões marcadas por algum rito de passagem significativo. Além dessa utilidade cosmética, a religião deixa de ter qualquer propósito essencial na vida das pessoas preocupadas apenas com questões do aqui e agora.
O problema em relação a reduzir a religião a rituais é que os rituais em si logo se tornam dispensáveis também, quando o fim cosmético pode ser suprido por outra coisa – algum outro conjunto de rituais que pode ser não-religioso ou secular. Com o tempo, a cultura de massa desce do materialismo religioso para o materialismo ateu em uma queda desimpedida que muda radicalmente toda a aparência e estrutura da sociedade.
Se temos a intenção de reverter essa queda, meramente lamentar a perda da cultura, da moral e da tradição não ajudará muito. Precisamos enfatizar o propósito espiritual da religião. As pessoas precisam apreciar as práticas religiosas como práticas que objetivam canalizar nossa consciência deste mundo, com suas muitas preocupações mundanas, para um mundo superior, onde abundam paz e prazer.
É claro que, no ethos intelectual de hoje, a maior parte das pessoas descarta semelhante ideia de um mundo superior, vendo isso como mera fantasia pré-científica, apesar do que essas mesmas pessoas anseiam pela criação desse mundo de controle e prazer por meio da tecnologia. Com efeito, pessoas materialistas se empolgam imensamente diante do prospecto de um paraíso tecnológico e veem cada nova invenção como um precursor para a efetuação desse paraíso high-tech.
Se as pessoas querem ver através da neblina intelectual que envolve sua consciência, precisam penetrar a educação filosófica como um complemento indispensável para a prática religiosa. Mediante essa educação, a possibilidade lógica de um nível superior de realidade se torna inteligível. Somente então as pessoas se abrirão o bastante para ver as práticas religiosas como caminhos essenciais, indispensáveis, para uma realidade maior.
A sabedoria da Bhagavad-gita nos fornece uma visão espiritual coerente da realidade, onde nos entendemos como partes eternas de um Todo, Deus, o todo-atrativo. Nossa vida neste nível cotidiano se destina a ser uma preparação para encontrarmos realização pessoal em um nível superior de realidade através de uma conexão de amor que é sustentável e permeada de êxtase – e eternamente. Quando filosofia e religião se unem no sumário de sabedoria da Bhagavad-gita, ganhamos acesso a um processo profundamente transformacional que nos permite encontrar um nível mais íntimo, profundo e rico de estabilidade e serenidade. Alcançar essa realidade, a Bhagavad-gita explica, é o objetivo último da vida.
Sem dúvidas, é bom que a religião seja valorizada ao menos em ocasiões como casamentos e funerais. Contudo, esse valor precisa ser explicado, e expandido a todas as outras fases da vida – mais que isso, precisa estar presente a cada instante da vida, conferindo a toda a nossa existência um propósito sublime e sagrado.
De uma perspectiva filosófica apropriada, quando a religião é praticada como um meio para espiritualizarmos a nossa consciência, ela cumpre um propósito que não é cosmético, mas cósmico; isto é, ela pode ajudar a cumprir o propósito por trás do imenso cosmo.
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