Renúncia Não É um Sinal de Frustração?

20 I (artigo - Renúncia e Celibato) Renúncia N¦o É um Sinal de Frustraç¦o (800) (sankirtana)Chaitanya Charana Dasa

Mongezinho: feliz ou frustrado?

A renúncia não indica uma carência da vontade de continuar lutando em meio à frustração?

Primeiramente, precisamos reconhecer que a visão material e a visão espiritual não enxergam da mesma maneira, como confirma o Bhagavad-gita (2.69).

Para os materialistas, a jornada da vida tem apenas um caminho: o caminho do desfrute material. A vida não tem nenhum propósito mais elevado do que os prazeres materiais. Então, para eles, a renúncia, ou o abandono da busca pelo desfrute material, implica uma cessão do progresso na jornada da vida, uma estagnação que reduz a vida a um vazio despropositado.

Para os espiritualistas, no entanto, a jornada da vida tem dois caminhos distintos: o caminho do desfrute material e o caminho da realização espiritual. Cada momento traz consigo o desafio de escolher entre esses dois caminhos. O caminho do desfrute material é um beco sem saída, porque tudo o que é material e que tenhamos conquistado se perderá com a morte.

O caminho da realização espiritual conduz ao destino de nome “eternidade”, onde tudo o que é espiritual e que foi conquistado é conservado além da morte e acumulado para ajudar o indivíduo a obter uma vida eterna de amor com Krishna. Perceber o destino a longo prazo de ambos os caminhos deixa clara a tolice do caminho material e a glória do caminho espiritual. Entretanto, essa percepção de longo prazo perde-se frequentemente em meio às percepções normais que dominam a vida diária. Na percepção normal, o caminho material parece atraente e fascinante em razão da promessa de desfrute material, ao passo que o caminho espiritual parece proibitivo devido à necessidade de abandonar o desfrute material. Essa percepção normal frequentemente leva até mesmo os espiritualistas para o caminho da vida material, fazendo, desse modo, que seu progresso no caminho espiritual seja irregular e esporádico.

Quando uma promessa de desfrute material é frustrada, os espiritualistas veem nessa frustração uma preciosa oportunidade: a oportunidade de usar essa experiência específica para vivenciarem a declaração escritural genérica de que todo desfrute material termina em miséria (Bhagavad-gita 5.22). Eles embolsam a frustração – “Não obtive o prazer” – e se enriquecem com a renúncia resultante: “Não quero esse prazer; tenho coisas melhores para fazer com minha vida”. Assim, a frustração no caminho material da vida inspira-os e acelera seu progresso no caminho da espiritual da vida.

Quando vivemos como materialistas, afastados do caminho espiritual, simplesmente não somos capazes de compreender a mentalidade daqueles que não mais estão interessados em progredir no caminho material. Em consequência disso, a unidimensionalidade de nossa visão nos faz tachá-los convenientemente de “escapistas” ou “fracos”. Infelizmente, no entanto, nossa visão unidimensional não pode nos resgatar quando somos nós mesmos que somos vitimados pelas frustrações inevitáveis no caminho material. Talvez até mesmo entremos em desespero – “Não sirvo para nada”, “como as pessoas são ruins!”, “o mundo não está prestando” – e busquemos consolo em entregas autoderrotantes, como o uso de álcool ou outras drogas.

Se tivermos a fortuna de nos abrirmos à sabedoria do Bhagavad-gita, veremos que esse desespero é desnecessário e evitável. Também pode usar os reveses da vida como aprendizados para nos redirecionarmos para o caminho espiritual. Se pudermos reunir força de vontade e coragem para, destarte, mudar o compasso de nossa vida, ficaremos surpresos ao descobrirmos que muitos de nossos temores em relação ao caminho espiritual eram infundados. Por exemplo, talvez tenhamos ficado reféns da noção esteriotipada de que a vida no caminho espiritual exige que o sujeito abandone todos os prazeres materiais. Porém, ficaremos aliviados, e até mesmo jubilosos, em descobrir que muitos dos prazeres da vida podem ser melhor desfrutados no caminho espiritual do bhakti-yoga do que no caminho material: comida, música, livros, amigos e relacionamentos, por exemplo.

É claro, o bhakti-yoga de fato nos pede a evitação dos prazeres imorais de comer carne, dar-se a jogos de azar, intoxicar-se e fazer sexo ilícito, pois tais coisas nos aprisionam no caminho material e nos cegam para o caminho espiritual. Todavia, quando obtemos até mesmo os primeiros vislumbres de sabedoria e vivência espirituais, começamos a compreender que esses prazeres não são fontes de satisfação, mas de agitação. Com a prática do bhakti-yoga, logo experienciamos que somos muito mais felizes abandonando esses prazeres, ou dito prazeres, do que éramos quando nos cedíamos aos mesmos. Uma vez que essa renúncia desperta em nosso coração, então, trilhar o caminho espiritual se torna mais fácil e mais rápido.

Nós, por conseguinte, compreendemos através de nossa experiência pessoal que renúncia, longe de ser uma deplorável falta de vontade para lutar pelos prazeres materiais da vida, é uma presença louvável da sabedoria e promove a percepção e a busca dos prazeres mais elevados e nobres da vida.

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