Pensando Fora da Caixa: O Empreendedorismo Devocional do Paraíso dos Pandavas
Entrevista com Giridhari Dasa
Volta ao Supremo conversou com Giridhari Dasa, a inteligência por trás do bem-sucedido yoga-resort vaishnava na Chapada dos Veadeiros.
Volta ao Supremo: Por que e quando decidiu empreender?
Giridhari Dasa: Foi uma decisão natural. Meu mestre espiritual, Srila Hridayananda Dasa Goswami pediu para eu estabelecer um projeto consciente de Krishna em Alto Paraíso. Não tinha outro jeito senão usar meus recursos pessoais. Não foi um projeto de uma grande comunidade, já estabelecida, que pudesse aos poucos arrecadar o dinheiro necessário, tampouco existem meios de obter recursos vultosos de outras fontes em nossa instituição atualmente.
Volta ao Supremo: Por que escolheu esse ramo de yoga-resort?
Giridhari Dasa: Não escolhi… surgiu! O processo foi orgânico, com várias ideias sendo lançadas a Krishna e Ele direcionando o projeto na direção que tomou. Comecei pensando em fazer uma simples pousada. Depois pensei em fazer uma comunidade ecumênica. Aí surgiu a ideia de um ashrama com retiros espirituais. Introduzimos, então, yoga nos retiros. Aos poucos, vimos que isso era um atrativo importante e complementava bem nossa proposta. Em 2009, já estávamos com este modelo bem definido, de usar yoga-asanas para complementar o pacote já existente de caminhadas na natureza, banho de cachoeira e toda a programação de krishna-bhakti: prasada, japa, kirtana e palestras. Deu certo e está sendo um sucesso crescente. Em 2013, decidimos ficar abertos o ano inteiro para aumentar o fluxo de pessoas se beneficiando do local. Como tem toda a programação especial todos os dias, incluindo aula de yoga, usamos o termo “yoga-resort”, e não apenas “pousada”.
Giridhari Dasa
Volta ao Supremo: O lucro tem algum destino específico em consciência de Krishna?
Giridhari Dasa: O lucro é usado para expandir o projeto e nosso uso pessoal, como qualquer empresário faz. A diferença é que, quando o empresário é um devoto, tudo o que ele faz, faz parte de sua vida espiritual, de sua prática da consciência de Krishna.
Volta ao Supremo: Seu mestre espiritual ou algum líder da ISKCON já comentou algo sobre seu trabalho?
Giridhari Dasa: Sim, vários. Meu mestre espiritual está muito feliz com o trabalho. Outros líderes também gostam muito do que fazemos aqui.
Volta ao Supremo: Qual a sua maior realização no Paraíso dos Pandavas?
Giridhari Dasa: Que Krishna é o Supremo Controlador. Ele que direciona tudo e nós apenas temos a chance de tentar aprender e evoluir com aquilo que Ele nos traz. Podemos lidar bem com o que Ele nos dá e evoluir e “desfrutar” na boa consciência, ou podemos “pisar na bola”, sofrer e perder Suas bênçãos.
Volta ao Supremo: Como é a relação com os hóspedes? Alguma história bacana?
Giridhari Dasa: São inúmeras histórias de profunda transformação. É altamente gratificante. Muitos se tornam vegetarianos, outros param de fumar e ainda outros venceram traumas antigos. E, claro, alguns adentram o caminho da consciência de Krishna seriamente depois de apenas alguns dias aqui. Todos, de qualquer forma, recebem um contato com Krishna e Prabhupada, uma bhakti-lata-bija [a semente da trepadeira da devoção], que certamente frutificará no futuro, no momento certo.
Turma de um retiro de yoga no Paraíso dos Pandavas.
Volta ao Supremo: Essa é a principal contribuição do projeto para as pessoas, certo?
Giridhari Dasa: As pessoas precisam de paz, precisam de uma oportunidade para crescer espiritualmente e de um oásis neste mundo turbulento e muitas vezes dolorido. É isso que estamos oferecendo aqui. Oferecemos desde a simples paz ao caminho da iluminação em krishna-bhakti. Cada um leva consigo o que pode naquele momento.
Volta ao Supremo: Por que diz que acha muito importante este tipo de iniciativa e até mesmo que acha que é a única com possibilidade de verdadeiro sucesso hoje em dia?
Giridhari Dasa: No passado, o Movimento tinha outra “economia”. Eram grandes ashramas, cada um com dezenas ou até centenas de monges e monjas, que podiam passar o dia arrecadando recursos com a venda de livros nas ruas. Eles viviam de forma simples e não tiravam ganho algum, exceto sua moradia e comida. Junta-se isso a um período onde as pessoas estavam bem abertas a serem abordadas na rua ou no ônibus, e o resultado prático é muitas vendas, muitos recursos arrecadados e mais monges e monjas para continuar o trabalho. Com um pouco de inteligência e organização, torna-se possível construir templos e manter as luzes acesas assim. Porém, essa época já se foi. Agora é raríssimo alguém estar disposto a largar tudo e viver como monge ou monja. O mercado é muitíssimo competitivo e os jovens sentem a pressão para trabalhar e buscar sua ascensão na sociedade – não querem “ficar para trás”. As ruas também já deixaram a tempos de ser um palco de expressão cultural, como foi nas décadas de 70 e 80, e agora são vistas como um lugar sujo e perigoso. Resultado: não é mais possível lucrar dezenas de milhares de reais por mês com vendas de livros na rua, pelo menos aqui no Brasil, então os projetos que não têm uma fonte de renda de algum negócio precisam recorrer a doações para ficarem abertos. Em países como os EUA e países da Europa, o que dizer da Índia, onde a congregação de pessoas com hábito cultural de doar é grande, isso é possível e os templos permanecem abertos e com opulenta adoração à Deidade. Contudo, mesmo isso tem seu lado ruim, que é a cultura de ficar dependendo da congregação. Como diz o ditado: “A lei de ouro é que aquele que tem o ouro dita a lei”. Pior ainda é que a dependência de doações costuma tirar o ímpeto de pregar e dar às pessoas a oportunidade de conhecer Krishna. E, no Brasil, a situação é ainda mais crítica, pois não há esta cultura de doar, tampouco as congregações são grandes o suficiente. O resultado é que praticamente tornou-se inviável o modelo antigo de templo e isso apenas para manter o que já existia, com uma congregação já existente! O que dizer, então, de iniciar algo do zero. Então, vejo que o único modelo sustentável hoje é o modelo daquilo que chamamos de “empresa missionária”.
“Desperdiçamos o talento de tantos devotos, que dedicam suas vidas a esta ou aquela empresa”.
O conceito é que podemos priorizar o esforço missionário, acomodando-o a uma estrutura e modelo empresarial. O modelo empresarial garante que as pessoas que investem e trabalham no projeto vão ter suas garantias e sua recompensa, e o projeto em si terá seu sustento e expansão de acordo com seu grau de sucesso. No modelo de “empresa missionária”, os envolvidos ganham seus salários, então não têm que pensar em “largar tudo” para dedicar suas vidas ao Movimento. O projeto não precisa pedir doação porque vende um produto ou serviço com lucro. Os “clientes” da empresa missionária são diretamente o público alvo que está sendo beneficiado com a oportunidade de ter contato com a consciência de Krishna e, ao mesmo tempo, já retribuem, pois ajudam o projeto por serem clientes. Ou seja, todos saem ganhando!
No meio urbano, a melhor opção é montar um restaurante ou lanchonete de prasada. Existe também a ideia de montar um estúdio de yoga ou uma combinação de yoga com restaurante. No meio rural, o projeto de um yoga-resort é o mais recomendável.
O ponto é que esses espaços: (1) priorizem eventos e cursos sobre a consciência de Krishna, a venda dos livros da consciência de Krishna e outros meios de ajudarem as pessoas a se abrigarem em Krishna e Prabhupada e (2) ofereçam a chance para devotos sérios dedicarem suas vidas ao trabalho missionário em tempo integral, sem por isso abrir mão de poderem oferecer uma vida digna para suas famílias ou colocar seu futuro financeiro em risco.
Volta ao Supremo: Alguma última colocação?
Giridhari Dasa: Este conceito de empresa missionária é muito importante. Desperdiçamos o talento de tantos devotos, que dedicam suas vidas a esta ou aquela empresa – devotos e devotas que poderiam estar se dedicando à missão de Prabhupada sem abrir mão dos confortos e estilo de vida que querem.
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