Asteya: Um Convite à Honestidade

Chandramukha Swami
(Da obra Yoga Como Estilo de Vida)

Mais do que não roubar posses, o princípio de asteya nos convida a respeitarmos tudo que é do outro, como sua criatividade, opinião e crenças, bem como reconhecer quem é o proprietário último de todas as coisas.

O vocábulo sânscrito “asteya” é formado por dois elementos: “a”, que é um prefixo negativo, e “steya”, cuja raiz etimológica pode ser rastreada até chegarmos ao verbo “sta”, que significa “roubar” ou “apropriar-se indevidamente”. A forma “steya”, portanto, é derivada da conjugação e formação gramatical adequada desse verbo na língua sânscrita e denota qualquer ação de roubar, tomar posse ou se apropriar injustamente de algo que pertence a outrem. Ao adicionar o prefixo negativo “a” à palavra “steya”, temos “asteya”, que expressa a ausência ou a não prática do roubo ou da apropriação indevida. Portanto, asteya pode ser traduzido como “não desonestidade” ou “não apropriação indevida de alguma propriedade alheia” – termo frequentemente utilizado nos contextos da filosofia do yoga, especialmente dentro do sistema de valores do dharma. É, portanto, um dos princípios que orientam a conduta moral do praticante de yoga. É um conceito que, além de evitar o roubo físico, se estende para outras áreas da vida, convidando o yogi a uma vida de honestidade, integridade e respeito pelos outros em relação à propriedade alheia. Isso implica não apenas não se apropriar indevidamente de bens ou dinheiro, mas também das ideias, do tempo, da energia de outras pessoas, bem como não explorar ou tirar vantagem dos outros de forma injusta ou desonesta, reconhecendo e respeitando o trabalho e as contribuições dos outros, evitando a inveja, a competição desleal ou qualquer forma indevida de furtar algum tipo de reconhecimento ou sucesso.

A prática de asteya vai além de simplesmente evitar roubar objetos materiais; ela envolve cultivar um senso de equilíbrio, generosidade e respeito pelos direitos dos outros. Isso cria um ambiente de confiança, cooperação e justiça nas interações humanas, contribuindo para relacionamentos mais saudáveis e uma sociedade mais justa e harmoniosa em todos os níveis.

Asteya cria um ambiente de confiança, contribuindo para relacionamentos mais saudáveis e uma sociedade mais harmoniosa.

Asteya começa com a consciência de que tudo no universo está interconectado e interdependente. Através de asteya, o yogi reconhece que cada ser possui seus próprios direitos e dignidade, e ninguém deve ser privado do que lhe pertence por direito. Isso significa também respeitar a originalidade e a criatividade alheia, reconhecendo e dando crédito adequado ao trabalho dos outros.

Além disso, asteya se estende para além do aspecto material, abrangendo questões mais sutis da vida, como não roubar a alegria ou a energia dos outros. Isso implica em promover a felicidade e o bem-estar dos outros, em vez de nutrir inveja ou ressentimento. Cultivar atitude de contentamento e gratidão, em vez de cair na armadilha da comparação, é fundamental para isso. Também envolve respeitar os próprios limites pessoais, administrando recursos como tempo, energia e dinheiro com responsabilidade e sabedoria. É uma prática ética que convida todas as pessoas a evitar a ganância, a cobiça e a exploração, ao mesmo tempo em que promove a generosidade e o compartilhamento equânime com os outros.

Ao cultivar asteya, o yogi experimenta integridade, equilíbrio e harmonia em sua vida e contribui para relacionamentos saudáveis e uma sociedade justa e compassiva. Respeitar o espaço pessoal dos outros, agir conscientemente em relação aos recursos naturais e evitar desperdício são partes essenciais dessa prática, visando a sustentabilidade e o respeito pelo meio-ambiente.

Na convivência humana, asteya tem a ver também com o respeito, a autonomia e a liberdade de expressão de cada indivíduo. Isso significa valorizar as opiniões e perspectivas alheias, sem tentar silenciá-las ou diminuí-las. Asteya abrange o respeito pelo conhecimento e sabedoria dos outros, evitando a apropriação indevida de ideias ou experiências, e não prejudicando a paz interior dos outros com comportamentos inadequados, como provocação ou violência verbal.

Asteya também envolve não impor opiniões ou tentar controlar o comportamento dos outros.

Cultivar empatia e compaixão nas interações interpessoais é fundamental, evitando ações que causem danos à saúde ou bem-estar dos outros, e respeitando seu tempo e atenção. Isso significa estar presente e não se distrair com coisas desnecessárias durante conversas ou compromissos.

Respeitar as crenças religiosas e espirituais das pessoas é outra faceta importante de asteya. Em vez de menosprezar ou ridicularizar suas práticas ou visões de mundo, devemos promover a tolerância e a compreensão. Asteya também envolve não impor opiniões ou tentar controlar o comportamento dos outros, permitindo que cada um siga o caminho que escolher.

Integridade e honestidade são valores centrais de asteya, mantendo a confiança mútua nos relacionamentos e evitando comportamentos enganosos ou traições. Tratar todas as pessoas com dignidade e respeito, independentemente de sua origem ou características pessoais, é essencial, assim como evitar discriminação ou preconceito.

Por trás do conceito de asteya, há uma base filosófica profundamente enraizada, que convida o yogi a promover a convivência mais justa e compassiva, onde o respeito mútuo e a integridade são pilares fundamentais.

Há um verso da escritura védica Isha Upanishad que encapsula a essência da mensagem de asteya, pois destaca a ideia de que tudo no universo é uma manifestação do Senhor (Isha) e, portanto, deve ser tratado com reverência e respeito. É preciso tal compreensão para entendermos a importância do desapego e da não cobiça pelas riquezas alheias. É um convite à moderação, gratidão e desapego em relação aos bens materiais. O verso diz o seguinte:

ishavasyam idam sarvam
yat kinca jagatya
m jagat
tena tyaktena bhunjitha
ma gridhah kasya svid dhanam

“O Senhor controla e possui todas as coisas animadas e inanimadas que estão dentro do universo. Portanto, todos devem aceitar apenas as coisas que lhes são necessárias, que foram reservadas como sua cota, e ninguém deve aceitar outras coisas, sabendo bem a quem pertencem.” (Isha Upanishad, mantra 1)

Este verso ensina princípios fundamentais de gratidão, aceitação e desapego em relação aos bens materiais. Ele sugere que tudo no universo é uma manifestação do Senhor e que devemos aceitar e valorizar o que nos é dado, em vez de cobiçar ou desejar o que pertence a outros. Essa atitude de aceitação e desapego é vista como um caminho para a verdadeira realização e liberação espiritual. Trata-se de uma mensagem que introduz a ideia de que o universo e tudo o que nele existe são partes do domínio do Senhor. Isto é, cada elemento e entidade no mundo tem uma conexão com uma força ou entidade superior, o que implica uma visão de mundo em que a divindade é onipresente e onipotente, exercendo uma influência sobre todos os aspectos da realidade. Desse modo, devemos aceitar o que nos é designado ou alocado pela vontade do Senhor. Com isso em mente, devemos ter atitude de aceitação e gratidão em relação às circunstâncias e recursos que recebemos da Providência. De fato, tudo o que experimentamos no mundo – sejam pessoas, objetos, natureza ou eventos – fazem parte deste universo interconectado. Desse modo, não faz sentido algum cobiçarmos ou invejarmos coisas que não nos foram destinadas, até porque, em última análise, ninguém é proprietário de absolutamente nada, nem sequer de seu próprio corpo. É uma mensagem que nos faz meditar na vastidão e na diversidade de um mundo governado por uma inteligência superior, chamada de “Isha”, ou Senhor. Isso nos leva a entender que a ordem e a harmonia do universo não são acidentais, mas fazem parte de um plano divino.

Esta mensagem da Isha Upanishad também sugere que cada indivíduo recebe uma “cota” específica de recursos, talentos e circunstâncias de acordo com seu próprio karma e com a vontade divina. Aceitar essa cota, seja ela qual for, com sentimento de gratidão, é a melhor forma de permanecermos em paz com quem somos e com o que temos, focando sempre em nosso próprio caminho e jornada espiritual. É uma mensagem que nos lembra que a cobiça por coisas que não nos pertencem certamente nos levará a insatisfação, conflito e sofrimento, ao passo que, estando livres da ganância, viveremos com equilíbrio e sabedoria.

Segundo a Bhagavad-gita, o mundo e seus recursos são uma dádiva divina.

O capítulo três da Bhagavad-gita revela que existem os devas, ou semideuses, que são encarregados de administrar os assuntos materiais, fornecendo ar, luz, água e todas as outras bênçãos para a manutenção dos seres vivos. Na verdade, esses devas, tais como Surya, Indra, Candra, Varuna etc., são assistentes da Pessoa Suprema. Quando um ser vivo, estando alinhado ao dharma, cumpre seus deveres, tais devas ficam satisfeitos e fazem os devidos arranjos para que não haja nenhuma espécie de escassez para essa pessoa. Segundo a Bhagavad-gita, portanto, o mundo e seus recursos são uma dádiva divina. Desse modo, temos duas opções: usar esses recursos com responsabilidade e gratidão ou, agido como ladrões hedonistas, desfrutar de tudo.

ishtan bhogan hi vo deva
dasyante yajna-bhavitah
tair dattan apradayaibhyo
yo bhu
nkte stena eva ash

“Cuidando das várias necessidades da vida, os semideuses, estando satisfeitos com o cumprimento dos deveres da humanidade, suprirão todas as suas necessidades. Mas quem desfruta das dádivas naturais sem reconhecimento da bondade do Senhor é certamente um ladrão.” (Bg. 3.12)

Como os devas são encarregados pelo Senhor para agirem em Seu nome, eles são considerados como partes do Seu corpo universal. Por isso, não há necessidade de eles serem adorados separadamente.

Em outras palavras, quando o Senhor é adorado e satisfeito, os devas, como diferentes membros do Senhor, são também automaticamente adorados e satisfeitos. A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada explica melhor esse ponto:

“Devemos saber que, como agentes do Senhor, os devas suprem todas as necessidades da vida que a sociedade humana precisa. Ninguém pode fabricar nada. Tomemos, por exemplo, todos os alimentos da sociedade humana. Entre estes alimentos estão incluídos os cereais, as frutas, os legumes, o leite, o açúcar etc., para as pessoas no modo da bondade, e também a carne, para os não-vegetarianos, mas nenhum deles pode ser manufaturado pelo homem. Tomemos como exemplo o calor, a luz, a água, o ar etc., que também são necessidades da vida, e veremos que nenhum deles pode ser manufaturado pela sociedade humana. Sem o Senhor Supremo, não haverá abundância de luz solar, luar, chuva, brisa etc., sem os quais ninguém pode viver. É óbvio que nossa vida depende das substâncias fornecidas pelo Senhor. Mesmo para nossas empresas manufatureiras, precisamos de tantas matérias-primas, tais como metal, enxofre, mercúrio, manganês e vários outros itens essenciais — todos fornecidos pelos agentes do Senhor, com o propósito de que façamos uso apropriado, e nos mantenhamos em boa forma e saudáveis, propiciando a autorrealização. Isso nos levará à meta última da vida, que é libertarmo-nos da luta pela existência material. Esse objetivo na vida é alcançado pela execução de yajnas. Se esquecermos o propósito da vida humana e meramente passarmos a utilizar tudo aquilo que recebemos dos agentes do Senhor no prazer dos sentidos, ficaremos cada vez mais enredados na existência material, o que não é a finalidade da criação, e certamente nos tornaremos ladrões, e então seremos punidos pelas leis da natureza material. Uma sociedade de ladrões nunca pode ser feliz, porque ela não tem objetivo na vida. Os ladrões materialistas grosseiros não têm uma meta final na vida.” (Bg. 3.12, significado)

Por tudo isso, o verso supracitado da Isha Upanishad enfatiza a importância de evitar o desejo excessivo por coisas que não são designadas para nós. Em vez disso, devemos buscar a paz interior e a conexão espiritual com o Divino. Em resumo, a mensagem é de humildade, aceitação e harmonia com a ordem cósmica. É uma afirmação que nos lembra da totalidade e da abrangência do universo, sendo que cada elemento do mundo – grande ou pequeno, visível ou invisível – está interligado em um tecido complexo de existência. De fato, o universo não é uma coleção aleatória de eventos e objetos, mas é uma manifestação da vontade divina que confere ordem e propósito a tudo o que acontece. Como cada ser é agraciado com habilidades, recursos e circunstâncias específicas, que são providenciadas pela vontade do divino, é fundamental respeitarmos toda e qualquer individualidade e, assim, buscarmos viver em harmonia com o universo. Isso implica também reconhecer e respeitar os limites do próprio caminho, sem invejar ou buscar o que pertence a outros. Trata-se de uma visão holística da vida, que orienta o yogi a enxergar o mundo como uma expressão da vontade divina e o incentiva a viver em equilíbrio com essa ordem cósmica.

Ao se harmonizar com o universo, o yogi passa a viver uma vida mais plena e consciente. Convidado a contemplar a imensidão e a complexidade do universo, o yogi realiza que tudo o que ele percebe e experimenta é parte integrante de um vasto sistema interconectado e que o Absoluto, a inteligência suprema, está no controle de todas as coisas. Com essa consciência – entendendo tudo como plano Dele – fica fácil para o yogi aceitar de bom grado suas alegrias e desafios, pois ele entende que cada um tem um papel específico a desempenhar no grande esquema das coisas.

Desse modo, a orientação supracitada da Isha Upanishad serve como um guia para a prática de asteya, na medida que nos conduz a uma vida equilibrada e espiritualmente significativa. É uma orientação que lembra da importância de cultivar o senso de contentamento e moderação em nossas aspirações e desejos. Ao nos advertir contra a cobiça, a Isha Upanishad nos faz entender que existem coisas que não nos foram destinadas. Esta é a essência do princípio de asteya: cada um deve aceitar a sua própria situação e recursos na vida, e nunca desejar o que não lhe pertence. Em resumo, tanto o Mantra Um da Isha Upanishad quanto o verso supracitado da Gita tratam do princípio de asteya, pois compartilham da mesma essência ética da não-cobiça. Todos mencionam, direta ou indiretamente, que devemos aceitar tão somente o que nos é dado na vida, vivendo de modo simples, com respeito, moderação, gratidão e em consonância com a ordem natural e divina do universo.

No mundo contemporâneo, uma pessoa que atua na plataforma de asteya pode ser, muitas vezes, a exceção em seu ambiente.

Não apenas os yogis, mas qualquer ser humano consciencioso deve aplicar o conceito de asteya – não uso indevido dos recursos naturais e do meio ambiente. Com certeza, numa civilização avançada, os indivíduos são conscientes e responsáveis da utilização dos recursos naturais, evitando desperdícios e agindo de forma sustentável. Infelizmente, por falta do conhecimento profundo do propósito e responsabilidade da vida humana, a civilização atual se colocou numa condição perigosa, na qual a sombra se estende sobre a relação entre a humanidade e o meio ambiente.

Em vez de atuar como guardiões responsáveis da natureza, o dito progresso frenético baseado no gozo dos sentidos tem forçado os seres humanos a mergulharem numa exploração desenfreada, onde se consome vorazmente os recursos naturais. Quem, independentemente da religião ou filosofia de vida, não compreende a presença sagrada de Deus em todas as formas de vida, contribui inadvertidamente para um mundo predatório. Não se pode afirmar que existe consenso nos diversos segmentos religiosos sobre a presença da alma em animais, árvores e rios. Dentro da teologia cristã, por exemplo, há diversas correntes e interpretações sobre esse tema. Na prática, no entanto, qualquer ser humano que consome carne – um ato que requer, inevitavelmente, o sacrifício da vida de um animal – parece não atribuir às criaturas animais almas de valor equivalentes às humanas, embora os tratem com certo grau de respeito e cuidado. A perspectiva de que os animais não possuem almas da mesma natureza que as almas dos seres humanos serve como justificativa (um tanto quanto insensível) para o abate cruel de animais com o propósito de consumir sua carne.

Assim, pela falta de consciência ambiental e apegados à ideia equivocada de que a Terra é inesgotável, a civilização humana criou uma perigosa encruzilhada, negligenciando os sinais de alerta enviados pela natureza. Florestas são derrubadas em ritmo frenético, oceanos são explorados e poluentes são despejados impiedosamente na atmosfera e nas águas. Essa ganância desmedida leva à exaustão de ecossistemas inteiros, com impactos profundos na biodiversidade. Espécies que antes prosperavam agora estão à beira da extinção, incapazes de se adaptar à rapidez com que seu habitat natural está sendo destruído. Ecossistemas complexos estão em colapso, resultando em desequilíbrios que reverberam por toda a cadeia alimentar. Quais serão as consequências disso tudo?

Com a contaminação generalizada do ar, da água e do solo, a saúde humana também está gravemente comprometida. Doenças relacionadas à poluição se tornaram epidemias, colocando em risco a qualidade de vida de milhões. Além disso, as mudanças climáticas, uma das mais insidiosas manifestações dessa exploração sem freios, desencadearam catástrofes cada vez mais frequentes e intensas. Em suma, por falta do princípio de asteya, há inundações, secas prolongadas, furacões, incêndios florestais, deixando um rastro de destruição em todo canto. Portanto, com essas consequências irreparáveis batendo à porta da humanidade, é urgente a mudança de paradigma, e o princípio de asteya está aí para contribuir. Através de sua prática, comunidades, organizações e governos devem se unir para reverter o curso danoso que estamos trilhando. Iniciativas de conservação, reciclagem e uso sustentável dos recursos precisam ganhar força, trazendo vislumbre de esperança para um futuro mais equilibrado.

Nesse momento sombrio na história da civilização, asteya serve não apenas como um lembrete doloroso do custo da negligência ambiental, mas é também uma chamada para a ação urgente e coletiva, apelo para que a humanidade redescubra sua conexão intrínseca com a natureza e adote práticas que promovam a regeneração, em vez da exploração implacável. Somente através de asteya, e de outros princípios da sabedoria do yoga, podemos trabalhar juntos para curar as feridas infligidas à Terra e garantir um futuro sustentável para as gerações vindouras. Em outras palavras, um yogi compreende que os recursos naturais não são mercadorias a serem exploradas, mas são dádivas preciosas que devem ser tratadas com respeito e gratidão. Compreendendo que a Terra é uma fonte de vida e sustento para todos os seres vivos, o yogi age como guardião responsável pelas bênçãos que ela proporciona. Este é o lema do yoga: vida simples e pensamento elevado.

Quanto mais simples forem nossas vidas – sem consumo excessivo e extravagância – tanto mais contribuiremos para que não haja escassez de recursos. Esse lema é uma abordagem que busca encontrar significado na simplicidade e na contemplação, ao mesmo tempo em que valoriza a introspecção e o crescimento espiritual. É uma proposta de despojamento do excesso e das distrações. É, acima de tudo, uma forma de capacitar o ser humano a se conectar mais profundamente consigo mesmo. Por isso, asteya é uma proposta que vai além de respeitar as propriedades ou bens alheios, pois adentra no domínio do respeito e da consideração pelas necessidades e espaço dos outros, sejam elas físicas, emocionais ou espirituais. Por viver o princípio de asteya, o yogi leva naturalmente uma vida simples, restringindo naturalmente os desejos desenfreados e inúteis criados pela mente. Tal yogi, evitando o acúmulo desnecessário de bens, ajuda a proteger os recursos limitados do planeta, pois o fato de ele não “roubar” da Terra mais do que ela pode dar, permite que outros tenham acesso às dádivas naturais.

Ao adotar uma abordagem mais simples e reflexiva, não apenas nos beneficiamos pessoalmente, mas também contribuímos para um mundo mais equitativo e sustentável, em harmonia com os princípios de asteya. Além disso, a aplicação do conceito de asteya ao meio ambiente também exige que nos tornemos defensores ativos da sustentabilidade, apoiando e promovendo práticas que preservem a integridade dos ecossistemas e protegendo a biodiversidade, visando manter os processos naturais em equilíbrio. Asteya envolve também escolher fontes de energia limpa e renovável, reduzir a poluição e buscar alternativas ecológicas em todas as áreas da vida. Essa conscientização por parte do yogi o leva a adotar uma postura de responsabilidade ambiental, não apenas em benefício próprio, mas também em respeito às gerações futuras. Ao agir de forma alinhada com asteya, o yogi contribui para um legado de prosperidade e harmonia para todos os seres vivos que compartilham o planeta.

Como podemos observar, a aplicação de asteya na proteção do meio ambiente é um convite para que a humanidade viva em harmonia com a natureza, sem explorá-la impiedosamente, uma vez que todos são parte de um sistema interconectado. Na verdade, como a prosperidade humana está intrinsecamente ligada à saúde e bem-estar do mundo natural, ao honrar e proteger os recursos naturais, o ser humano honra a si mesmo e os futuros herdeiros do planeta. Por isso, ao assumir sua parte de responsabilidade no uso dos recursos naturais, o yogi cultiva naturalmente uma mentalidade de contentamento e satisfação, em vez de cobiçar o que pertence aos outros.

Além disso, pelo seu estilo de vida simples e pensamento elevado, o yogi não apenas se protege do consumismo desenfreado, mas se permite dedicar mais tempo e energia ao desenvolvimento pessoal e espiritual. Como reduz a importância dada a posses materiais, ele foca com mais facilidade em valores mais elevados, tais como compaixão, generosidade e empatia. Porque seu pensamento gira em torno da busca do entendimento e propósito mais profundos da existência, sua vida é simplificada. Sem distrações supérfluas, portanto, o yogi consegue com mais facilidade direcionar sua atenção para questões mais essenciais e transcendentais. Por si só, o pensamento elevado é uma forma de honrar o princípio de asteya, pois protege o yogi de ter seu tempo e energia roubados, e esses recursos podem ser investidos na busca de significado e na expansão da consciência. Portanto, a conexão e a interseção entre “vida simples, pensamento elevado” e o princípio de asteya nos leva a refletir sobre como devemos viver nossas vidas e como devemos interagir com o mundo.

Ainda sobre asteya, A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada ensinou que esse conceito não se limita a se apropriar indevidamente da propriedade alheia, mas pode também abranger o roubo de conhecimento espiritual. Sendo francos, podemos constatar que muitos assim chamados gurus vêm da Índia, o berço do conhecimento védico, e, ao invés de apresentarem o conhecimento como ele é, distorcem os ensinamentos sagrados e, assim, desviam as pessoas do caminho da consciência de Deus. Portanto, roubar o conhecimento espiritual autêntico e enganar os outros com informações falsas também é considerada uma forma de asteya, ou roubo. Na verdade, devemos ser gratos pelas bênçãos e oportunidades que recebemos, reconhecendo que tudo o que temos é uma graça divina. Isso nos impede de sentir inveja ou cobiça em relação aos outros e nos ajuda a cultivar a mentalidade de compartilhamento e generosidade.

Podemos também conectar o princípio de asteya à prática do autocontrole e da moderação. É parte do estilo de vida do yoga evitar o desejo insaciável de acumular mais e mais bens materiais, reconhecendo que o apego excessivo à propriedade material produz um desvio do caminho espiritual. Em última análise, a prática de asteya está enraizada na compreensão de que somos almas espirituais e que nosso verdadeiro bem-estar não está no acúmulo material, mas na conexão com Deus. Ao praticar asteya, o yogi se torna consciente de sua interdependência com os outros. Assim, esforçando-se para viver de maneira ética e responsável, ele desenvolve atitude de serviço e generosidade ao mundo. Em suma, asteya envolve não apenas a abstenção de roubar materialmente, mas também evitar o roubo de conhecimento espiritual, praticar gratidão, cultivar o autocontrole e a moderação, e reconhecer nossa conexão com Deus e nosso papel como almas espirituais.

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