O Propósito da Peregrinação
Ravi Gupta
Ter a companhia de grandes almas, expiar pecados, experimentar bem-aventurança – conheça mais sobre o que leva peregrinos de todo o mundo às terras sagradas.
Todos os anos, com a mesma avidez que ocidentais correm nas férias para o Havaí, Cancun ou Rio de Janeiro, milhões de indianos viajam para tirthas, locais sagrados de peregrinação. De acordo com o Livro Guinness dos Recordes, a maior concentração de pessoas para um único evento se deu no Maha Kumbha Mela em 10 de fevereiro de 2013, quando 30 milhões de pessoas se juntaram para se banhar nas águas sagradas de Allahabad, Índia.
Toda primavera, apesar da agitação política local, centenas de peregrinos viajam para os picos nevados de Vaishnodevi, em Jammu e Caxemira. De igual modo, milhares aguardam por horas para terem um instante da audiência do Senhor Balaji, uma escultura de Krishna, em Tirupati, no sul da Índia, e oferecer-se para o prazer do Senhor. Gangasagara, Kedarnatha e Puskara são outros exemplos de lugares de peregrinações populares.
Peregrinação é algo tão importante na Índia que as pessoas aceitam grandes riscos para fazerem-no. Minha mãe ainda se lembra de quando seus parentes, cerca de cinquenta anos atrás, partiram de casa para uma longa peregrinação em Badrinatha, no alto dos Himalaias. Naquele tempo, o caminho era tão traiçoeiro que temíamos que algo de ruim pudesse acontecer a alguém, mas todos que se determinaram a ir a princípio, não mudaram de ideia com nenhum conselho de segurança.
Qual é o ímpeto por trás desse desejo tão forte de visitar terras sagradas? Para muitos, o ímpeto é a busca pelo prazer espiritual. Dr. David Haberman, professor de Religião na Williams College, em Massachusetts, diz: “No meu trabalho, eu ficava muito intrigado com a imensa austeridade, a tremenda dificuldade, da peregrinação, e sua relação com o objetivo declarado de ‘sentir bem-aventurança’. Basicamente, era sobre essas duas experiências divergentes de austeridade e bem-aventurança, ou tapas e ananda, que eu perguntava aos peregrinos. Por que se submeter a uma viagem tão penosa? Independente de quanto eu apontasse a aparente incompatibilidade, eles vezes e mais vezes diziam o fazer para experimentar ananda, ou bem-aventurança”. (Vaisnavism: Contemporary Scholars Discuss the Gaudiya Tradition)
Qualquer local onde devotos puros estejam presentes é um lugar de peregrinação, pois são eles que santificam o local.
As pessoas também vão a locais de peregrinação para que a influência do local expie pecados e, assim, obtenham a imortalidade. O Srimad-Bhagavatam explica, entretanto, que meramente lavar-se de suas reações pecaminosas pode ser algo de pouco valor, pois semelhante expiação pode ser como o banho de um elefante. Depois que um elefante se banha em um rio, ele sai da água e joga poeira por todo o seu próprio corpo. Similarmente, tão logo peregrinos retornam dos locais sagrados, talvez recomecem suas atividades pecaminosas, pois podem ainda estar internamente sujos de desejos materiais.
O sábio Jamadagni aconselhou seu filho, o Senhor Parashurama, sobre o verdadeiro significado de expiação: “Meu querido filho, se você se tornar consciente de Krishna e adorar os locais sagrados, você pode expiar o grande pecado que cometeu”. (Srimad-Bhagavatam 9.15.41)
Assim, verdadeira expiação decorre de nos tornarmos conscientes de Krishna, o que requer a companhia dos devotos. Srila Prabhupada explica: “Porque uma pessoa comum não é capaz de se render de imediato à Suprema Personalidade de Deus, aconselha-se a ela que vá de um lugar de peregrinação a outro para encontrar pessoas santas e, deste modo, libertar-se gradualmente das reações pecaminosas”.
Srila Prabhupada diz que as pessoas deixam seus pecados nos locais de peregrinação, mas são os devotos puros que de fato purificam os locais de peregrinação. Ele escreve: “Pessoas comuns vão para locais de peregrinação para se purificarem de todos os pecados. Assim, os locais de peregrinação ficam sobrecarregados pelos pecados alheios. Contudo, quando sábios [puros] visitam locais de peregrinação sobrecarregados, eles santificam os locais mediante sua presença”. (Srimad-Bhagavatam 1.19.8, significado)
Com efeito, qualquer local onde devotos puros estejam presentes é um lugar de peregrinação, pois são eles que santificam o local. Quando Vidura saiu em peregrinação, ele se encontrou com o sábio Maitreya e ouviu dele os passatempos do Senhor Krishna. Depois de voltar para casa, Maharaja Yudhisthira disse a Vidura: “Meu senhor, devotos como você são verdadeiros locais de peregrinação personificados. Porque você carrega a Personalidade de Deus dentro do seu coração, você transforma todos os lugares em locais de peregrinação”. (Srimad-Bhagavatam 1.13.10)
Por ouvir as palavras de um devoto puro na atmosfera pura de uma terra sagrada, o sujeito assimila que o verdadeiro propósito da vida humana é amar Krishna. Em Vrindavana, Srila Prabhupada certa vez repreendeu um devoto por não comparecer a uma palestra, preferindo, no horário do discurso, ir visitar locais de peregrinação. Prabhupada disse ao devoto que locais de peregrinação não se destinavam à contemplação da natureza, mas a ouvir sobre Krishna.
Há muitos locais de peregrinação relacionados ao Senhor Supremo, como Badrinatha, Dvaraka, Navadvipa, Vrindavana, Ramesvaram e Jagannatha Puri. Esses locais de peregrinação providenciam ilimitado benefício espiritual e realizam todos os desejos. Agora, pela misericórdia de Srila Prabhupada, há dhamas, ou locais sagrados, não apenas na Índia, mas no mundo todo. Prabhupada estabeleceu centenas de templos, onde podemos facilmente obter sadhu-sanga, a companhia de devotos, e adorar Krishna no altar. Podemos nos beneficiar de New Jagannatha Puri, em San Francisco, e de New Dvaraka Dhama, em Los Angeles, ou podemos ver Radha e Krishna na capital da França ou da Inglaterra, ou no interior do Brasil. E em todo o mundo podemos ouvir pessoas que dedicam suas vidas a serviço do Senhor. Deste modo, podemos transformar todas as nossas viagens em peregrinações.
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