A Missão se Revela

14 A Missão se Revela (12) (depoimento - Como Me Tornei Hare KrishnaJaya Gauranga Dasa

Envolto por desamor na família, racismo, constatação da efemeridade da vida e outros sofrimentos, jovem busca um sentido para a existência.

Na primeira vez que fui visitar meus irmãos por parte de pai, eu tinha 25 anos, e meu irmão me disse: “Não me surpreende que você seja Hare Krishna. Nosso pai era muito brincalhão e sempre fazia piada dos Hare Krishna e cantava Hare Krishna lá em casa”. Também de pequeno aprendi sobre o budismo de Nitiren Daishonin, Sokagakai do Japão, com a minha tia que pratica há muitos anos. Quando meu pai faleceu, eu tinha 6 anos de idade, e minha mãe me levou para viver com a minha avó, que me odiava, bem como minha outra tia e sua filha, e nós vivíamos todos na mesma casa. Purifiquei-me muito durante minha infância e adolescência. Depois de passar por muitos problemas durante esse período, fui forçado a buscar um sentido para a minha vida.

Uma das coisas que me fez ficar depressivo foi pensar que um dia eu deixaria de existir e que tudo que fiz seria perdido. Isso me fez começar uma busca para encontrar a razão de se viver. Como um jovem negro sofrendo racismo de várias formas, comecei estudando sobre antropologia para entender por que havia tanta variedade de cores de pele, cabelo e olhos nas diferentes regiões do mundo. Assim, eu costumava ler por muitas horas todos os dias, tentava encontrar um sentido para a vida que temos, por que nascemos, por que morremos, e foi assim que comecei a estudar mais e mais. Da antropologia, passei a filosofia, sociologia, psicologia, história etc. Passei por várias áreas de conhecimento até chegar à inevitável conclusão de que, por mais voltas que eu dava, nenhum desses grandes pensadores oferecia uma resposta conclusiva sobre o propósito da vida. Sempre que os grandes pensadores abordavam o tema, falavam com muita incerteza, não eram profundos, davam voltas, não eram claros, falavam sem realmente dizer nada.

Também li sobre várias religiões e visitei muitas delas – umbanda, candomblé, várias culturas religiosas, associações espiritualistas, misticismo, ocultismo, gnosticismo. Alguns conhecimentos ocidentais também, mas, no geral, eu estudava os caminhos orientais, como a Seicho-no-ie, Mahikari etc. Estudei muito Allan Kardec e a doutrina espírita (na verdade, foi a primeira coisa que eu estudei, aos 14 anos), visitei todo tipo de igrejas cristãs, aprendi sobre islamismo. Eu gostava de ouvir falar sobre Deus e Seu reino, mas eu também sentia tudo isso como muito superficial, e eu não podia fazer perguntas, porque isso não era bem visto.

Uma vez estudando um livro sobre ocultismo místico, e sobre o Egito e todo o esoterismo das pirâmides, tive vários insights e descobri que meu caminho era mesmo oriental, e em uma reunião espírita me foi revelado que eu tinha muita conexão com o oriente devido a alguns acontecimentos da minha vida passada. O livro O Alquimista, de Paulo Coelho, ainda que não fosse espiritual, me iluminou muito na minha busca pela espiritualidade.

Entre meus amigos, não era fácil encontrar alguém que conversasse sobre temas mais profundos, porque eu já não tinha interesse em falar sobre coisas triviais. Então, conheci a Daniela, que era amiga de um amigo. Ela estudava várias teorias, assim como eu. Em nosso primeiro encontro, partimos de “Você vive por aqui?” e passamos a estudar as diferentes teorias astrofísicas, debater ufologia, tentar entender as diferentes civilizações do mundo etc. Foram 4 horas de conversa. Nesse tempo, muitos amigos chegaram e se foram e nós seguíamos falando e falando. Ela e o filho do padrinho do meu primo tinham interesses nesses temas, de modo que passamos a nos encontrar com certa regularidade, o que sempre resultava em conversas de mais de duas horas, com todo tipo de temas interessantes. Eles chegaram a mencionar os devotos de Krishna: “Um amigo meu tem um livro de uns caras que vendem livros na Avenida Paulista, e parece que eles têm uns livros maneiros”. Contudo, como eu não conhecia nada sobre isso e eles não tinham os livros, ficávamos nisso apenas.

Nem ela nem eu trabalhávamos. Buscávamos por empregos, mas não conseguíamos nada. Nossa vida, então, era estudar. Um dia, estávamos entusiasmados e ficamos conversando das 11 da noite até as 5 da manhã. Quando um amigo que nos viu conversando antes de ir ao baile, viu que ainda estávamos conversando quando ele regressou da balada, ele disse: “Meu! Vocês ainda estão conversando?”. Eu, então, lhe expliquei que estávamos tratando de encontrar um sentido para a nossa existência. Foi quando ele me disse que tinha um livro que eu apreciaria muito.

No dia seguinte, depois de tentar encontrá-lo por várias vezes, o encontrei em sua casa com toda a ressaca do dia anterior e ele me deu um livro pequeno: Vida Simples, Pensamento Elevado. Eu pensei que, por ser tão pequeno, eu não aprenderia muito com o livro, mas também pensei que era melhor aprender um pouco do que não aprender nada. Fui para casa e li o livro em duas horas. Fiquei imensamente surpreso que um livro pequeno pudesse ser tão poderoso e mudar minha vida. Primeiro que, depois de ler o livro, eu me tornei vegetariano – só demoraram duas horas para que eu me tornasse vegetariano. Segundo que decidi não contribuir com a destruição do planeta por não poluí-lo, bem como por fazer outras pessoas conscientes de como estamos poluindo o planeta. E, por último, pensei em me tornar um monge; não nos parâmetros concebidos pelos devotos de Krishna, mas como as demais pessoas veem, de ir a um lugar recluso e meditar por várias horas ou dias.

Como eu não sabia se realmente havia templos – como o livro era tão velho, não dava para saber –, eu decidi seguir na minha busca. Então, meu amigo me deu outro livro, desta vez A Fórmula da Paz. Eu gostei do livro, mas li somente um pouco; minha atenção havia sido divergida para o estudo do rastafarianismo. Então, um dia, sendo forçado pela minha mãe, fui procurar emprego, e meus amigos me avisaram que, na Avenida Paulista, eu encontraria “esses caras que têm os livros que você gosta”. Depois de passar por uma entrevista, fui buscar pelos devotos, e, 20 minutos depois, caminhando pela Avenida Paulista, encontrei-me com Vira Krishna Prabhu, que me vendeu um livro: Perguntas Perfeitas, Respostas Perfeitas, e me convidou para ir ao templo.

Fomos de ônibus ao Alto da Lapa. Quando chegamos, acontecia o Gaura-arati, e depois Vira Krishna Prabhu deu uma palestra com base no Bhagavad-gita. Por fim, a melhor parte: prasada. Embora eu já fosse vegetariano há quase um ano, naquele momento, eu tinha uma alimentação muito básica e limitada por não saber cozinhar muitas coisas. Assim, toda a opulência da prasada deixou uma grande impressão na minha mente.

Nesse mesmo dia, tive uma das minhas grandes vivências das misérias do mundo material. Fui a uma apresentação musical de reggae com alguns amigos. Como não pagamos o ônibus e meus amigos fizeram bullying com o motorista e o cobrador, além de vandalismo, na forma de pichar o ônibus, o motorista parou na delegacia e o delegado nos deixou lá por 4 horas como uma lição. Saímos às duas da manhã, quando não havia mais ônibus. Assim, tivemos que caminhar duas horas até o show, e, quando a banda que eu gostava foi tocar, houve confusão e briga duas vezes. Os integrantes da banda pararam a música e pediram por paz. Na terceira vez, eles se foram do palco.

No dia seguinte, frustrado, eu li o livro e foi decisivo: Srila Prabhupada me havia convencido de que eu deveria entregar-me à causa. Assim, nos próximos dias, eu ia visitar meus amigos e lia um trecho do livro para eles. Dois meses depois disso, um amigo que foi na Avenida Paulista retornou com um livro, Iluminação pelo Caminho Natural. Eu gostei muito, e meu amigo me disse que, no final do livro, estava o endereço do templo. Era outro templo, que ficava na rua do Paraíso, 694. Para eu ir lá, era mais próximo e mais econômico. Assim, eu fui visitar o templo, convencido de que era isso que eu queria para a minha vida. Porém, quando cheguei lá, Prananatha Prabhu me disse que, antes de ir viver lá, era melhor ir conhecendo os devotos e lendo mais livros para tomar uma decisão mais madura. Depois de três semanas, ele me convidou para passar uma semana no templo, para uma ocasião especial: a Maratona de Srila Prabhupada. Assim, fui passar uma semana e nunca mais saí, e consegui fazer toda a Maratona – era julho de 2004.

 

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