Um Hare Krishna na Bolsa de Valores

Ananda Vrindavana Dasa

Se obrigado a decidir entre uma herança milionária ou seguir com o seu chamado espiritual, o que você escolheria?

Eu nasci em dezembro de 1962, em uma abastada família guzerate em Mumbai. Meu pai, um empresário rico, era profundamente religioso; dois dos gurus mais populares da Índia eram os guias espirituais de nossa família. Como criança, eu era objeto de sua afeição e, devido a um ambiente espiritual em casa, eu tinha atração por ouvir e cantar os santos nomes e passatempos de Krishna.

Eu também me destaquei em meus estudos. Em 1981, fiquei em primeiro lugar entre 300.000 estudantes que se submeteram ao exame de gerenciamento de vendas conduzido pela Câmara de Comércio de Londres. A Câmara de Comércio de Bombaim me homenageou por ser o primeiro indiano em cem anos a ganhar essa prestigiosa medalha de ouro, bem como o mais jovem do mundo a fazê-lo, com apenas dezenove anos de idade. Depois de garantir sete diplomas de pós-graduação em gestão até 1985, eu estava pronto para assumir os negócios do meu pai. Enquanto minha carreira no mercado de ações florescia, passei por uma experiência inesquecível.

A Faísca se Torna uma Chama

Em 1989, meu colega de classe de MBA e amigo Dilip Upponi me levou a um templo da ISKCON no sul de Mumbai para ouvir uma palestra de Sua Santidade Radhanath Swami, que descreveu Vrindavana e os passatempos de Krishna com muitos detalhes. Sua aula reacendeu a chama da atração por Krishna que eu tinha em meu coração, porém abafada. Comecei a frequentar as aulas do templo com mais frequência. Dilip, então, presenteou-me com livros escritos por Srila Prabhupada, o fundador da ISKCON. Esses livros tiveram um efeito hipnotizante sobre mim. Fiquei atordoado ao ler nos livros de Srila Prabhupada que a expressão mais elevada da religião é quando um devoto se aproxima de Deus sem nenhum desejo além de servi-lO e agradá-lO. Também estava apegado aos dois gurus de meu pai e me perguntava se eu estava sendo desleal a eles ao ir para a ISKCON. Meu coração me puxava para mais perto de Srila Prabhupada e de seus seguidores sinceros, que estavam ensinando essencialmente as mesmas coisas que meus pais e gurus de família haviam ensinado. No entanto, apenas na ISKCON me instigavam a elevar meu serviço devocional ao nível de oferecer minha existência inteira a Deus sem esperar nada em troca.

Quando me decidi por me comprometer com o caminho da consciência de Krishna, fui iniciado e recebi o nome Ananda Vrindavana Dasa, enquanto meu amigo Dilip se tornou Devamrita Dasa. No entanto, minhas esperanças inocentes de viver uma vida feliz centrada em Krishna e nos devotos logo seriam desafiadas.

Relações Familiares Abaladas

Como Radhanath Swami nasceu nos Estados Unidos, meu pai conservador e ortodoxo ficou indignado com minha decisão de aceitar iniciação de alguém que não nasceu na Índia e era de outra etnia. Ele queria que eu recebesse iniciação de um de seus gurus. Eu assegurei a meu pai que continuaria a servi-los. Contudo, ele insistiu que eu rejeitasse o guru estadunidense e aceitasse um guru indiano. Enquanto todos protestavam e me desencorajavam a frequentar os programas da ISKCON, eu me tornava mais firme em minha determinação de seguir meu chamado interior. Exasperado, meu pai emitiu um ultimato: se eu não desistisse de me associar com a ISKCON, eu seria privado da fortuna da família. Em minha inconsequência juvenil, respondi à ameaça afirmando que eu não queria nem mesmo um centavo do seu dinheiro.

Deixando o Conforto da Família

Embora eu estivesse estável no meu emprego, eu era jovem e não tinha nenhuma experiência em relação a viver sozinho e sem empregados. Eu pressenti que minha vida seria difícil se meu pai me expulsasse de casa. No entanto, eu estava determinado a seguir com a consciência de Krishna. Meu pai era implacável, e eu também não cedia.

Certa noite, depois de mais um embate, eu saí de casa e prometi furiosamente nunca mais voltar. Deixei minha casa com a determinação inconfessa de um dia provar a ele que eu podia ficar muito rico por conta própria.

Os devotos da ISKCON Mumbai me encorajaram a ficar no templo em vez de viver sozinho. O amor e o cuidado que recebi dos devotos do templo, a pureza e o poder da filosofia da consciência de Krishna e a alegria que eu sentia em ouvir e cantar os nomes de Krishna me ajudaram a dar os corajosos passos necessários para deixar minha casa.

A Ganância Bate à Porta

Mais tarde, comprei uma pequena casa nos subúrbios de Mumbai e casei-me com uma devota da congregação do templo. Como meu pai havia retirado meu nome da herança da família, senti a necessidade de ganhar mais dinheiro. Um amigo e ex-parceiro de negócios meu propôs um esquema que nos tornaria milionários da noite para o dia. A oferta, no entanto, tinha discrepâncias legais e poderia levar a complicações mais tarde. Meu amigo ignorava minha apreensão e me assegurou que era um plano infalível. Com nossos conhecimentos financeiros combinados, poderíamos levar essa empresa a novos patamares.

Ananda Vrindavana Dasa com a esposa e filho.

A tentação era difícil de resistir; agora eu poderia provar ao meu pai que eu poderia ser mais rico do que ele e que eu não precisava de sua boa vontade ou herança. Eu também pensei que eu poderia usar esses recursos a mais para servir Krishna e Seus devotos, pois o templo precisava de fundos. Eu estava pronto para entrar nos negócios, mas decidi que eu primeiro deveria perguntar a Devamrita Dasa, meu amigo, qual era a sua opinião.

Devamrita pacientemente ouviu minha história, mas não compartilhou do meu entusiasmo. Ele disse: “O Senhor Krishna é a Suprema Personalidade de Deus, e Ele proverá todas as nossas necessidades. Não precisamos de dinheiro ilegal. Isso não agradará Krishna.”

O barco da minha mente estava em um mar de confusão. Por um lado, a onda da oferta atraente do meu parceiro me puxava. Eu poderia me tornar grande e silenciar todos os meus críticos, incluindo meu pai. Por outro lado, um devoto de Krishna me ancorava na terra, tentando me convencer a não fazer aquilo. Depois de semanas sendo atirado por pensamentos e sentimentos conflitantes, finalmente tomei a dolorosa decisão: desisti do plano. Meu parceiro revelou-se chocado diante da minha “tolice”. Mas agora eu estava firme em minha escolha de viver conforme a sabedoria dos devotos de Krishna.

Um ano depois, meu ex-parceiro de negócios me convidou para uma importante conferência do ramo em um hotel cinco estrelas. Agora ele era um multimilionário e uma estrela dos negócios, adorado pela mídia. Enquanto as câmeras piscavam e os repórteres o entrevistavam, eu ficava em um canto e assistia a sua rápida ascensão ao hall da fama. No final da conferência, ele me chamou e me repreendeu.

“Seu tolo”, ele disse. “Você poderia ter tido esse sucesso. Ainda não é tarde demais. Meu convite está de pé. Confie em mim; sou seu amigo. Com sua inteligência, você poderia ser duas vezes mais rico do que eu.”

Eu o ouvi pacientemente, mas não me senti tentado. Eu agora estava profundamente ligado aos devotos e ao modo de vida consciente de Krishna. Meus ganhos eram suficientes para manter minha família contente. Minha esposa, Tulasi Devi Dasi, e meu filho, Raghunatha, apoiavam meus valores e práticas espirituais conscientes de Krishna e abominavam a busca impulsiva de riquezas por mera ganância. Saí da reunião tranquilo, mas desapontado com minha incapacidade de convencer meu amigo a abandonar seus caminhos perigosos.

Alguns dias depois, mais uma realidade se revelou a mim.

As manchetes de todos os jornais e canais de televisão veiculavam a história de um dos três maiores esquemas de corrupção financeira que a Índia já havia testemunhado. Meu antigo amigo foi exposto em uma fraude de 11 milhões de dólares, e sua fotografia apareceu em todos os lugares. Ele agora estava na cadeia, condenado pela mídia, governo e polícia, e acusado de mais de cem crimes financeiros graves. Conforme eu acompanhava as notícias cuidadosamente, percebi como a consciência de Krishna e a associação com os devotos haviam me salvado. Se não fosse pelo meu amigo e devoto Devamrita Dasa, eu também estaria amargando na prisão. Krishna me poupou de muita dor e sofrimento enviando seus amorosos devotos para atuarem como meus amigos e salvadores.

Aprendendo as Lições da Vida

Ao longo das últimas duas décadas de prática da consciência de Krishna e vendo as flutuações da bolsa de valores, aprendi valiosas lições na vida espiritual. Uma prática séria e constante de ouvir e cantar o santo nome e de ouvir e repetir os ensinamentos das escrituras foi o que me sustentou ao longo das últimas duas décadas. Eu fiz o voto de nunca começar um dia de trabalho no mercado de ações sem antes completar minhas dezesseis voltas do canto do mantra Hare Krishna em minhas contas de oração. Também ouço uma palestra de temática espiritual no meu celular ou no templo, e só então entro na minha arena de negócios. Essas práticas me deram força interior para resistir às tentações e tomar as decisões certas.

Outra lição que aprendi é o valor da associação com os devotos santos. Eu observei que os devotos da ordem renunciada são bem-aventurados mesmo sem terem dinheiro. Em contraste, vi pessoas no mercado de ações que ganhavam mais de 4 mil dólares diariamente e eram muito infelizes, precisando até mesmo tomar comprimidos para dormir. Isso me convenceu de que ter muito dinheiro não é a fonte da felicidade.

Enfim, minhas realizações podem ser resumidas em uma frase: A vida é uma luta, mas é uma luta feliz se pudermos lembrar de Krishna e estarmos apegados a ouvir e cantar Seus santos nomes na companhia de Seus amáveis devotos.

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