Um Intelectual Descobre a Perfeição do Intelecto
Chaitanya-charana Dasa
Com problemas de saúde desde o nascimento, jovem se refugia no intelecto acadêmico, mas não era ali que encontraria o verdadeiro refúgio.
Eu nasci com uma deformidade cardíaca congênita que os médicos disseram que provavelmente não me permitiria comemorar meu quinto aniversário. Quando eu tinha cerca de um ano, aprendendo a andar em nossa casa de classe média na Índia, eu de repente desmaiei no chão, e nunca mais consegui andar normalmente. Com minha perna esquerda atrofiada, eu tinha que andar com uma escora ou com uma prótese. Quando eu tinha cerca de dois anos, desfrutando do espetáculo dos populares fogos de artifício do festival anual de Dipavali com as crianças da vizinhança, de repente um foguete de fogos de artifício perdeu o rumo e me atingiu. Todas as outras crianças comigo correram vendo o foguete desgovernado vindo em nossa direção, mas, devido à minha perna manca, eu não consegui evitá-lo. O foguete atingiu meu braço direito, fundindo minha camisa com minha pele, e se redirecionou para cima em seguida, queimando meu rosto e quase acertando meu olho direito por milímetros. O projétil deixou cicatrizes permanentes no meu braço direito e no lado direito do meu rosto antes de cair apagado no chão. Quando eu tinha três anos, também caí de um muro perto da minha casa, sofrendo traumatismo craniano. Um astrólogo disse aos meus pais desesperados que eu era afligido por Saturno, que causaria problemas repetidos nos primeiros sete anos e meio da minha vida.
Abrigo na Inteligência
Meus pais fizeram tudo ao seu alcance para me proporcionar uma infância normal. Eles decidiram não ter outro filho por uma década para que pudessem dar toda atenção aos meus cuidados. Eles me matricularam em uma escola dispendiosa, parte de um convento cristão, para que eu pudesse ter a melhor educação. Suas tristezas foram um pouco mitigadas quando viram que eu tirava boas notas. Meus pais contavam a parentes que nos visitavam que Deus havia compensado minhas incapacidades físicas concedendo-me habilidades intelectuais. Eu me perguntava sobre esse ser misterioso, Deus, que tinha tão grande poder sobre minha vida para decidir o que me dar e o que tirar de mim. Para meus pais, que eram brahmanas de casta, rituais religiosos eram uma parte importante da cultura da família. Meu pai me explicou o significado do nosso sobrenome Pujari, que significa um sacerdote que adora a Deidade oferecendo puja, uma adoração ritualística com incenso, flores e outros artigos. Cerca de um século atrás, seu avô, enquanto tomava banho em um rio numa manhã cedo em nossa vila nativa, encontrou uma deidade de Hanuman de cinco cabeças flutuando na água. Ele posteriormente estabeleceu essa deidade em um altar e serviu como seu pujari, daí o nome da nossa família.
Minha vida diária com a busca da excelência acadêmica tinha pouco em comum com minha ancestralidade religiosa. Na escola, conforme minhas notas melhoravam, parecia que Saturno havia me deixado. No meu exame de conclusão do ensino médio, eu estava entre os primeiros colocados no estado. O coletor do distrito (o principal oficial governamental do distrito) visitou nossa casa para parabenizar meus pais, e o jornal local publicou um artigo e uma foto da visita. Para meus pais, a vida parecia ter-se renovado. No passado, eles haviam derramado muitas lágrimas tristes sobre seu filho. Agora, finalmente, surgia-lhes a ocasião de derramar lágrimas de orgulho e alegria.
Infelizmente, a alegria foi de curta duração; o carrossel da vida de repente deu uma guinada perigosa. No mesmo dia em que a foto de nossa família saiu no jornal, minha mãe, durante um exame médico, foi diagnosticada com leucemia em estado avançado. Ela lutou bravamente contra o câncer com quimioterapia, mas, depois de um mês dolorosamente longo, tudo se acabou.
Enquanto o mundo ao meu redor desmoronava, eu procurei refúgio nos meus estudos e no meu desempenho acadêmico.
Os Altos e Baixos da Vida
Enquanto estudava Engenharia em uma faculdade destacada em Pune, em 1996, eu me submeti a um exame que me permitiria buscar estudos de pós-graduação nos Estados Unidos. Fiquei em primeiro lugar em todo o estado, obtendo a pontuação mais alta na história da minha faculdade. Enquanto exultava em minha maior conquista, experimentei algo perturbador. Até então, a sociedade me havia levado a acreditar que, para um estudante, o sucesso e a felicidade eram medidos pelo desempenho acadêmico. Eu havia buscado essa medida de forma frenética e finalmente a havia alcançado. No entanto, ao estar no auge do sucesso segurando a planilha de pontuação em minhas mãos como se fosse um troféu, percebi que as notas em si não me trouxeram alegria. Foi apenas quando os outros me parabenizaram que senti satisfação. Minha felicidade dependia mais do que qualquer coisa da apreciação dos outros. Enquanto refletia sobre essa experiência perturbadora, percebi que estava perseguindo uma miragem: o sucesso acadêmico, ou qualquer outro sucesso, nunca me satisfaria, mas apenas aumentaria minha fome por apreciação e, assim, perpetuaria a minha insatisfação. O pico havia se transformado em areia movediça.
Um amigo estendeu a mão para me resgatar daquela situação ao me dar uma cópia do livro Bhagavad-gita Como Ele É, de Srila Prabhupada. A Gita respondeu muitas das minhas perguntas sobre a vida e seu propósito, que haviam sido deixadas sem resposta pelos inúmeros livros de temática espiritual e secular que eu havia lido até então. As perguntas que restaram foram habilmente respondidas por Radheshyama Prabhu, o presidente do templo da ISKCON Pune, e por Gaurasundara Prabhu, um mentor jovem e dinâmico da ISKCON Pune. Entender a profunda filosofia da consciência de Krishna iluminou a jornada da minha vida com esperança e alegria. Entendi que minha perna manca, que sempre me atrapalhou no jogo de críquete, era resultado do meu próprio karma passado. Mas isso não poderia interferir em minha vida espiritual, porque, afinal de contas, eu não era meu corpo, nem meu avanço espiritual dependia do meu corpo.
O maha-mantra Hare Krishna foi minha próxima descoberta. Desde a adolescência, eu vinha lutando contra as paixões da juventude, que frequentemente sabotavam minhas buscas intelectuais. No canto dos santos nomes, descobri a tecnologia para sabotar essas paixões.
A Educação Mais Elevada
Mas o melhor ainda estava por vir. À medida que eu estudava os livros de Srila Prabhupada e de seus seguidores, especialmente seus escritos baseados na Bhagavad-gita, eu me deliciava com o próprio estudo. Isso tinha um contraste marcante com meus estudos acadêmicos anteriores, em que a alegria estava principalmente nas notas obtidas pelo estudo. Então, li no Srimad-Bhagavatam sobre o sábio e gigante dos intelectuais Vyasadeva. Suas incríveis realizações literárias ao escrever dezenas de obras védicas não o satisfizeram, senão que foi a glorificação exclusiva ao Senhor que o satisfez plenamente. Ao ler a história, senti como se minha história de vida estivesse sendo reexibida na minha frente, mas com o futuro incluído. Reconheci o princípio de que a inteligência pode nos trazer felicidade real e fazer o bem real a nós mesmos e aos outros somente quando usada para glorificar Krishna, e esse princípio me mostrou o meu futuro.
Comecei a usar minha inteligência para compartilhar a filosofia e práticas da consciência de Krishna com meus amigos da faculdade. Para minha surpresa, encontrei vários deles se transformando notavelmente, abandonando seus maus hábitos e levando vidas equilibradas, saudáveis e felizes. Após minha formatura em 1998, eu me encontrei em uma encruzilhada que já havia cruzado internamente. Embora tivesse tanto um emprego lucrativo como engenheiro de software em uma empresa multinacional e uma oportunidade de educação em uma prestigiosa universidade norte-americana, uma convicção interior avassaladora me disse que eu poderia servir à sociedade de maneira melhor compartilhando a sabedoria espiritual que havia enriquecido minha vida. Não havia escassez de engenheiros de software na Índia ou de estudantes indianos nos Estados Unidos, mas em todos os lugares havia uma escassez aguda de espiritualistas com boa instrução.
Mas outra encruzilhada ainda permanecia. Muito mais difícil do que sacrificar uma carreira promissora era suportar a decepção nos olhos do meu pai. Na cultura indiana tradicional, os pais idosos são frequentemente cuidados por seus filhos adultos, mas eu sabia que a perda desse cuidado não era a preocupação do meu pai. Por sua perícia em gerir suas finanças, ele havia alcançado uma segurança financeira razoável, e ele também contava com meu brilhante irmão mais novo, Harshal, de onze anos à época. Sua angústia era ver seu filho mais velho, para cujo futuro materialmente ilustre ele havia sonhado e trabalhado, tornar-se a antítese de seus sonhos: um monge de cabeça raspada, sem conta bancária e vestindo os trajes mais simples. Sua angústia me torturava, mas o chamado do meu coração não me deixava alternativa. Orei fervorosamente a Krishna para curar o coração do meu pai e para ajudá-lo a entender minha decisão de alguma forma, algum dia.
Chaitanya-charana com seu mestre espiritual, Radhanath Swami.
Então, em 1999, decidi tornar o compartilhamento da sabedoria da Gita meu compromisso em tempo integral ao ingressar na ISKCON Pune como brahmachari (professor celibatário). Em 2000, recebi iniciação de meu mestre espiritual, Sua Santidade Radhanath Swami, que me disse que, porque havia renunciado à chance de educação superior nos EUA por causa de Krishna, Krishna estava me dando a chance de receber e compartilhar a educação mais alta: a educação em consciência de Krishna, que é celebrada na Bhagavad-gita como raja-vidya, o rei de toda a educação. De acordo com sua instrução, comecei a dar palestras para jovens em Pune e, depois, em toda a Índia. Pela misericórdia de Krishna, minha perna manca não tem sido um obstáculo até hoje.
Samadhi Intelectual
Em 2002, descobri a escrita. Desde criança, eu queria escrever, mas não conseguia: nunca faltavam palavras (meu passatempo favorito era memorizar palavras de dicionários), mas sempre parecia faltarem ideias. A rica filosofia da consciência de Krishna mais do que compensou essa escassez. Nos próximos anos, surgiriam mais de 4000 artigos, quase 30 livros e outros conteúdos a partir do meu computador. Muitos desses artigos apareceram em jornais indianos de destaque e alguns na Volta ao Supremo. Quando meu primeiro artigo apareceu no conceituado jornal “Times of India”, meu pai radiante enviou cem cópias daquele artigo para seus parentes, colegas e conhecidos. Quando vejo a alegria nos olhos do meu pai ao ver cada novo livro que escrevo, agradeço a Krishna por atender minhas orações.
No final de 2009, fui convidado pelo então editor da Volta ao Supremo internacional, Nagaraja Prabhu, para servir como um dos editores associados da revista. O serviço de revisar artigos com os outros editores, que são todos devotos estudiosos e experientes, ampliou os horizontes da minha compreensão espiritual mais do que qualquer outra coisa que eu havia feito antes disso.
Para mim pessoalmente, a escrita em si, não tanto seus frutos, trouxe significado, propósito, paixão e realização. Embora eu ainda seja um neófito em minha vida espiritual, lutando contra desejos egoístas, a escrita me proporciona vislumbres do que é o samadhi, a absorção bem-aventurada em pensamentos de Krishna e Sua mensagem.
Tendo experimentado tanto o vazio das buscas intelectuais materiais quanto a riqueza dos conteúdos intelectuais espirituais, sinto tristeza em pensar que a maioria dos intelectuais da atualidade estão privados desse fruto supremo do intelecto. Muitos intelectuais indianos, apesar de conquistarem louros materiais em nível global, ainda estão perdendo o banquete intelectual que seus antepassados conhecedores das escriturais desfrutaram por milênios. Meus escritos são humildes tentativas de ajudá-los a redescobrir essa herança perdida. Espero utilizar o restante da minha vida saboreando e compartilhando o néctar intelectual com o qual fui abençoado.
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