O que Aprendi com um Funkeiro Carioca
Chandramukha Swami
O desejo de uma pessoa se exibir é proporcional ao seu vazio interior.
Nesse momento, estou compartilhando do mesmo voo de um famoso funkeiro carioca. Na verdade, estou entre ele e seu staff, inquieto e agitado por sinal. E não se surpreenda com o que vou dizer: agradeço muito a Deus por estar no meio dessa loucura! Como uma classe tão superficial, tão vazia de conteúdo, poderia contribuir comigo? Ora, a vacuidade desse artista e de seus companheiros caem como uma luva para confirmar o que eu já desconfiava: o desejo intrínseco de uma pessoa se exibir, sua necessidade doentia de atrair a atenção dos outros, é proporcional à dimensão do seu vazio interior!
Mas não pense que estou aqui escrevendo para atacar nossos irmãos funkeiros (na verdade, desejo-lhes toda a felicidade do mundo). No momento, a minha verdadeira reflexão é a seguinte: ostentar medalhões com emblemas de cifrões de ouro, recorrer explicitamente ao sex appeal, exibir de forma infantil e até ridícula um corpo sarado, etc., não são os únicos meios de uma alma iludida tentar preencher o seu vazio interno.
Será que eu mesmo não estaria me igualando a eles quando sinto a necessidade de exibir meus supostos dotes intelectuais, quando exagero em querer demonstrar sociabilidade, quando me esforço em excesso para transparecer simpatia, quando ajo movido pelo interesse de ser aclamado como um grande espiritualista, um bom samaritano, uma pessoa caridosa e assim por diante?
Enfim, todo esforço para direcionar algum tipo de holofote para nós mesmos não passa de uma tentativa inútil (mesmo que inconsciente) de compensar e preencher algum vazio alojado em nós. E são muitos! E o pior é que, além dessa atitude não ajudar a nos preencher, ela só expande nosso vazio. Por outro lado, nos momentos em que nos sentimos inteiros, a última coisa que passa pela nossa cabeça é chamar alguma atenção. Isso porque, nesses momentos, estamos sendo aceitos por nós mesmos, e isso é o que importa. É quando nossa melhor companhia é a solidão voluntária, o silêncio acolhedor – este é o doce e saboroso preço do autoconhecimento, cujo resultado é santosha, o contentamento, a autossatisfação. De fato, nesses momentos não sentimos nenhuma necessidade de ostentar algum aspecto da nossa personalidade, já que isso impediria o nosso encontro conosco mesmo e nos privaria desse momento tão especial.
Por outro lado, o indivíduo cuja vida é pautada pelo excesso de sociabilidade, de atividades externas, de parafernálias etc., que necessita ser aceito e reconhecido, é um indivíduo que, mesmo inconscientemente, é incapaz de se aceitar.
Antes de mais nada, para poder se entender e se aceitar, o indivíduo deve buscar por nutrição espiritual. Por isso, ele deve cantar os santos nomes, deve mergulhar nas leituras, deve buscar boa associação, deve cultivar o silêncio. Só assim ele poderá acabar com seus vazios. Contudo, trata-se de um processo contínuo, pois o vazio tende a voltar, bastando deixar a mente desocupada. Então, novamente ele deve se entregar e procurar se manter vibrando constantemente os santos nomes dentro de si, deve mergulhar cada vez mais fundo nos livros de verdadeira sabedoria, deve se tornar cada vez mais ávido pela companhia constante de pessoas capazes de elevá-lo, deve aspirar permanecer o quanto for possível em ambientes calmos e silenciosos.
Os psicólogos afirmam que é na infância que a pessoa constrói seus valores, crenças e princípios. Além disso, eles garantem que toda falta de amor, compreensão e qualquer dificuldade que alguém possa experimentar nessa fase, se manifestará mais tarde. Ora, uma pessoa que aceita a iniciação espiritual se torna um dvi-ja, “duas vezes nascido”. Ou seja, não adianta ela ficar choramingando pelos cantos, não adianta amargar um passado de desamor e incompreensão. O melhor a fazer é aceitar a iniciação e renascer! Só que, dessa vez, de forma consciente. Ninguém deve perder esta segunda chance, pois somente ela pode ajudar a pessoa a acertar e corrigir o que saiu errado.
Aqui, em meio a estes irmãos funkeiros, medito em quão inútil é a tentativa de tentar eliminar os diferentes problemas do passado – que são provavelmente os responsáveis por fazer uma pessoa se sentir vazia e solitária – extravasando suas carências através de atitudes burlescas de pura ostentação. De forma semelhante, é igualmente sem sentido alguém tentar compensar sua falta de amor com algum parceiro ou parceira qualquer caso as relações sejam meramente superficiais, sem nenhum significado espiritual. Tudo isso é muito arriscado! Afinal, que garantia uma pessoa tem que não será, mais uma vez, incompreendida e mal amada? Sabemos que muitas pessoas buscam pelo amor de alguém de forma desenfreada, um atrás do outro (isso quando não aceitam vários ao mesmo tempo). Mas como nada e nem ninguém pode substituir o amor verdadeiro, sua busca torna-se infrutífera, infinita e fracassada. A única solução é a pessoa trabalhar no despertar da sua consciência. Nesse caso, um parceiro ou parceira que seja mais avançada nesse quesito poderá ajudar a pessoa a fazê-la olhar para dentro dela mesma, poderá inspirá-la a tentar preencher seu coração com a vibração sonora dos santos nomes de Deus, a saturar a sua mente e inteligência com informações sábias e autorizadas, a buscar a companhia de pessoas éticas, verazes, bondosas e devotadas a Deus. Ou seja, essas são as mudanças necessárias na vida da pessoa. Isso irá certamente preencher seus “buracos” de forma perfeita.
Já que ninguém pode mudar a história do seu passado, por que não tentar lhe dar um novo significado? Esse é o papel do conhecimento, do canto dos santos nomes e da boa associação. Tendo mudado dessa maneira o rumo de sua vida, através de um renascimento espiritual, qualquer pessoa sincera poderá transformar suas mágoas e dores em compreensão e aceitação, e nunca em ostentação. De fato, a função da verdadeira vida espiritual é preencher o indivíduo internamente com a devida consciência de Deus. A partir daí, toda e qualquer necessidade de ostentação, de se sobressair, desaparece por completo, quando a pessoa se torna “dona” dela mesma. Nesse momento, se o mundo olha para ela, se o mundo pensa ou fala dela, pouco lhe importa. A única coisa que faz sentido é experimentar a paz e o amor dentro dela mesma!
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