A Base Escritural para o Maior de Todos os Mantras
por Satyaraja Dasa
As pessoas fazem a pergunta: Por que devemos cantar o maha-mantra Hare Krsna? Quais suas evidências escriturais?
A oração central do Movimento Hare Krsna – Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare –, que é traduzida como “Ó Senhor e Tua energia! Por favor, ocupai-me a Vosso divino serviço”, é tradicionalmente chamada de maha-mantra, ou “grande mantra”, porque contém e supera todos os outros sons sagrados, e é uma oração completamente pura e desinteressada, a qual pede apenas o serviço ao Senhor Supremo e nada em troca. Esta avaliação do mantra não é um juízo de valor subjetivo, mas o veredito das escrituras e também dos sábios da sampradaya gaudiya-vaishnava. Sendo este o caso, é surpreendente que o Srimad-Bhagavatam, o Bhagavad-gita e o Chaitanya-charitamrita, os três textos mais importantes do vaishnavismo gaudiya, não citem o mantra uma vez sequer. Claro, Srila Prabhupada, em seus comentários e traduções, nos permite saber quando um verso está sugerindo o maha-mantra, mesmo quando o sânscrito ou bengali não o mencionam explicitamente. Como um professor exemplar, ou um grande acharya, na sucessão discipular, suas explicações incorporam o contexto da vasta gama de ensinamentos védicos, bem como as percepções dos sábios e santos do passado.
Foto: Devotas e devotos cantam o maha-mantra pelas ruas de Moscou.
Enquanto os textos centrais mencionados acima não incluem referências diretas ao maha-mantra, eles certamente glorificam o cantar dos santos nomes. Mas eu entendo que, para aqueles que querem saber, seria útil explorar as menções explícitas do maha-mantra nos textos escriturais. Parte de minha busca aparece abaixo. Para as primeiras referências, eu incluo o sânscrito, especialmente para os especialistas que podem duvidar de minha tradução.
Por que o Silêncio?
Até onde alcança o meu conhecimento, nenhum acharya na tradição vaishnava explicou o porquê dos textos centrais não mencionarem plenamente o maha-mantra. Talvez os acharyas tenham analisado como uma questão sem importância. Afinal, nossas escrituras principais glorificam o cantar dos santos nomes, mesmo quando o maha-mantra está ausente. Além disso, as escrituras e os mestres mantiveram como proteção da tradição a confidencialidade para certos mantras. Srila Sanatana Goswami, por exemplo, escreve em seu comentário Dig-darshini ao Brihad-Bhagavatamrta que tais mantras devem ser cantados somente por pessoas qualificadas que os receberam através da devida iniciação. Ele diz que, mesmo quando certas escrituras mencionem esses mantras, esforços especiais são muitas vezes feitos para disfarçar suas sílabas exatas, ou a sua explicação é propositadamente dificultada para a compreensão de quem não está familiarizado com os códigos enigmáticos da literatura transcendental. Krsnadasa Kaviraja Goswami, autor do Caitanya-caritamrta, a biografia mais autorizada do Senhor Caitanya Mahaprabhu, expressa uma ideia semelhante (Adi-lila 4.231-232): “Todas essas conclusões são incapazes de serem reveladas a todo o público, mas, se elas não forem divulgadas, ninguém as entenderá. Portanto, mencioná-las-ei, revelando somente sua essência, de modo que os devotos amorosos possam entendê-las, mas os tolos não”.
Foto: Devoto canta o mantra Hare Krsna com a ajuda de uma japa-mala, protegida por um “saquinho de contas”.
Em outras palavras, as escrituras e os sábios, por vezes, revelam mantras esotéricos como o maha-mantra, e, outras vezes, não. Portanto, a questão não mais se centra em por que os textos principais não mencionam o mantra, mas por que outros textos o fazem. A resposta é, como Krsnadasa Kaviraja Goswami diz, para que almas sinceras possam entendê-lo. Além disso, os grandes santos, no seu êxtase, às vezes são incapazes de se conter, e assim o maha-mantra flui através deles. Por estas e outras razões, o mantra completo aparece em textos sagrados e nos escritos dos sábios. Dito isto, não há restrições para cantar o maha-mantra, e, uma vez recebida corretamente, a prática de cantar é fácil e alegre.
Quem Se Importa?
Alguém poderia perguntar: “Quem se importa? Se a tradição ensina que o cantar de Hare Krsna é central para a prática da consciência de Krsna, o que importa se o maha-mantra não é encontrado nos textos mais importantes do Movimento?”. Em certo sentido, isso não importa. E, no entanto, a consciência de Krsna é uma tradição inteiramente fundamentada nas escrituras. Toda verdade é averiguada com referência em três autoridades: o guru, as escrituras e os sábios, especialmente os grandes mestres espirituais na sucessão discipular (acharyas). Se estes três não coincidem, a tradição ensina, então algo está errado. Na tradição vaishnava, gurus e sábios atestam a importância do maha-mantra. Mas estão nas escrituras? Uma leitura rápida pode sugerir que eles não estejam, mesmo as referências sendo altamente sugestivas. Os textos mais importantes falam dos santos nomes, mas nunca mencionam o maha-mantra diretamente. É somente no que os estudiosos consideram como “obras mais tardias” que o mantra é geralmente encontrado.
Os estudiosos modernos de fora da tradição dizem que os quatro Vedas e os Upanishads constituem os mais antigos dos textos védicos (chamados sruti), enquanto o puranas e os épicos vieram mais tarde. Consequentemente, assim diz a teoria, o vaishnavismo gaudiya, ou a consciência de Krsna, veio mais tarde também, pois a sua prática específica é mencionada apenas “mais tarde” nos textos. Estudiosos chegaram a estas conclusões usando seu próprio sistema de freios e contrapesos, menos confiáveis do que um sistema sagrado, composto de gurus, sábios e escrituras. Eles usam técnicas de linguística comparativa e histórica em conjunto com referências a textos cujas datas são conhecidas com maior segurança. Naturalmente, estes métodos são sujeitos a erros, e estudiosos geralmente admitem isso abertamente. Profissionais e acadêmicos de dentro da tradição filosófica, porém, ensinam que a consciência de Krsna é eterna e que os textos védicos, se velhos ou novos, são baseados em uma tradição oral revelada na aurora dos tempos. O maha-mantra é certamente parte da tradição védica oral. Além disso, o mantra em si, bem como referências a ele, pode de fato ser encontrado em “antigos” textos védicos que sobreviveram através dos séculos.
As Primeiras Referências
(1) O Upanisad de nome Kali-santarana, parte do Yajur Veda, afirma:
hare krsna hare krsna
krsna krsna hare hare
hare rama hare rama
rama rama hare hare
iti sodasakam namnam
kali-kalmasa-nasanam
natah parataropayah
sarva-vedesu drsyate
“Os dezesseis nomes Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare destroem as iniquidades da era de Kali. Esta é a conclusão final do todos os Vedas”.
O contexto da citação acima é importante: Este texto upanishádico é um diálogo entre o senhor Brahma, o primeiro ser criado, e Narada Muni, seu discípulo, que lhe pergunta sobre os meios mais eficazes para atingir a liberação na era atual. O senhor Brahma responde com o verso acima. E, em um verso antes, ele informa a Narada que o maha-mantra é “o verdadeiro segredo da literatura védica”, grifando assim a natureza confidencial do mantra e sua importância para a tradição vaishnava gaudiya.
(2) O Rama Tapani Upanisad (1.6) explica cada um dos nomes do maha-mantra da seguinte maneira:
harati tri-vidham tapam
janma-koti-satodbhavam
papam ca smaratam yasmat
tasmad dharir iti smrtah
“O Senhor é conhecido como Hari porque Ele livra dos pecados aqueles que se lembram dEle, livrando-os também dos três tipos de sofrimento que deles resultam. Tratam-se dos pecados que são acumulados ao longo de milhões de nascimentos”.
O Mahabharata (Uyoga-parva 7.14) explica o significado de Krsna:
krsir bhu-vacakah sabdo nas ca nirvrti-vacakah tayor
aikyam param brahma krsna ity abhidhiyate
“A raiz ‘krs’ indica a atratividade do Senhor supremo. O sufixo ‘na’ significa a alegria suprema. Assim, o nome de Krsna indica o Supremo Brahman [espírito], que é a culminação dessas duas características”.
No Padma Purana, o Satanama-stotra (8) do Senhor Ramacandra define Rama da seguinte forma:
ramante yogino ‘nante
satyanande cid-atmani
iti rama-padenasau
param brahmabhidhiyate
“Yogis, ou aqueles que desejam conexão com Deus, obtêm prazer no Eu Supremo que Se manifesta como a forma absoluta de eternidade, conhecimento e bem-aventurança. Essa mesma verdade, conhecida como o Parabrahman, também Se chama Rama”.
(3) O Caitanya Upanisad (versos 11 e 12), parte do Atharva Veda, nos diz que o maha-mantra Hare Krsna é composto inteiramente dos nomes de Krsna:
svanama-mula-mantrena sarvam hladayati vibhuh sa eve mulam mantram japati harir iti krsna iti rama iti
“O nome de Deus é a raiz de todos os mantras, algo esplêndido que leva felicidade a todos. Este mantra raiz é entoado com as palavras Hari, Krsna e Rama”.
harati hrdaya-grantham vasana-rupam iti harih. krsih smarane tac ca nas tad-ubhaya-melanam iti krsnah ramayati sarvam iti rama anandarupah. atra sloka bhavati.
“Hari é o que remove o nó no coração na forma do desejo material. É possível nos unirmos ao Senhor lembrando a raiz ‘krs’ e o sufixo “na”, o que nos dá o hino final de louvor: Krsna. E Rama é aquele que dá prazer a tudo e é a forma da felicidade”.
Porque a palavra Hare é o caso vocativo tanto para Hari (um nome de Krsna) quanto para Hara (um nome de Radha), alguns textos, como o que acabamos de citar, interpreta “Hare” no maha-mantra como uma invocação a Krsna. Comentadores posteriores, no entanto, insistem que, na sua interpretação mais abrangente e espiritualmente sublime, “Hare” refere-se a Radha, a eterna consorte de Krsna e a própria personificação de Sua potência de prazer espiritual. O acharya Srila Jiva Goswami aponta nessa direção quando, em sua explicação do maha-mantra no Maha-mantrartha-vyakhya, escreve (versos 1 e 2):
hare krsna hare krsna
krsna krsna hare hare
hare rama hare rama
rama rama hare hare
sarva-ceta-harah krsnas
tasya cittam haraty asau
vaidagdhi-sara-vistarair
ato radha hara mata
“Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Krsna rouba a mente de todos os seres vivos [Hari], mas Radharani rouba mesmo a Sua mente quando Ela usa Seus talentos espirituais. Ela, portanto, é conhecida como ‘Hara’”.
(4) O Ananta-samhita, outro texto antigo, afirma:
hare krsna hare krsna
krsna krsna hare hare
hare rama hare rama
rama rama hare hare
sodasaitani namani
dvatrimsad varnakani hi
kalau yuge maha-mantrah
sammato jivatarane
varjayitva tu namaitad
durjanaih parikalpitam
chandobaddham susiddhanta
viruddham nabhyaset padam
tarakam brahma-namaitad
brahmana gurunadina
kalisantaranadyasu
sruti-svadhigatam hareh
praptam sri brahma-sisyena
sri naradena dhimata
namaitad-uttamam srauta-
paramparyena brahmanah
utsriyaitan-maha-mantram
ye tvanyat kampitam padam
mahanameti gayanti
te sastra-guru langhanah
tattva-virodha-samprktam
tadrsam daurjanam matam
sravatha pariharyam syad
atma-hitarthina sada
hare krsna hare krsna
krsna krsna hare hare
hare rama hare rama
rama rama hare hare
“Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Este mantra de dezesseis nomes e trinta e duas sílabas é o maha-mantra para a era de Kali, e é por este mantra que todos os seres vivos podem ser libertos. Nunca se deve abandonar esse mantra e adotar outros processos ditos religiosos praticados por almas menos qualificadas em conhecimento. Também não se devem cantar invenções ou combinações dos nomes de Krsna que contradizem as conclusões puras das escrituras ou são repletos de emoções incongruentes. Em relação a este divino e espiritual maha-mantra, que liberta da existência material, o guru original, o senhor Brahma, disse: ‘O Upanisad de nome Kali-santarana declarou que este mantra é o melhor meio de liberação na era de Kali’. Depois de ouvir tudo isso do senhor Brahma, todos os seus filhos e discípulos, começando por Narada Muni, aceitaram o maha-mantra Hare Krsna e, depois de meditarem nele, alcançaram a perfeição”.
(5) No Yamalatantra Brahma, um antigo livro de instruções sobre rituais, encontra-se o seguinte:
harim vina nasti kincat
papani-starakam kalau
tasmal-lokoddharanartham
hari-nama prakasayet
sarvatra mucyate loko
maha-papat kalau yuge
hare-krsna-pada-dvandvam
krsneti ca pada-dvayam
tatha hare-pada-dvandvam
hare-rama iti dvayam
tad-ante ca maha-devi
rama rama dvayam vadet
hare hare tato bruyad
harinama samud dharet
maha-mantram ca krsnasya
sarva papa pranasakam iti
“Sem Hari, não há nenhuma maneira de erradicar os pecados da era de Kali, em virtude do que é essencial que o nome de Hari (hari-nama) possa reverberar em todos os mundos. Por essa reverberação, todas as dimensões poderão ser libertadas dos grandes pecados da era de Kali. Primeiro, deve-se cantar duas vezes ‘Hare Krsna’, então duas vezes ‘Krsna’, então duas vezes ‘Hare’, então duas vezes ‘Hare Rama’, e, no final, deve-se cantar ‘Rama’ duas vezes e, depois, ‘Hare Hare’. Desta forma, deve-se pronunciar o hari-nama maha-mantra de Krsna, que destrói todos os pecados”.
(6) Do Tantra Radha:
srnu matarmahamaye
visva-bija-svarupini
hari namno mahamaye
kramam vad suresvari
“Ouvi-me, ó mãe Mahamaya, semente do universo, senhora dos semideuses! Peço-Vos que expliqueis a sequência de hari-nama”.
hare krsna hare krsna
krsna krsna hare hare
hare rama hare rama
rama rama hare hare
dvatrmsad aksaranyeva
kalau namani sarvadam
etan mantram suta srestha
prathamam srnuyan narah
“Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Ó melhor dos filhos, é assim que você deve cantar essas trinta e duas sílabas e dezesseis nomes na era de Kali. Este mantra deve ser ouvido por todos os seres humanos”.
(7) Dhyanacandra Goswami, seguidor pioneiro de Caitanya Mahaprabhu, faz referência a um texto védico antigo ao descrever o maha-mantra Hare Krsna em seu Gauragovindarcana-smarana-paddhati (132-136):
“Existem três mantras a Krsna que são muito puros e poderosos. Eles são famosos por outorgar amor a Deus a seus recitadores. O samhita de nome Sanat-Kumara alude ao primeiro mantra: ‘As palavras ‘Hare Krsna’ são repetidas duas vezes, e então ‘Krsna’ e ‘Hare’ são ambos separados e repetido duas vezes da mesma maneira. Depois disso, ‘Hare Rama’, ‘Rama’ e ‘Hare’ são repetidos duas vezes. O mantra assim flui como se segue: ‘Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare’. A meditação que acompanha este maha-mantra também é encontrada no mesmo samhita: ‘Sri Krsna está se jogando nas águas refrescantes do Yamuna ou à sombra de uma árvore kadamba da floresta de Vrndavana. Ele é bonito e é acompanhado por vacas, vaqueirinhos e por Sri Radha. Ele é muito hábil em tocar Sua flauta enquanto de pé em uma postura curvada em três pontos. Ele é sempre bondoso e cheio de misericórdia para com Seus devotos’”.
(8) Gopala Guru Goswami, o sucessor do Dhyanacandra, cita o Brahmanda Purana, que discute os nomes no maha-mantra: “O Senhor é conhecido como Hari porque Ele tira a ignorância de Seus devotos. De fato, Ele lhes revela sua verdadeira natureza e sua forma pessoal e espiritual. Porque Radha, a alegria de Krsna, rouba a mente de Krsna, Ela é conhecida pelo nome Hara. Aquele de cor escura, o Senhor de olhos de lótus, o verdadeiro mestre da mais alta bem-aventurança, que leva prazer a Gokula, o filho de Nanda, é conhecido como Krsna. Ele é também conhecido como Rama, porque as alegrias da vida conjugal são a essência de Seu ser, dado que Ele é a divindade encarnada dos passatempos de amor e por ser Ele aquele que leva prazer a Srimati Radharani”.
O Maha-Mantra na Literatura Mais Recente
Enquanto o conteúdo acima representa as poucas referências ao maha-mantra nos textos védicos mais antigos, a grande maioria de referências ao mesmo aparece no corpus posterior da literatura vaishnava. Nessas referências, o maha-mantra é por vezes apresentado em sua totalidade. Outras vezes, entretanto, é fornecida apenas uma referência, com o maha-mantra sendo indicado simplesmente pelas palavras “Hare Krsna”. Aqui estão apenas alguns exemplos de ambos:
(1) Rupa Goswami, líder entre os associados principais de Caitanya Mahaprabhu, elogia o cantar de Hare Krsna em seu Laghu-Bhagavatamrta (1.4): “As sílabas ‘Hare Krsna’ emanam da boca de Sri Caitanya, mergulhando o universo no amor a Deus. Que esses nomes sejam glorificados!”.
(2) Sri Rupa anseia novamente atingir o público de Sri Caitanya, que está sempre cantando Hare Krsna. Ele escreve em Stavamala, Prathama Caitanyastakam: “Quando Sri Caitanya Mahaprabhu, cuja língua está sempre dançando com o canto alto de Hare Krsna, que conta o número de vezes que Ele canta na faixa de pano maravilhosa ao redor de Sua cintura, com nós para contas, cujos olhos são tão grandes que parecem alcançar Seus ouvidos e cujos braços estendem-se até Seus joelhos, tornar-Se-á novamente visível a mim?”.
(3) Baladeva Vidyabhusana, um professor do século XVIII, importante na tradição gaudiya, confirma em seu Stava-malavibhusana-bhasya que “Hare Krsna”, no referido verso de Rupa Goswami, refere-se às trinta e duas sílabas do maha-mantra: “O mantra Hare Krsna foi retumbante na boca do Senhor Caitanya Mahaprabhu. O mantra composto por dezesseis nomes e trinta e duas sílabas dançava em Sua língua”.
(4) Raghunatha Dasa Goswami, um dos famosos seis Goswamis de Vrndavana, escreve em seu Saci-sunvastakam (5): “Quando será que o filho de mãe Saci [Sri Caitanya], que, tendo os moradores da Bengala como Seus filhos, os inspirou a cantar Hare Krsna um determinado número de vezes por dia, e que, como um pai querido, lhes deu muitas instruções, tornar-Se-á novamente visível a mim?”.
(5) Sarvabhauma Bhattacharya, um associado íntimo do Senhor Caitanya, afirma em seu Caitanyasatakam (64): “Vendo as pessoas do mundo afligidas pelos pecados da era de Kali, Sri Caitanya Mahaprabhu pessoalmente lhes deu o santo nome e ordenou-lhes que executassem em voz alta o canto congregacional do maha-mantra, dançando e tocando instrumentos musicais”.
(6) O exemplo seguinte de Sri Caitanya cantando o maha-mantra é encontrado no Caitanya-mangala, de Locana Dasa Thakura: “Quando Mahaprabhu visitou a casa de um brahmana e o abraçou, o kirtana que se seguiu fez aquela casa se tornar tal qual Vrndavana, e uma multidão de pessoas se reuniu para ouvir e cantar os santos nomes: Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare”.
(7) No Caitanya-bhagavata (2.23.75-78), a primeira biografia do Senhor Caitanya, Srila Vrndavana Dasa Thakura cita o maha-mantra diretamente: “O Senhor ordenou a todos: ‘Ouçam com grande alegria o maha-mantra dos nomes de Krsna: Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare’. Falei este que é o maha-mantra. Cantem japa com este mantra um determinado número de vezes. Toda a perfeição será alcançada através disto. Cantem este mantra a cada momento. Não há outra regra”.
(8) No Caitanya-bhagavata (1.14.143-147), Srila Vrndavana Dasa Thakura cita instruções do Senhor Caitanya para Tapana Misra: “Tudo se dá por meio de hari nama sankirtana, incluindo o objetivo da vida e os meios para sua obtenção. Nesta era de Kali, o único meio para a liberação é o cantar dos nomes de Hari. Não há outra maneira, não há outra maneira, não há outra maneira. Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Este versículo de nomes é chamado maha-mantra. Ele contém dezesseis nomes do Senhor e é composto por trinta e duas sílabas. Recitar este mantra repetidamente desperta o rebento do puro amor a Deus de dentro do coração. Assim, através do cantar, o objetivo da vida e os meios para seu auferimento são compreendidos”.
Conclusão
Os grandes acharyas na sucessão discipular de Sri Caitanya (a linhagem representada pelo Movimento Hare Krsna) fornecem ao mundo numerosas indicações e instruções sobre o cantar do maha-mantra. Portanto, embora não explicitamente citados nos três primeiros textos mencionados no início deste artigo, a referência implícita ao mantra permeia a tradição. O Srimad-Bhagavatam, em seu todo, gira, na verdade, em torno de ouvir e cantar Hare Krsna, com muitas referências a hari-kirtana e hari-sankirtana, o que também acontece em relação ao Bhagavad-gita. Ambos os textos glorificam as grandes almas que sabem que cantar os nomes do Senhor é a prática central da vida espiritual. O Caitanya-caritamrta, biografia de maior profundidade de Caitanya Mahaprabhu, aponta que toda grande mudança na vida do Senhor tem destaque no cantar. Por exemplo, aprendemos como o maha-mantra mudou Seu curso logo no início de Sua vida, e como outros foram inspirados e iluminados com Sua difusão do cantar.
No entanto, como dito anteriormente, o maha-mantra se destina a ser transmitido por um mestre espiritual fidedigno a um discípulo sincero. Claro, a tradição ensina que qualquer um pode cantar, e que não há regras rígidas e severas para o fazer. Mas o próprio exemplo de Caitanya Mahaprabhu mostra que mesmo Ele recebeu o maha-mantra de Isvara Puri, Seu mestre espiritual, para que Se intoxicasse com o amor a Deus. Em outras palavras, o fruto real do mantra é dado por alguém que já desfrutou de seus frutos. E as escrituras, enquanto encorajam o devoto a buscar por iniciação, em geral apenas fazem alusões ao mantra e à sua eficácia, com o efeito total disponível somente quando o indivíduo se rende ao mestre espiritual em sucessão discipular.
Foto: Prabhupada entrega um jogo de contas, japa-mala, a uma discípula recém-iniciada em tradicional cerimônia.
Mas revisitemos por um momento a questão de por que o maha-mantra não é encontrado nos textos centrais do Movimento Hare Krsna. Primeiro de tudo, era originalmente um mantra sruti, encontrado em textos como o Kali-santarana Upanisad, citado anteriormente. Sendo este o caso, considerou-se um mantra confidencial, e, como tal, deveria ser revelado não explicitamente, como atestam Sanatana Goswami e Krsnadasa Kaviraja Goswami. Isso explicaria por que não é explicitamente encontrado no Srimad-Bhagavatam ou Bhagavad-gita, embora estas escrituras enfatizem a importância de cantar os santos nomes de Krsna. Contudo, Caitanya Mahaprabhu quebrou a restrição ao acesso ao reservatório ilimitado de amor a Deus e assim deu início à verdadeira glória do maha-mantra, tanto em termos de sua infinita potência quanto ao que ocasionaria sua acessibilidade a todos. De fato, Ele revelou tratar-se da dispensação especial da atual era de desavenças e hipocrisia.
Por que o maha-mantra não se encontra no Caitanya-caritamrta? Krnadasa Kaviraja Goswami escreve que ele não repetiria indevidamente coisas reveladas pelo biógrafo anterior, Srila Vrndavana Dasa Thakura, quem, como vimos, de fato menciona o maha-mantra. Com base na informação explícita de seus antecessores, Krsnadasa Kaviraja Goswami escreve muitos versos glorificando o cantar do santo nome. Quando ele usa palavras como hari-nama e maha-mantra, os seus leitores sabiam ao que ele se referia.
Desta forma, as escrituras ou os grandes acharyas às vezes revelam o maha-mantra completo, às vezes não. Porém, uma coisa é certa: aqueles que são sinceros por fim recebem os santos nomes e, destarte, alcançam a perfeição.
Tradução: Bruno Rocha. Revisão: Bhagavan Dasa, Prana-vallabha Devi Dasi.
Jay Nityananda! Jay Gouranga! Jay Guruparampara! Hare Krishna!
22 de fevereiro de 2013 às 11:26 PM