Dívidas
Bhagavan Dasa Bhakti-sastri
Segundo dados estatísticos de 2012 do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o Brasil hoje conta com 32,5 milhões de cidadãos endividados. O instituto reporta ainda que o valor médio da dívida das famílias brasileiras é de quase R$ 5.000 reais, e, conforme dados do IEF (Índice de Expectativa das Famílias), apenas menos de 15% dos endividados acreditam ter meios para honrar inteiramente seus compromissos, ao passo que 48% acreditam poder quitar suas dívidas apenas parcialmente, e isto no decorrer de um ano, e quase 37% das famílias não têm condição de pagar suas dívidas mesmo sob negociações favoráveis.
Estar inadimplente pode gerar várias consequências negativas para o devedor, entre elas ter seu nome incluído em cadastros que geram restrição ao crédito, como o SPC e Serasa; ter de conviver com a ansiedade do efeito “bola de neve” dos juros das dívidas, sobretudo no Brasil, cujos juros, por exemplo, em cartões de crédito e cheque especial figuram entre os mais altos do mundo, entre outras consequências.
Talvez alguém mais irresponsável pudesse seguir vivendo com a consciência tranquila mesmo sabendo que está endividado e que esta dívida está crescendo, simplesmente fingindo que ela não existe; contudo, a constituição brasileira possui várias formas de cobrança: Em dívidas em que um bem adquirido funciona como garantia de pagamento, esse bem é tomado de volta caso as parcelas não sejam quitadas, o que é comum em financiamentos de longo prazo. Em outras situações, pode haver penhora de outros patrimônios do devedor, como joias, carros e ações. Há ainda a possibilidade de que as dívidas da pessoa recaiam sobre outrem, como em casos de dívidas com avalista, o que, segundo o Procon, compromete a vida social do devedor, que tende a perder a confiança e a amizade do avalista e dos benquerentes do mesmo.
A Dívida da Alma
Estes dados da vida financeira dos brasileiros são alarmantes; porém, as escrituras sagradas informam-nos que temos uma dívida muito maior e mais sutil e arraigada, e cuja cobrança é muito mais incisiva do que as cobranças financeiras que ocorrem no Brasil.
Foto: Papa-purusha, o pecado personificado.
De acordo com os ensinamentos védicos, todos aqueles que estão no mundo material, o mundo de nascimentos e mortes, possuem uma dívida de atos pecaminosos, ou atos contrários à vontade de Deus. Os Vedas nos ensinam ainda que estamos acumulando atividades pecaminosas desde um passado irreconstituível, de incontáveis vidas. Tantas são nossas vidas em pecado que as palavras mais comumente utilizadas para designar a quanto tempo procedemos com esse acúmulo são nitya e anadi, respectivamente, “eternamente” e “sem começo”.
Os ensinamentos da antiga Índia nos informam, então, que tais dívidas de atos pecaminosos geram juros muito altos, os quais são chamados tecnicamente de kutam, que é uma sorte de juros que se acumula sobre juros anteriores na consequência de que um ato pecaminoso promove um contínuo e intensificado envolvimento com o pecado. Por exemplo, esse juro composto em um usuário de drogas aparece na forma de que, para ter o mesmo efeito com uma droga que tinha nas primeiras vezes que fez uso dela, precisa utilizá-la cada vez mais, isso quando não desenvolve o desejo de usar drogas mais fortes. Uma pessoa dada a jogos de azar, similarmente, tenta ganhar o dinheiro e as posses que perdeu fazendo novos jogos. Um indivíduo que se coloque a criticar pessoas religiosas tem por consequência que se afasta das pessoas religiosas e passa a frequentar meios e fazer amizades com pessoas que têm a mesma tendência a criticar pessoas religiosas, o que fortalece sua convicção de que está correto em criticar e amplia suas críticas cada vez mais. Alguém que tem o prazer dos genitais como a motivação da vida tende a buscar cada vez por mais variedade de gozo sexual, o que tende a conduzir a práticas sexuais ilícitas, haja vista que a luxúria “nunca é satisfeita e queima como o fogo” (Bhagavad-gita 3.39).
Tais atos pecaminosos muitas vezes não geram resultados imediatamente, muitos podendo tardar em muitas vidas até frutificarem, mas ficam todos “arquivados” em um estado chamado aprarabdha, ou “estado imanifesto”, assim como alguém que deve o Estado pode temporariamente evitar o pagamento de suas dívidas ou assim como um criminoso espera seu julgamento muitas vezes em liberdade. Cedo ou tarde, no entanto, os pecadores, sobre quem há uma fiscalização infalível, são cobrados em sua dívida de pecados com todos os juros, cobrança esta que aparece na forma de nascimento, doença, velhice e morte ou, a mesma coisa diferentemente categorizada, sofrimentos causados por outras entidades vivas, causados por nós mesmos e causados por fenômenos naturais.
Foto: O avatara Kapiladeva descreve à Sua mãe os tormentos pelos quais as almas condicionadas têm de passar em decorrência de suas atividades pecaminosas.
Na Bíblia, encontramos sucintamente que “o preço do pecado é a morte” (Romanos 6.23), e na obra Srimad-Bhagavatam (3.31.1-32) encontramos o que parece ser o detalhamento desse preço da existência mortal. Srila Prabhupada resume a mencionada descrição do Srimad-Bhagavatam com estas palavras:
Temos sofrido desde o começo de nosso nascimento quando, como bebês, estivemos hermeticamente confinados no ventre materno durante nove meses. Após o nascimento, o sofrimento continua; mesmo que a mãe tome todo o cuidado com seu filho, ainda assim o bebê chora. Por quê? Porque ele está sofrendo. Ou está sendo mordido por um inseto, ou sente alguma dor de estômago, ou sofre de algum outro mal. Mas o sofrimento continua, seja qual for o caso. A criança também sofre quando é forçada a ir à escola, pois não quer ir. Ela não quer estudar, mas o professor lhe dá deveres mesmo assim. Se analisarmos cuidadosamente nossas vidas, verificaremos que estão cheias de sofrimento. (Elevação à Consciência de Krishna, 1)
Após a morte, o pecador que sofreu ao longo de toda a vida “vai sozinho para as mais escuras regiões do inferno” (Srimad-Bhagavatam 3.30.31). Então, “tendo sido submetido a toda espécie de miseráveis condições infernais e tendo passado em ordem regular pelas mais baixas formas de vida animal que antecedem o nascimento humano, e tendo assim purgado seus pecados, o indivíduo renasce como um ser humano na Terra” (idem 3.30.34), onde o cíclico sofrimento da vida terrestre é retomado a partir dos sofrimentos no ventre materno.
Algas Marinhas e Banho do Elefante
Algumas vezes, tenta-se evitar tais sofrimentos no mundo material, mundo este que Sri Caitanya chama de “oceano de ignorância” (Siksastaka 5). Sobre as tentativas de cruzar tal oceano, Bhaktivinoda Thakura diz em seu comentário ao Siksastaka:
Ocasionalmente, um pequeno aglomerado de algas marinhas pode ser visto boiando a esmo; tratam-se das algas marinhas dos processos de karma, jnana, yoga, tapasya e assim por diante. Alguém, no entanto, alguma vez cruzou o oceano da ignorância agarrando-se a essas algas marinhas insignificantes? Tudo o que vi foi que às vezes algumas pessoas, enquanto tentam nadar de modo a cruzar este oceano, alcançam tais algas e se agarram a elas, mas tudo o que conseguem é afogarem-se junto com a alga, assim como se afoga uma pedra inanimada.
No processo de karma, tenta-se evitar o sofrimento mediante a autopromoção a planetas superiores, onde há longa duração de vida, praticamente não há velhice ou doença, há muito conhecimento, harmonia e outras coisas. Contudo, a estadia em tais planetas decorre do acúmulo de bom karma, ou atividades piedosas, e, uma vez que esses créditos piedosos sejam esgotados, tem-se que nascer novamente em planetas inferiores, como Krsna explica no Bhagavad-gita (9.21): “Após desfrutarem desse imenso prazer celestial dos sentidos e terem esgotado os resultados de suas atividades piedosas, eles regressam a este planeta mortal”, assim como alguém que trabalhou arduamente durante o ano, após gastar seu dinheiro em férias “celestiais” tem novamente de retomar o trabalho penoso em sua empresa para ganhar mais dinheiro.
Algumas vezes, o processo de karma não é adotado por alguém para poder ir para os planetas celestiais, isto é, acumular excesso de bom karma, mas é adotado como maneira de ao menos não ir para os planetas infernais, isto é, a fim de não morrer com excesso de mau karma. Semelhante prática também é tida como insatisfatória para findar o sofrimento da entidade viva, pois essa evitação de más atividades e promoção de caridade ordinária e outras práticas podem expiar reações pecaminosas vindouras, mas não são medidas suficientes para extirpar do coração a tendência a pecar. Assim é que vemos que existem muitas pessoas que fazem caridade porém não são interiormente caridosas, adoradoras de Deus ou íntegras. Tal expiação que combate os efeitos do pecado e não a tendência a agir pecaminosamente é assim rejeitada pelo rei santo Pariksit, como registra o Srimad-Bhagavatam (6.1.9):
Pode ser que alguém saiba que a atividade pecaminosa lhe é prejudicial, pois ele realmente vê que um criminoso é punido pelo governo e hostilizado pelas pessoas em geral e porque fica sabendo através das escrituras e dos sábios eruditos que quem comete atos pecaminosos é atirado a condições infernais na próxima vida. Entretanto, apesar de ter esse conhecimento, ele é impelido a cometer pecados vezes e mais vezes, mesmo após executar atos de expiação. Portanto, que adianta tal expiação? Às vezes, alguém que faz tudo para não cometer atos pecaminosos é novamente envolvido pela vida pecaminosa. Portanto, considero que esse processo de repetidos pecados e expiações é inútil. É como um banho de elefante, pois o elefante limpa-se tomando um banho completo, porém, logo que retorna à terra, joga poeira sobre todo o seu corpo.
Foto: Sukadeva, sobre o assento elevado, e o rei santo Pariksit, à sua frente, no diálogo registrado na obra Srimad-Bhagavatam.
Podem-se expiar os maus-tratos a um idoso em vidas passadas, por exemplo, abrindo um asilo; contudo, embora isso possa expiar a reação pecaminosa que viria a se manifestar, não torna o coração da pessoa um coração que realmente sabe ver nos idosos pessoas dignas de amor por serem queridas a Deus, nem seu coração se torna um coração capaz de amar e cuidar verdadeira e integralmente. Assim, enquanto o indivíduo expia seus atos de vidas passadas mantendo financeiramente o asilo, seu coração ainda incapaz de amar ofenderá novas entidades vivas, entre idosos, adultos, jovens e animais. Diante disso, não é de surpreender que doutrinas baseadas em tais métodos de expiação sempre protelem a salvação de seus adeptos para um inimaginável futuro distante em incontáveis vidas, pois, durante a expiação de uma ofensa, muitíssimas outras estão sendo cometidas simultaneamente, isto quando a própria expiação não é, em si, um novo pecado, como caridades na forma de distribuição de “alimentos” produzidos a custo de desnecessário sofrimento animal ou tentativas de remediar a posição explorada da mulher dando-lhe direitos legais de abortar e ser adúltera.
Assim como apresentamos algo da análise védica de como o processo expiatório de karma é incapaz de cessar o enredamento da alma no tormentoso oceano de nascimentos e mortes, as escrituras fazem o mesmo com outros processos, como os mencionados jnana, yoga e tapasya.
Perdão da Dívida
Certamente é desprazeroso alguém descobrir que tem uma dívida cujos juros tornam-na impagável. E pior: Descobrir que outros que tentaram pagar dívida semelhante recorrendo às instruções de grandes contabilistas, doutos em karma, jnana etc., não foram capazes de o fazer.
Em meio a tantas más notícias, há uma boa nova. Assim como presidentes de países de primeiro mundo às vezes perdoam dívidas internacionais de países pobres e completamente incapazes de pagar, Deus nos oferece oportunidade semelhante, dispondo-Se a perdoar todos os nossos pecados. Parece uma boa proposta, não é verdade? Será que tem algum asterisco? Alguma cláusula contratual obscura? Será que é mais uma alga marinha tentando se passar por barco?
sarva-dharman parityajya
mam ekam saranam vraja
aham tvam sarva-papebhyo
moksayisyami ma sucah
“Abandona (parityajya) todas as variedades (sarva) de religião (dharman), [como a tentativa de se livrar do sofrimento mediante expiações de ordem karma-kandha], e vem (vraja) exclusivamente (eka) a Mim (mam) em busca de refúgio (saranam). Eu (aham) te (tvam) livrarei (moksayisyami) de todos (sarva) os pecados (papebhyo). Não (ma) temas (sucah)”. (Bhagavad-gita 18.66)
Foto: Krsna fala a Arjuna o Bhagavad-gita, cujo resumo está no verso 18.66.
Prabhupada, em seu significado a este verso, chama atenção para o fato de que primeiro acontece a rendição, e depois a pessoa se livra de seus pecados. Assim, uma pessoa envolvida em atividades pecaminosas não deve ficar hesitante quanto a buscar o refúgio de Krsna, pois, se Ele diz que livrará de suas atividades pecaminosas a pessoa que se rende a Ele, Krsna pressupõe que o indivíduo O buscará ainda em um estado impuro e caído.
Foto: Devotos adorando exclusivamente Krsna, sem envolvimento com comunicações com espíritos ou adoração a grandes materialistas ou semideuses.
Visvanatha Cakravarti, outro comentador do Bhagavad-gita na sucessão discipular autorizada, comenta por que Krsna diz que se deve buscar exclusivamente (eka) a Ele para esse livramento da dívida dos pecados: “Eu te livrarei de todas as reações pecaminosas – de ações pecaminosas de um passado distante, de um passado recente… Isto é possível para Mim, embora seja impossível para qualquer outro refugiador”. Devemos buscar apenas por Krsna pela salvação por que ninguém mais – como espíritos, grandes materialistas ou semideuses (Cf. Bhagavad-gita 17.4) – o pode fazer, haja vista que não são capazes de salvar sequer a si mesmos, dado que estão presos, respectivamente, pelos modos da ignorância, da paixão e da bondade material. Krsna, por outro lado, está além dos três modos da natureza material e é o controlador dos mesmos, de forma que jamais é atado por eles e pode libertar qualquer alma condicionada por essa poderosa energia tríplice:
Fica sabendo que todos os estados de existência – sejam eles em bondade, paixão ou ignorância – manifestam-se por Minha energia. Em certo sentido, Eu sou tudo, mas Eu sou independente. Eu não estou sob a influência dos modos da natureza material, porque eles, ao contrário, estão dentro de Mim. Iludido pelos três modos, o mundo inteiro não conhece a Mim, que estou acima dos modos e sou inesgotável. Esta Minha energia divina, que consiste nos três modos da natureza material, é difícil de ser suplantada. Contudo, aqueles que se rendem a Mim podem facilmente transpô-la. (Bhagavad-gita 7.12-14)
Para Onde Vão Nossos Pecados?
A ciência védica ensina que quando alguém concede refúgio a outrem, o refugiador é responsável pela conduta e pela consequência da conduta daqueles que voluntariamente se submetem a ele, compartilhando dos resultados de suas atividades. O Srimad-Bhagavatam (4.20.14) ensina que um rei, por exemplo, tem que sofrer pelos atos pecaminosos dos cidadãos caso não os oriente bem. Assim, um político que promove entre seus cidadãos a consciência de que o aborto é uma conduta aceitável terá de sofrer reações pecaminosas pelo aborto feito pelos cidadãos, mesmo caso ele pessoalmente jamais pratique o aborto. Devemos entender, portanto, que a posição de orientar a conduta de outros é de grande responsabilidade. Como apenas Deus é sábio o bastante para guiar as pessoas, e só Ele é poderoso o bastante para receber as reações pecaminosas daqueles que procuram por refúgio, as escrituras nos ensinam que a única orientação que reis e gurus podem dar seguramente aos cidadãos e discípulos é conduzir aos ensinamentos de Deus e ao refúgio de Deus essas pessoas que os buscam.
No Caitanya-Bhagavata, uma biografia autorizada do avatara de Krsna para a atual era, chamada era de Kali, encontramos uma descrição bastante tácita de como Krsna, nesse avatara dourado de nome Caitanya Mahaprabhu, aceitou os pecados de dois indivíduos muito pecaminosos que buscaram por Seu refúgio. A descrição é esta:
“Todos vós devotos aqui presentes testemunhai como destruo todos os pecados destas duas almas”, disse Caitanya Mahaprabhu. Em um instante, não se encontrava mais nenhum pecado nos corpos de Jagai e Madhai. Para que todos entendessem que Ele havia aceitado as reações pecaminosas dos dois, o corpo do Senhor Caitanya ficou enegrecido. “Por que todos vós estais olhando para Mim dessa maneira?”, o Senhor perguntou. “Porque estás semelhante ao Senhor Krsna, a lua de Gokula”, respondeu Advaitacarya. O Senhor Caitanya riu ao ouvir as inteligentes palavras de Sri Advaita, e todos os devotos expressaram sua alegria com exclamações jubilosas. Caitanya Mahaprabhu disse: “Vejam. Este negrume vem dos pecados de Jagai e Madhai”. (Madhya 13.298-302)
Caitanya Mahaprabhu é chamado de Gaura Hari, porque ele é Hari, Deus, porém com semblante dourado. Sri Advaita, ao vê-lO enegrecido pelos pecados de Jagai e Madhai, brinca que Ele está parecido com Krsna porque Krsna é negro como nuvens de chuva. Após esclarecer que aquela escuridão era o pecado dos novos devotos Jagai e Madhai, o Senhor Caitanya mandou que os devotos começassem a cantar os santos nomes do Senhor, momento no qual Caitanya retomou Sua coloração similar ao ouro derretido e disse: “Esses pecados agora entrarão nos corpos daqueles que criticam os devotos”.
O Santo Nome
Foto: Devoto Sacinandana Swami cantando o santo nome com o acompanhamento de um harmônio.
A sabedoria védica nos ensina algo maravilhoso sobre a natureza de Deus: Uma vez que Deus é absoluto, não há diferença entre Deus e Seu nome. Se falamos “manga”, isso não é o mesmo que comermos uma manga, pois a manga em si e o nome que designa tal fruta são diferentes um do outro. Contudo, quando falamos “Krsna”, estamos imediatamente na presença pessoal de Krsna, ou Deus, em virtude do que nos abrimos à oportunidade de limparmos inteiramente nosso coração por Sua presença imaculavelmente pura.
Se os nomes de Krsna são realmente iguais a Krsna, as escrituras devem atribuir à rendição ao santo nome de Krsna o mesmo que atribuem à rendição a Krsna, ou seja, o desfazimento dos pecados passados. E isto é precisamente o que encontramos sobre os nomes de Krsna.
No Srimad-Bhagavatam (6.2.7), por exemplo, encontramos: “Ajamila [um indivíduo que se envolveu com adultério e outros pecados] já expiou todas as suas ações pecaminosas. Com efeito, ele já expiou não apenas os pecados cometidos em uma vida, mas aqueles realizados em milhões de vidas, pois, em uma condição desamparada, ele cantou o santo nome de Narayana [Krsna]”.
Em uma obra ainda mais antiga, o Kurma Purana (citado em Prema Vivarta 20), figura o seguinte verso: “O processo de cantar o santo nome de Krsna tem o poder de erradicar todas as reações pecaminosas acumuladas. Tantas são as reações pecaminosas que o santo nome pode absolver que, com efeito, o santo nome é capaz de absolver mais reações pecaminosas do que a quantia de pecados que alguém é capaz de cometer”.
Assim, vemos que o que Krsna diz fazer, remover os pecados daqueles que Se rendem a Ele, também é um atributo que aparece em Seu nome, o que endossa o ensinamento de que Krsna e Seu nome não são diferentes. Por conseguinte, ninguém precisa esperar que Krsna, ou Deus, venha pessoalmente à Terra para então se render a Ele, senão que Ele está prontamente acessível a nós na misericordiosa forma de Seu santo nome, juntamente com o representante dEle, o mestre espiritual na sucessão discipular que começa com Ele próprio.
O Mestre Espiritual
O mestre espiritual, ou guru, é definido na tradição devocional védica como o representante de Krsna. Srila Prabhupada utiliza um termo muito interessante para a posição do guru, o qual ele chama de “o meio transparente”. O guru deve ser um meio transparente para Deus em duas direções: de Deus para o discípulo, e do discípulo para Deus. Quando Deus quer instruir uma alma condicionada, o guru é um meio transparente de Deus para o discípulo, ou ouvinte: O guru diz apenas o que o próprio Deus disse no Bhagavad-gita e outras obras similares, sem modificar nada. Quando Deus quer ouvir as glorificações de uma alma condicionada, o guru é o meio transparente do discípulo para Deus: Quando o discípulo fica contente pelas instruções recebidas e elogia o guru, este, em sua transparência, deixa que o elogio o “atravesse” e chegue a Deus, de quem o guru entende vir qualquer sucesso seu em levar bem-aventurança aos seus instruídos.
Assim, a posição de guru é uma posição que exige muitas qualidades, principalmente se colocar como alguém que não pode desenvolver nenhum conhecimento mediante especulação, e assumir a postura humilde de saber que todas as glórias com que acaso se encontre são glórias de Deus, de modo que toda honraria deve ser devidamente encaminhada ao Supremo.
Outra responsabilidade do guru, mais precisamente na temática deste artigo, é que cabe a ele tomar para si as reações pecaminosas, ou o karma, de seus discípulos. Srila Prabhupada explica:
Ninguém, exceto a Suprema Personalidade de Deus, é capaz de neutralizar as reações de atos pecaminosos, quer seus próprios, quer alheios. Algumas vezes, o mestre espiritual, após aceitar um discípulo, tem que se encarregar das atividades pecaminosas passadas desse discípulo, e, ao ficar sobrecarregado, tem às vezes que sofrer – se não inteiramente, então parcialmente – pelos atos pecaminosos do discípulo. (Srimad-Bhagavatam 9.9.5, significado)
Alguém, neste momento, perguntará: Como uma alma, que em geral é incapaz de suportar seus próprios pecados, pode ser capaz de suportar os pecados de numerosos discípulos, sobretudo discípulos desqualificados como tendem a ser os discípulos na era de Kali? No mesmo significado, Prabhupada prossegue: “O pobre mestre espiritual é amável e misericordioso o suficiente para aceitar um discípulo e parcialmente sofrer pelas atividades pecaminosas desse discípulo, mas Krsna, sendo misericordioso para com Seu servo, neutraliza as reações dos atos pecaminosos para o servo que se ocupa em pregar Suas glórias”.
Deste modo, o mestre espiritual é mais uma vez um meio transparente, pois, assim como os elogios a Krsna passam pelo guru e chegam a Krsna; também ficam aos cuidados de Krsna, em última instância, os pecados que o mestre espiritual aceita dos discípulos enquanto representante de Krsna. Quando Krsna permite que o guru manifeste alguma reação pecaminosa dos discípulos, Prabhupada explica, isso é uma forma de Krsna mostrar aos discípulos a glória do mestre espiritual e alertá-los a seguirem seus votos apropriadamente, não pecando de modo que façam seu amado mestre ter de sofrer em seu lugar.
Foto: Cristo na Cruz, Diego Rodriguez de Silva Velazquez, óleo sobre tela, 1632.
O representante mais famoso de Deus na atualidade, é claro, é o venerável Jesus, e no cristianismo muito se enfatiza que ele tomou para si os pecados alheios. No Catecismo da Igreja Católica (603), é interessante a explicação de que, quando Jesus pergunta “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Marcos 15.34), trata-se de uma expressão de sua aceitação dos pecados alheios. De fato nos deparamos enquanto no ofício de pregação que a pergunta mais frequente é “Se Deus é bom, por que abandona a humanidade entregue a doenças, tragédias etc.?”. Após tais dizeres de Jesus, ele diz tudo estar consumado – sua missão de libertar aqueles que o aceitam como qualificado para tal – e se entrega ao Pai, já tendo neutralizado aquela mentalidade pecaminosa alheia de que Deus é alguém que abandona.
Vida Pós-Quitação
Quando nos rendemos a Krsna, ou ao Seu representante fidedigno, isto é, aquele que também se rendeu puramente a Krsna, nós de fato não teremos mais de sofrer as reações de nossas atividades pecaminosas passadas, assim como um prisioneiro que mostre bom comportamento recebe mais facilidades dentro da prisão, como poder trabalhar dentro dela, e é liberto antes do tempo. Todavia, o detento não deve pensar: “Este governo é muito piedoso: Eles me permitem regalias dentro da prisão e, ademais, não cumprem inteiramente a pena que estabelecem. Já que este é o caso, depois que eu tiver sido liberto pela piedade deles, motivados por sua natureza misericordiosa, voltarei a cometer crimes certo de que serei perdoado novamente”.
Esta mentalidade é condenada nas escrituras e é definida como o cometimento deliberado de atividades pecaminosas tendo em vista o uso posterior de práticas de rendição a Deus como expiação. Porém, semelhante artimanha mostra que a rendição do indivíduo a Deus não é sincera, e Deus verá que tal pessoa, como diz o personagem humorístico da TV, “aproveita-se de minha nobreza”.
No capítulo três da obra Madhurya Kadambini, encontramos: “Ninguém deve pecar sabendo que pode ser eximido da reação através de medidas expiatórias remediadoras. Nesses casos, o efeito dos pecados não será destruído, senão que, ao contrário, será intensificado”. É claro que, se alguém acidentalmente se desvia da retidão ensinada por Deus e se restabelece pela força do serviço devocional arrependido de seus erros, isso é outra situação, como explica Srila Prabhupada:
Suponha que você é fumante e agora você parou com tudo. Entretanto, na companhia de alguns fumantes, você se deu com o pensamento: “Tudo bem, deixe-me fumar”. Então, você se arrepende: “Ah, eu fiz isso”. Isso pode acontecer, e isso é desculpado. Porém, se você pensa: “Agora eu sou devoto de Krsna. Posso fumar como um não-sei-o-que, e tudo será perdoado”, então você é um patife. (palestra em 25 de março de 1976)
Pelo que estudamos de Prabhupada por seus ensinamentos registrados, talvez seja correto apontar que Prabhupada não queria converter cristãos em vaisnavas, mas queria contribuir com os cristãos modificando-lhes em dois pontos: torná-los vegetarianos e, nas palavras de Prabhupada, não permitir que os cristãos usem a teologia de que Jesus toma para si os pecados daqueles que o aceitam como “pretexto para os pecadores continuarem agindo pecaminosamente” (conversa em 2 de abril de 1977). Prabhupada apresenta o desafio àqueles que acreditam na salvação por parte de Jesus sem que se tenha de seguir seus ensinamentos perguntando por que Jesus se deu ao trabalho de pregar. Se sua morte fosse suficiente, ele teria apenas morrido, e não pregado a vontade de Deus. A orientação de Prabhupada parece ser fundamentável na Bíblia, que registra Jesus dizendo: “Se me amais, guardai meus mandamentos. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele”. (João 14.15,21) Assim, parece que Jesus coloca que aqueles que dizem aceitá-lo não o amam verdadeiramente caso deliberadamente não sigam suas ordens contando que a mera “crença” ou “aceitação” barata é suficiente para que Jesus leve todos os pecados e traga a salvação, o que confere com o alerta de Prabhupada aos cristãos.
É claro que, como já foi colocado, meros atos morais desconectados da rendição a Deus não são suficientes para redimirmos nossos pecados, senão que precisamos da misericórdia perdoadora de Deus, sobretudo por meio do mestre espiritual, mas falsamente aceitar essa misericórdia como uma maneira de pecar sem medo é, segundo a sucessão discipular vaisnava, a pior ofensa.
Iniciação Espiritual
Dentro dos sacramentos védicos, existe o sacramento (samskara) chamado diksa, que é a cerimônia em que o devoto se torna um dvija, isto é, alguém que nasceu (ja) pela segunda vez (dvi), no sentido de que foi morta sua existência submetido à sua própria sorte na lei de pecados e reações pecaminosas e nasceu como um servo de Deus, perdoado pela misericórdia de Deus através do guru fidedigno de todos os seus pecados. Para evitar a ofensa mencionada do pedido de perdão sem a sinceridade de não pecar novamente, essa cerimônia é acompanhada do voto de não envolvimento futuro com os quatro pilares da vida pecaminosa, tal como são descritos no Srimad-Bhagavatam (1.17.38). Destarte, o devoto recebendo a iniciação do segundo nascimento faz os votos de se abster de violência, ser limpo, ser veraz e ser austero, o que grosseiramente aparece, respectivamente, em não comer carne, peixe ou ovos, não ter vida sexual fora do casamento, não praticar jogos de azar e não se valer de nenhuma forma de intoxicação, lícita ou ilícita.
Foto: A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada inicia um novo discípulo e entrega-lhe suas contas para o canto do mantra Hare Krsna.
Com a certeza de que sem Deus não é possível manter tão elevado padrão de pureza, o devoto também faz o voto de estar na presença de Deus diariamente em uma das formas mais misericordiosas de Deus, que é a forma de Seu santo nome: Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Deus, cujo um dos nomes é Hari, “aquele que leva embora todos os pecados”, certamente cumprirá em Seu santo nome a promessa do Bhagavad-gita de que, rendendo-nos a Ele, seremos salvos. Krsna diz no Bhagavad-gita (5.29) que é “o melhor amigo de todas as entidades vivas”, de modo que não há por que duvidarmos de Seu amor por nós.
Uma Noite Bem Dormida
Em uma cerimônia de iniciação, realizada em 23 de abril de 1976, Srila Prabhupada disse:
Quatro “nãos” e um “sim” – isto tornará sua vida bem-sucedida. É muito fácil. Não é difícil. Porém, maya é muito forte, e por vezes nos desvia. Então, quando há empenho por parte de maya para nos desviar, apenas oremos a Krsna: “Por favor, salvai-me. Sou rendido, inteiramente rendido, e peço a bondade de que me protegeis”, e Krsna dará proteção. Contudo, não percam esta oportunidade. Este é o meu pedido. Coloco todos os meus votos de sucesso e minhas bênçãos sobre vocês. Então, aproveitemos a oportunidade.
Foto: O devoto Pariksit prestes a punir Kali, a personificação da irreligião. Atrás de Kali, uma representação simbólica de quebra dos quatro princípios.
Assim, humildemente convidamos os devotos iniciados que não estão cumprindo os quatro “nãos” e o um “sim” de cantar 16 voltas de meditação de japa com o mantra Hare Krsna que façam a oração ensinada por Prabhupada para remediar os desvios causados por maya, a energia ilusória. Como colocado por Prabhupada, não devemos perder esta oportunidade de tornarmos nossa vida bem-sucedida. Perguntemos sinceramente se as atividades pecaminosas em que estamos envolvidos estão realmente nos dando algo substancial. Será? Perguntemos se realmente não existe nada em nosso dia de que possamos nos desfazer para cantar o santo nome para o nosso próprio bem maior.
Foto: O devoto Haridasa Thakura prossegue cantando os santos nomes apesar da dificuldade de ser tentado por Maya, a energia ilusória.
Àquele que ainda não deu uma chance à prática de cantar os santos nomes de Deus, de buscar por um mestre espiritual fidedigno e de observar os princípios reguladores, cuja aplicação produz objetivo benefício para o indivíduo e para a sociedade, estendemos também humildemente o convite de que comece pelo começo, como tem que ser: Experimente cantar o mantra Hare Krsna – Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare –, ler e ouvir sobre Krsna, e estar na companhia daqueles que estão dedicando suas vidas a Krsna. Você não estará sozinho nas dificuldades que encontrar no processo.
Assim como dívidas podem ser pagas com desconto caso pagas à vista, todos podem, neste momento em que terminam de ler este artigo, decidir aceitar fazer a quitação de todos os débitos com o desconto de 100% oferecido por Krsna nunca mais se envolvendo nas quatro atividades pecaminosas e sempre cantando Hare Krsna. Como Prabhupada disse: “É muito fácil. Não é difícil”. Cantemos Hare Krsna com a conduta que Deus espera de nós e deitemos à noite em nosso travesseiro, e permitamo-nos, pela primeira vez em muitas vidas, experimentar o que é dormir com a consciência inteiramente tranquila, sem nenhuma dívida medonha em nossos sonhos, tampouco nos esperando pelo amanhecer.
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Leia na revista Volta ao Supremo, edição 02, o artigo O Cantar dos Santos Nomes Chega à Vida de um Caçador, do mesmo autor. (compre aqui)
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31 de agosto de 2012 às 7:00 AM
Hare Krishna Bhagavan! Gostei do artigo. Gostei do sentimento de urgência que coloca na gente para sermos perfeitos. O Bhagavatam passa isso assim:
“Antes que a próxima morte venha, enquanto o corpo está forte o bastante, a pessoa deve adotar o processo de expiação.” Bhag. 6.1.8
Na Bíblia fala assim:
“Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão.” Mateus 5.25
Esse assunto de remissão é muito interessante.
31 de agosto de 2012 às 12:44 PM
Hare Krsna, prabhu Bhaktivinoda!
Sim! Esse espírito de urgência vem daqueles que têm compaixão de nós, porque não querem nos ver sofrer em mais um nascimento, ou em mais cem ou talvez mil. Srila Prabhupada e Srila Bhaktisiddhanta também pediam que atingíssemos a perfeição espiritual nesta vida. Esforcemo-nos.
Seu servo,
Bhagavan Dasa
31 de agosto de 2012 às 3:37 PM
Estimado Bhagavan Prabhu: muchas gracias por sus traducciones y artículos. Yo solía visitar su página devocionais.xpg.com.br pero ya no existe. Sería muy bueno que subiera todas sus traducciones para hacer download.
31 de agosto de 2012 às 2:52 PM
Hare Krsna, prabhu Gustavo! Minhas reverências. Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Obrigado pelos cumprimentos!
Retirei do ar o site devocionais.xpg.com.br porque muitas das traduções que estavam lá serão publicadas em versão impressa, como já foi, por exemplo, o Siksastaka com os comentários de Srila Bhaktisiddhanta e Srila Bhaktivinoda. As traduções que não serão publicadas, entretanto, como os artigos, posso enviar para quem me solicite pessoalmente por e-mail. Caso o senhor tenha interesse, escreva por favor para o meu e-mail pessoal, bgdasa@hotmail.com, e enviarei com prazer para o senhor.
Obrigado por ler o artigo. Sigamos os quatro princípios, cantemos o santo nome e voltemos ao lar!
Seu servo,
Bhagavan Dasa
31 de agosto de 2012 às 3:35 PM
São impressionantes as similaridades entre a sabedoria cristã e a sabedoria hindu. Quanto mais estudo, mais isso chama-me a atenção. Gostaria de ver artigos com estudos comparados desse assunto, se fosse possível.
31 de agosto de 2012 às 6:07 PM
Hare Krsna, prabhu Pedro Paulo!
Sim, as similaridades entre a consciência de Krsna e o cristianismo são muito grandes. Superficialmente, muitas vezes as pessoas acham que escolas que têm yoga no nome ou são da Índia são, por isso, similares à consciência de Krsna. Contudo, um estudo mais apurado mostra mesmo que o cristianismo atual é, a meu ver, mais próximo da consciência de Krsna do que muitas escolas hindus e religiões que defendem a reencarnação.
A equipe já está preparando materiais sobre este assunto a pedido do senhor.
O senhor já leu a obra Guerreiro Espiritual I, de Bhakti-tirtha Swami? O livro não é especificamente sobre estudo comparado, mas o faz frequentemente e é bem interessante.
Seu servo,
Bhagavan Dasa
5 de setembro de 2012 às 12:22 PM
Muchas gracias por tan bellos articulos
31 de agosto de 2012 às 8:54 PM
Hare Krsna, prabhu Luis Hugo Lince Gomez! Reverências. Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Agradecemos muito sua apreciação. Contamos com suas bênçãos para manter o padrão de bons artigos que agradou o senhor.
Seu servos da Volta ao Supremo
5 de setembro de 2012 às 12:26 PM
É verdade que o mestre espiritual tem sempre que voltar até que todos os seus discípulos atinjam a perfeição?
6 de setembro de 2012 às 9:05 AM
Hare Krsna, prabhu Nityananda! Minhas reverências, por favor. Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Isto é sim verdade. Srila Prabhupada fala sobre isto em diferentes momentos, como no excerto abaixo de uma palestra do Bhagavad-gita realizada em Los Angeles no dia 21 de fevereiro de 1969:
[início da citação]
No processo de bhakti-yoga, o papel do mestre espiritual é importantíssimo e essencial. Embora o mestre espiritual sempre volte enquanto os seus devotos não alcançarem a compreensão acerca de Deus, ninguém deve tentar tirar vantagem disto. Não devemos incomodar nosso mestre espiritual, senão que devemos, nesta vida, concluir o processo de bhakti-yoga. O discípulo deve ser sério em relação ao serviço que ele presta ao mestre espiritual e, se é inteligente, o devoto deve pensar: “Por que devo agir de tal maneira que meu mestre espiritual precise se dar ao trabalho de resgatar-me novamente? É melhor que eu compreenda Krishna nesta vida”. Este é o pensamento apropriado. Não devemos pensar: “Tenho a certeza de que meu mestre espiritual virá salvar-me. Portanto, agirei como me convier”. Se dedicamos alguma afeição ao nosso mestre espiritual, devemos, nesta vida, concluir o processo, de modo que ele não precise regressar para resgatar-nos.
A este respeito, há o exemplo de Bilvamangala Thakura, que, em sua vida anterior, quase se elevou a prema-bhakti, a mais alta plataforma de serviço devocional. Entretanto, como sempre existe a oportunidade de cair, ele terminou caindo. Em sua vida seguinte, nasceu em uma riquíssima família de brahmanas, segundo o princípio descrito no sexto capítulo do Bhagavad-gita (6.41): sucinam srimatam gehe. Infelizmente, como costuma acontecer com os rapazes ricos, ele se tornou um caçador de prostitutas. Todavia, afirma-se que seu mestre espiritual o instruiu através da prostituta, dizendo: “Você se sente tão atraído a reles carne e ossos. Se você tivesse todo esse apego a Krishna, isso seria muito bom para você!”. Imediatamente, Bilvamangala Thakura reassumiu seu serviço devocional.
Embora o mestre espiritual assuma responsabilidade pelo seu discípulo, não devemos tirar vantagem disto. Ao contrário, devemos tentar satisfazer o mestre espiritual (yasya prasadad bhagavat-prasadah). Não devemos deixar nosso mestre espiritual em uma situação em que ele precise nos tirar da casa de uma prostituta. Contudo, mesmo que precise tomar essa atitude, ele a tomará, porque, ao aceitar seu discípulo, ele assume esta responsabilidade.
[fim da citação]
Seu servo,
Bhagavan Dasa
7 de setembro de 2012 às 1:56 PM