Qualidades de um Verdadeiro Espiritualista

qualidadeYugavatara Dasa

Arjuna leva a questão a Krishna, e assim beneficia todos nós.

A Bhagavad-gita é uma conversa entre Arjuna, um guerreiro excepcionalmente talentoso, e o Senhor Krishna, que estava agindo como o quadrigário de Arjuna. A Gita foi falada a fim de encorajar Arjuna a lutar em uma grande guerra. Enquanto dá a Arjuna todos os tipos de conselhos espirituais e materiais, Krishna discute vários tópicos, como karma, o eu, o Ser Supremo, o propósito do yoga, como o nosso ambiente afeta nossa consciência e como alcançar a perfeição final da vida.

Algumas Perguntas de Arjuna

Frequentemente, Arjuna faz perguntas para esclarecer suas dúvidas. Uma dessas questões consta no segundo capítulo da obra. Na Gita (2.54), Arjuna pergunta:

sthita-prajnasya ka bhasa
samadhi-sthasya kesava
sthita-dhih kim prabhaseta
kim asita vrajeta kim

“Ó Krishna, quais são os sintomas daquele cuja consciência está absorta nessa transcendência? Como ele fala, e qual é sua linguagem? Como ele se senta e como ele caminha?”

As perguntas parecem tratar apenas do comportamento externo de uma pessoa, mas Srila Visvanatha Chakravarti Thakura revela o significado interno de cada questão. Bhurijana Prabhu, um discípulo de Srila Prabhupada, em seu livro Surrender Unto Me [sem tradução para o português] cita com muita frequência esse comentário para mostrar que Krishna responde cada parte da pergunta de Arjuna em detalhes. A maior parte deste artigo é baseada nas explicações dadas nesse livro, e algumas declarações são citadas diretamente (com aspas).

A pergunta de Arjuna pode ser dividida em quatro partes: 1) quais são os sintomas do transcendentalista, 2) como ele fala e qual é a sua língua, 3) como ele se senta e 4) como ele caminha.

Krishna responde a primeira pergunta de Arjuna imediatamente, no verso 55: “Ó Partha, quando alguém desiste de todas as variedades de desejo pelo prazer dos sentidos, os quais surgem da trama mental, e quando a sua mente, assim purificada, encontra satisfação apenas no eu, então se diz que ele está em consciência transcendental pura.”

Bhurijana comenta: “O sthita-prajna revela sua posição por não ter apegos egoístas. Ele está desapegado da felicidade e da miséria. Além disso, ele está plenamente satisfeito, fixando sua consciência no eu”. Em outras palavras, ele está equilibrado.

Respondendo a Situações Provocadoras

Krishna, em seguida, responde à segunda pergunta de Arjuna: “Como ele fala?” Esta pergunta quer dizer, Bhurijana explica: “Como a inteligência e as palavras dele são afetadas pela afeição, raiva ou neutralidade de outra pessoa?” Em outras palavras, como ele responde?

Krishna a ArjunaAs respostas de Krishna a Arjuna servem como um guia definitivo para os sintomas de um verdadeiro espiritualista.

Krishna responde na Bhagavad-gita (56-57): “Aquele cuja mente não é perturbada mesmo estando rodeado das três classes de misérias, e nem se exalta quando há felicidade, e que está livre do apego, do medo e da ira, é chamado ‘um sábio de mente estável’. No mundo material, quem não se deixa afetar pelo bem nem pelo mal que venha a obter, sem louvá-lo nem desprezá-lo, está firmemente fixo em conhecimento perfeito.”

Srila Prabhupada elabora sobre essa qualidade de um transcendentalista em seu significado: “Tal pessoa em plena consciência de Krishna não se deixa perturbar de modo algum pelas investidas das três classes de misérias, pois aceita todas as misérias como misericórdia do Senhor, e considera-se merecedora de ainda mais sofrimentos devido a suas más ações passadas; e ela vê que suas misérias são reduzidas ao mínimo, pela graça do Senhor. Do mesmo modo, quando se sente feliz, ela reconhece que isto é obra do Senhor, e considera-se indigna de receber tal felicidade…”

É fácil trocar amor por amor. Quando alguém, mesmo que seja um estranho, nos cumprimenta com um amoroso “oi”, é muito fácil retribuir com um alegre “olá”. Mas isso não revela completamente como “falamos” ou respondemos. O teste do nosso discurso é como reagimos quando alguém nos inflige uma agressão mental usando suas cordas vocais. Permanecemos calmos ou explodimos? Reagimos violentamente em situações muito provocadoras?

autocontroleO teste de nosso autocontrole vem em situações provocadoras.

Precisamos aprender a falar agradavelmente mesmo com aqueles que são hostis a nós. Isso ajudará a diminuir a amargura nos relacionamentos. Uma resposta doce pode até evitar um possível confronto.

Certa vez, um homem se aproximou de um vendedor de papagaios para comprar um papagaio. O vendedor de papagaios disse: “Eu tenho esse papagaio especial para você. Se você puxar a perna dele, ele canta o nome de Krishna. E se você puxar a outra, ele canta o nome de Rama.” A pessoa ficou emocionada ao ver um papagaio tão santo, e ele imediatamente o comprou. Sempre que convidados visitavam sua casa, esse homem mostrava orgulhosamente seu papagaio para eles e os fazia ouvir os nomes divinos de Krishna e Rama da boca do papagaio.

Um dia, ele pensou: “Se meu papagaio canta o nome santo ao puxar uma das pernas dele, tenho certeza que, se eu puxar as duas pernas dele, ele cantará todo o maha-mantra Hare Krishna.” Quando ele se aproximou do papagaio e puxou ambas as pernas, o papagaio gritou: “Seu tolo! Você não entende que eu vou cair e quebrar a minha cabeça?”

A lição que aprendemos com esta história é que não podemos manter uma gentileza artificial por muito tempo. Nossas reações, especialmente nossa fala, devem ser controladas em situações felizes e dolorosas. O próprio Krishna aconselha mais tarde na Gita (17.15): “A austeridade da fala consiste em proferir palavras verazes, agradáveis, benéficas e que não perturbam os outros.”

Contenha-se. Não se Deixe Levar.

A próxima pergunta de Arjuna é: “Como ele se senta?” De acordo com Srila Visvanatha Chakravarti Thakura, isso significa “Como ele não usa seus sentidos? Qual é a sua mentalidade quando seus sentidos são impedidos de encontrar seus objetos?” O Senhor Krishna responde nos próximos dois versos da Gita (58-59): “Aquele que é capaz de retirar seus sentidos dos objetos dos sentidos, assim como a tartaruga recolhe seus membros para dentro do casco, está firmemente fixo em consciência perfeita. A alma encarnada pode restringir-se do prazer dos sentidos, embora o gosto pelos objetos dos sentidos permaneça. Porém, interrompendo tais ocupações ao experimentar um gosto superior, ela fixa-se em consciência.”

tartarugaO transcendentalista é capaz de retirar seus sentidos dos objetos, tal qual a tartaruga recolhe seus membros.

Nosso poder de controle sensorial é testado na solidão. É fácil mostrar santidade em público, mas um verdadeiro santo mantém sua pureza tanto na vida pública quanto na privada. Hoje, se uma pessoa é deixada sozinha por algum tempo, ela automaticamente se volta para a internet para ficar presa dentro na internet. Muitas vezes, essa jornada virtual começa com a exibição de notícias diárias, prossegue para vídeos de entretenimento e acaba na exibição de coisas ilícitas. O lazer deve ser usado para relaxar, mas as atividades de lazer não devem degradar nossa consciência. O tempo de lazer deve nos ajudar a marchar em direção à paz, em vez de nos agitar.

Se estivermos lutando para restringir nossos sentidos, devemos tentar desviá-los para atividades espirituais como yoga físico, meditação com mantras ou leitura de escrituras, como a Bhagavad-gita. Isso ajudará a purificar a mente e controlar os sentidos.

O Remédio para a Mente Louca

Começando com o verso 64 e continuando quase até o final do capítulo dois, Krishna responde à última pergunta de Arjuna: “Como ele caminha?” O propósito dessa pergunta é: “Como um homem em transcendência usa seus sentidos?”

Krishna diz: “Aquele que, livre de todo apego e aversão, é capaz de controlar seus sentidos através dos princípios reguladores da liberdade pode obter a misericórdia completa do Senhor. Para alguém assim satisfeito [na consciência de Krishna], as três classes de misérias da existência material deixam de existir; nesta consciência jubilosa, a inteligência logo se torna resoluta.”

“Bem estabelecido” significa que a entidade viva deve estar conectada a Krishna através da consciência de Krishna. Em tal estado, ela pode estar livre de atrações e aversões materiais e tornar-se plenamente satisfeita. Bhurijana comenta: “Sem bhakti, o serviço devocional a Krishna, independentemente do que alguém possui ou do que faz, ninguém fica satisfeito.”

Mais tarde, na Gita (9.14), Krishna descreve as atividades dos grandes transcendentalistas: “Sempre cantando Minhas glórias, esforçando-se com muita determinação, prostrando-se diante de Mim, essas grandes almas adoram-Me perpetuamente com devoção.” A palavra “sempre” é importante aqui. Se a mente hiperativa é destituída de um compromisso constante, ela enlouquece e leva a alma à degradação. Qual poderia ser a atividade melhor e mais eficaz pela qual podemos controlar nossa mente e nossos sentidos? As escrituras védicas explicam que cantar os santos nomes de Krishna é o melhor remédio para a mente maníaca. O santo nome fixa a mente em Krishna e, assim, purifica a mente de todas as contaminações que surgem devido ao envolvimento anterior em atividades pecaminosas.

Em conclusão, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Krishna, responde perfeitamente à pergunta de Arjuna, citando os sintomas internos do transcendentalista, sthita-prajna.

Tradução de Ekanistha Radha Devi Dasi.

Leia também: Você Tem o Manual da Vida? | As Seções Temáticas e o Fluxo da Bhagavad-gita: Um Guia para Estudo.

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