Som e Serenidade
Caitanya Carana Dasa
Música – a língua universal da humanidade, a ubíqua fonte de entretenimento, a atividade que transforma nossa disposição, a catapulta que nos atira a emoções e experiências mais altas, o meio que influencia todos os níveis da existência humana – física, psicológica e espiritual. Leo Tolstoy declarou sucintamente: “Música é a taquigrafia da emoção”.
A música nos entretém, mas ela pode nos curar? No Ocidente, a ideia de música como um componente de melhora da saúde e do comportamento é no mínimo tão antiga quanto os escritos dos filósofos gregos Aristóteles e Platão. O interesse médico por terapia musical foi revivido depois das duas Guerras Mundiais, quando milhares de veteranos de guerra, sofrendo tanto de traumas físicos quanto emocionais, encontraram notável alívio através das apresentações de músicos comunitários nos hospitais.
Consequentemente, a pesquisa científica sobre terapia musical vem crescendo, e seus benefícios foram documentados por organizações como a American Musical Therapy Association em periódicos como o Journal of Music Therapy e o Music Therapy Perspective. Atualmente, a terapia musical foi identificada como capaz de beneficiar crianças, adolescentes, adultos e idosos com problemas mentais, dificuldade de desenvolvimento e aprendizagem, Alzheimer e outras condições associadas à idade avançada, problemas decorrentes de uso de drogas, lesões cerebrais, disfunções motoras e dor intensa ou crônica, incluindo mães em trabalho de parto. Assim, no Ocidente, a terapia musical está agora se tornando uma forma aceita de tratamento mesmo dentro da prática médica ortodoxa.
Na Índia, a música é parte integral da cultura védica desde tempos imemoriais. O Sama Veda é repleto de peças melódicas. A terapia musical é mencionada no aiurveda como uma das maneiras pelas quais é possível restabelecer o equilíbrio de vata (ar), pitta (bile) e kapha (muco), cujo desequilíbrio é considerado a raiz de todas as doenças. Grandes compositores da música clássica indiana ministraram a terapia musical especialmente para a mente através de ragas e mantras. O conceito de raga, que é único da música indiana, combina notas musicais com períodos de tempo específicos, a fim de obter intensificação ou pacificação de emoções. Ragas, quando cantadas apropriadamente, possuem valor terapêutico. Similarmente, mantras como o Gayatri revelaram-se capazes de curar doenças e indisposições consideradas de outro modo crônicas ou terminais.
As escrituras védicas se valem da terapia musical para um propósito espiritual muito mais elevado do que rejuvenescimento físico ou pacificação mental. Com efeito, os Vedas declaram que os humanos que se preocupam demasiadamente com seus corpos e mentes terminam se esquecendo ou preterindo seus potenciais espirituais. Como seres espirituais, somos eternos filhos amados de Deus, o ser espiritual supremo, e temos direito a uma existência eterna, esclarecida e extática (sac-cid-ananda). No entanto, sofrendo de amnésia espiritual, estamos freneticamente buscando por essa plenitude de vida por meio da manipulação da matéria de maneiras cada vez mais inovadoras, mas em vão. O mundo moderno, especialmente o Ocidente, está testemunhando as alarmantes consequências deste infeliz desequilíbrio de valores materiais e espirituais. Individualmente, há um crescimento de insatisfação, estresse, depressão, vício e suicídio, e, globalmente, há um crescimento de inquietação, mal-estar, criminalidade, violência e terrorismo. A amnésia espiritual é tida como a origem de todas as nossas desordens mentais, físicas e sociais, e a terapia musical espiritual aborda esse mal-estar raiz.
O renomado compositor Van Beethoven observou isso: “A música é o mediador entre a vida espiritual e a vida sensual”. A música divina – a música usada para glorificar o divino – é simultaneamente agradável aos sentidos e despertadora para o espírito. Não surpreende, portanto, que todas as tradições religiosas tenham músicas e sons sagrados como parte integral de seus hinos, orações, cânticos e entoações – todos, em última instância, destinados a curar a alma.
Na tradição védica, a música é central na recomendada terapia espiritual do harinama sankirtana, o canto congregacional dos santos nomes. Os nomes de Deus, sendo poder divino em forma de som, consistem nos mantras mais poderosos, em virtude do que o canto de mantras como o maha-mantra Hare Krishna é a maneira mais fácil e efetiva para elevar espiritualmente tanto quem canta quanto quem ouve.
A terapia musical espiritual, sendo holística, oferece benefícios mentais e físicos também. Nossas mentes experienciam a mais profunda paz e a mais intensa felicidade através da música divina. Nosso corpo, por sua vez, se livra de todas as indesejáveis e insalubres demandas, como por tabaco, álcool e drogas ilícitas.
O destacado professor Stillson Judah, da Berkeley University, comentou sobre a potência extraordinária da música espiritual em “transformar hippies viciados em drogas em devotos de Krishna [Deus] e servos da humanidade”.
Algumas teorias médicas nascentes postulam que toda célula corpórea tem sua própria frequência vibracional. A música que ressoa com essa frequência ativa a energia vital daquela célula e, deste modo, estimula o rejuvenescimento intrínseco. Similarmente, a música espiritual que ressoa com a natureza da alma ativa nossa potencialidade espiritual latente. Como disse o poeta americano Oliver Wendell Holmes: “Tome um banho de música uma ou duas vezes por semana e você verá que esse banho é para a alma o que o banho de água é para o corpo”.
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