Descobrindo a Verdade

05 I (CMTHK - Depoimentos) Descobrindo a Verdade (bg) (ta) (1402)Adbhuta-Narasimha Hari Dasa
(Alexandre – Gourasundara)

“Tornei-me Vegan (vegetariano estrito) e Straight Edge (movimento ligado ao estilo musical de rock hardcore-punk) por influência dos shows que eu frequentava na adolescência desde o final dos anos 80 e também pela prática do skate. Fui levado, assim, a conhecer essa cultura que rejeitava drogas, prezava pelo vegetarianismo e tinha uma visão mais positiva da vida. Um dia, um colega me emprestou uma revista que tinha uma entrevista com a banda Shelter. Essa revista era a antiga Volta ao Supremo. Era o que eu precisava”.

Desde muito pequeno, eu me interessava por desenvolvimento espiritual e sentia muita atração pela cultura oriental em geral. Frequentei diversos lugares (igrejas, templos, centros, etc.) especialmente por influência de minha mãe, que buscava por uma vida espiritual mais profunda e também se interessava pela cultura oriental, em especial a japonesa, a qual frequentou muito tempo em diversas linhas, como a Messiânica e a Seicho-No-Ie, entre outras, embora sejamos de família tradicional católica, pois sou descendente de italianos. Eu sempre a acompanhei e, junto com ela, buscávamos por respostas e abrigo verdadeiro.

Após o falecimento de minha mãe em 1994, continuei esse caminho sozinho, pois meu irmão não tem esse interesse, e meu pai é ateu. Morando no norte/interior do Paraná, numa cidade muito conservadora chamada Londrina, não tinha qualquer contato com devotos de Krishna (vaishnavas) e nunca tinha ouvido falar dos Vedas, vaishnavismo, Krishna, Hare Krishna etc. Dois anos mais tarde, tornei-me Vegan (vegetariano estrito) e Straight Edge (movimento ligado ao estilo musical de rock hardcore-punk) por influência dos shows que eu frequentava na adolescência desde o final dos anos 80 e também pela prática do skate. Fui levado, assim, a conhecer essa cultura que rejeitava drogas, prezava pelo vegetarianismo e tinha uma visão mais positiva da vida. Através desse meio, comecei a editar fanzines (revistas caseiras feitas em fotocópia, muito comuns nos anos 80 e 90) e passei a ter mais acesso a informações fora de Londrina e Paraná, já que a internet era praticamente inexistente até essa época na região e para o povo em geral, em especial para mim.

Assim, um dia, um colega me emprestou uma revista que tinha uma entrevista com a banda de rock punk-hardcore Shelter (com integrantes e letras devocionais Hare Krishna) e falava sobre Straight Edge etc. Bem, essa revista era a antiga Volta ao Supremo (número 8, ano 1996), que, naquela época, lançou uma edição especial devido às comemorações do centenário de Prabhupada, a vinda do Shelter ao Brasil etc. Era o que eu precisava.OLYMPUS DIGITAL CAMERA

Adbhuta-Narasimha Hari Dasa com a edição da revista Volta ao Supremo publicada em 1996, que tinha a banda Shelter e o estilo Krishnacore como matéria de capa.

Li a revista inteira e fiquei impressionado com o que vi. Toda aquela filosofia e religião parecia ser o que eu procurava há tantos anos. Imediatamente, lembrei-me de uma breve entrevista que havia visto alguns meses antes no canal MTV com a banda Shelter e sua religião, assim como uma breve matéria no jornal da Globo sobre as comemorações dos 100 anos do “mestre dos Hare Krishnas” no mundo, Srila Prabhupada. Então, após ler a revista, pensar e orar a Deus muito, percebi que Prabhupada poderia ser quem eu procurava. Tudo parecia muito claro agora. Lembrei-me de minha mãe e o quanto ela se interessaria se ali estivesse comigo; enfim eu achara o que procuramos por anos. Até mesmo alguns antigos sonhos faziam sentido agora.

Depois daquele dia, passei a cantar o maha-mantra Hare Krishna sozinho, sem saber direito como cantar ou como pronunciar aquelas palavras e sem saber também o seu significado mais profundo, mas tentando cantá-lo conforme havia visto na revista, pois sentia um estranho prazer e uma estranha satisfação ao cantá-lo, assim como algo “estranhamente espiritual e verdadeiro”. Alguns meses depois, fui para Curitiba, à casa de um amigo que tinha uma nova banda de rock-hardcore Straight Edge chamada Family (uma curiosa “coincidência”), cujo guitarrista era um devoto Hare Krishna. Então, pensei: “Esse cara pode me levar até o templo pela primeira vez. É a oportunidade que eu esperava”.

Eu havia pesquisado e vira na revista que, em Curitiba, havia um templo da ISKCON, instituição fundada por aquele que eu desejava que fosse meu mestre. Finalmente, fui ao templo num domingo, no começo de março de 1997, em que haveria uma aula de um mestre que recentemente havia voltado da Índia. Seria Srila Prabhupada? Eu o conheceria? Eu ainda não sabia que Prabhupada tinha deixado o mundo material em 1977. Bem, não era ele, mas um grande discípulo seu, Sua Santidade Purushatraya Swami, que acabava de voltar da Índia após um longo período lá. Foi o meu primeiro contato com os devotos. Tudo era diferente e fascinante – somente o maha-mantra era um pouco familiar, e a filosofia, atrativa como antes, mesmo a entendendo superficialmente naquele momento. As belas Deidades de Sri Sri Goura-Nitai e de Sri Narasimhadeva no altar me encantaram e me dariam abrigo poucos anos após, mas nada me chamou mais atenção do que um belo e grande quadro em tamanho natural de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, que ficava atrás da poltrona (vyasasana) do palestrante.

Dias depois, voltei para Londrina com alguns livros em mãos e muita felicidade no coração. Minha vida havia mudado completamente, tão rápido e depois de tantos anos procurando. Novamente lembrei-me de minha mãe e como ela se interessaria por tudo aquilo. Na verdade, parecia e ainda parece que começou naquele momento, embora eu já tivesse 22 anos de idade. Daí em diante, muitas experiências aconteceram. Fui atraído pela filosofia védica, pela erudição e seriedade de Srila Prabhupada, por suas explicações claras, filosóficas e profundas e que eu buscava, por aquele clima do templo que é inexplicável. Fui, algum tempo depois, à comunidade Nova Gokula pela primeira vez, sozinho, sem nada conhecer lá. Encontrei devotos e Param Gati Prabhu, me encantei com aquele lugar sacratíssimo e maravilhoso e tive experiências que necessitariam de mais páginas para contar. Nova Gokula mudou definitivamente minha vida – para melhor e eternamente. Glórias e mais glórias a Sri Sri Radha-Gokulananda, Sri Sri Sita-Rama-Lakshmana-Hanumanji e Sri Sri Goura-Nitai!

Ao começar a ler a biografia de Prabhupada (Srila Prabhupada Lilamrita), sonhei com ele e tive a oportunidade de vê-lo frente a frente como eu tanto desejava. Aquilo foi de fato um presente inigualável e inesquecível. Queria muito me abrigar nele, ser iniciado por ele, mas logo percebi que isso não seria possível exatamente como eu desejava, pois ele não estava mais presente no mundo, porém, estava muito vivo em seus livros, em seu exemplo e na sua instituição. Então, na ISKCON, conheci muitos devotos, bons amigos, gurus inspiradores, vivi brevemente no templo, recebi iniciações (1ª e 2ª de Param Gati Maharaja, de quem recebi o nome de Gourasundara Dasa), servi devotos, fui presidente de templo por cerca de 4 anos, representante do CGB (Corpo Governamental Brasileiro) para o Sul por 2 anos, fiz bhakti-shastri, dei aulas, cursos, escutei, aprendi, errei, reaprendi, observei, chorei, sorri, fui pujari do Senhor Jagannatha, casei-me com Radha-Damodara Devi Dasi (uma inspiração, exemplo de devoção sincera a Krishna e companheira incrível), tive um filho (Ravi Jagannath, um inteligente devoto), me formei como sociólogo/cientista político e professor, divulguei na faculdade um pouco do vaishnavismo, dediquei meus estudos e monografia a Prabhupada e à ISKCON etc.05 I (CMTHK - Depoimentos) Descobrindo a Verdade (bg) (ta) (1401)3

Adbhuta-Narasimha Hari Dasa conduzindo uma cerimônia de fogo.

Em meados de 2014, por ocasião de mudanças institucionais e pessoais, muitas mudanças e acontecimentos transcendentais que não citarei aqui, tomei abrigo oficial em Sua Santidade Srila Jayapataka Swami Maharaja, pela graça de Sri Krishna, o qual me deu reiniciação (1ª e 2ª) no templo de Santiago, no Chile, e mudou meu nome para Adbhuta-Narasimha Hari Dasa (meu nome civil é Alexandre) devido a sua misericórdia para com meu apego e relacionamento com o Senhor Nrisimhadeva. Eu já tinha um relacionamento com ele e ele havia me dado suas bênçãos uma semana após meu casamento, e muitas vezes me olhava profundamente quando nos encontrávamos. Sempre o vi como um representante puro e direto de Srila Prabhupada e agora obtinha seu abrigo misericordioso. 05 I (CMTHK - Depoimentos) Descobrindo a Verdade (bg) (ta) (1401)4

Adbhuta-Narasimha Hari Dasa com a esposa, Radha Damodara, e o filho, Ravi Jagannath.

Após alguns anos neste caminho, vejo que nada se iguala aos maravilhosos festivais no templo, à associação de bons, educados e sinceros devotos vaishnavas, ou seja, uma verdadeira e profunda vida espiritual, com conhecimento, certeza e felicidade. É o que eu sempre procurei e ainda procuro mais, mas agora sei qual é o caminho, sei onde está. Hoje ajudo no site de Nova Gokula (também resido perto desse dhama sagrado), sou professor, faço cerimônias, dou aulas, cursos e estudo sobre essa maravilhosa filosofia e religião de Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Ajudo no que posso e busco a misericórdia e associação dos devotos para um dia ser um vaishnava de verdade. Quero servir os devotos e ter sua associação, tal como nos ensina Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu. E tudo começou com uma revista. Hoje eu agradeço a minha mãe, aos devotos, a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada e, em especial, à revista Volta ao Supremo por salvar mais essa pequena alma. Jaya Prabhupada! Jaya Guru Maharaja Jayapataka Swami! Obrigado por salvar minha vida!

Obrigado! Hare Krishna.

.

Todo o conteúdo das publicações de Volta ao Supremo é de inteira responsabilidade de seus respectivos autores, tanto o conteúdo textual como de imagens.

.

Se gostou deste depoimento, talvez também goste destes: clique aqui.

Publicidade

5 Respostas

  1. barabara cristina ribeiro pereira

    Linda sua entrevista. Me identifiquei com sua história. Lógico que ainda não tive nenhum contato com devotos. Gosto de ler sobre o assunto e escutar mantras, pois me faz muito bem. Um dia terei a sorte de encontrá-los.

    5 de setembro de 2014 às 10:18 PM

  2. Elaine

    Belíssima história! Eu também sempre fui atraída e encantada pela imagem de Krishna, sentindo no coração Sua ternura.

    Um dia, comprei uma camisa linda de Krishna Damodara, em uma loja na 25 de março. Comprei também um CD de Krishna Das e foi o meu primeiro contato com o maha-mantra.

    Há uns 8 anos, senti vontade de praticar yoga. Foi incrível! Pensei: “preciso procurar algum local para esta atividade” e, no mesmo dia (ainda existia diskman), ouvia o CD de Krishna Das e, ouvindo “Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare/ Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare” do álbum Pilgrim Heart, peguei um ônibus errado, que deu uma volta imensa e, ao me dar conta, dei o sinal para descer e percebi que teria que voltar um longo caminho. Decidi, então, entrar em algumas ruas para cortar caminho, foi quando eu vi uma faixa “Yoga” em um local que se chamava Espaço Alpha. Sinto que Krishna me levou até lá. Pratiquei por bom tempo e depois comecei a ler mais sobre Krishna, fui até o templo no Paraíso e pude conhecer os Festivais de Domingo e desfrutar do cantar de Hare Krishna e das associações com os devotos.

    Agradeço a Prabhupada por nos mostrar o caminho, agradeço a Krishna por tudo todos os dias, agradeço aos devotos que sempre estão dispostos a ajudar, indicando bons livros.

    Sou vegetariana, mas no segundo semestre deste ano é que pude compreender mais sobre o ekadashi por meio dos devotos e grupos na internet e me sinto muito à vontade em fazer perguntas, pois recebo carinhosamente direções para conhecer cada vez mais o Movimento Hare Krishna.

    10 de setembro de 2014 às 10:21 AM

    • Muito obrigado por tão amavelmente compartilhar conosco sua história! Muito tocante e cheia de Krishna! 😀

      Hare Krishna! 😀

      12 de setembro de 2014 às 9:42 AM

      • Elaine

        Eu que tenho que agradecer! Haribol 🙂

        14 de setembro de 2014 às 2:32 AM

  3. Fernanda

    Muito obrigada por sua história.
    Sinto o mesmo amor por krishna… tenho apenas uma amiga vaishnava, que não mora em minha cidade (e na minha cidade não temos vaishnavas)… mais sigo firme… estudando os livros de Prabhupada, cantando os santos nomes… me aperfeiçoando para um dia me tornar devota fiel.

    25 de setembro de 2020 às 3:47 PM

Comente

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s