Caitanya Mahaprabhu e a História do Cachorrinho
Locana Dasa Thakura
Versos de 282 a 345 do segundo capítulo do Adi-khanda da obra Caitanya-mangala
Caitanya, em Sua infância, costumava passar Seu tempo brincando e desfrutando de muitas diversões frívolas com Seus amigos. Um dia, eles encontraram uma ninhada de cachorrinhos. Quando Caitanya pegou o mais bonito deles, um amigo de Caitanya disse: “Veja, Nimai, Você escolheu o melhor filhote e deixou os feios para nós. Isso não é justo. Se Você ficar com esse, a gente vai para casa”. Caitanya disse: “Ei! Escutem. Vou manter este filhote na Minha casa, e podemos todos juntos brincar com ele lá”. Caitanya levou o cachorrinho para casa e prendeu-o a uma corrente.
Depois de concluídos seus afazeres, mãe Saci havia ido se banhar no Ganges junto com suas amigas. Os amigos de Caitanya entraram na casa e brincaram com o filhotinho. Eles acariciavam o cachorro, rolavam na poeira com ele, riam e se divertiam. Repentinamente, os garotos começaram a brigar. Caitanya tomou partido de um garoto e começou a apontar defeitos no outro. Caitanya disse: “Ouça, todos os dias você vem aqui para brincar e começa um bate-boca. Por que você se comporta assim?”. Em defesa, o garoto disse: “Bem, Você roubou o filhote!”. Depois disso, deixou a casa com raiva.
Vendo mãe Saci retornando do Ganges, o garoto disse com a voz embargada de raiva: “Seu filho Nimai está brincando com um cachorrinho dentro de casa. Ele coloca o cachorrinho em Seu colo e outras vezes o pendura sobre o ombro. A senhora deveria ir ver pessoalmente”.
Mãe Saci rapidamente entrou na casa e viu Caitanya brincando com o filhote. Espantada, golpeou a própria testa com a palma de sua mão. “Nimai! O que Você está fazendo?”, mãe Saci disse. “Eu simplesmente não consigo entender Você. Você tem tantas coisas com que brincar, mas prefere brincar com um cachorro. Você é o filho de um pai muito religioso. O que as pessoas dirão vendo Você brincar com um cachorro? Esse comportamento não é adequado a um filho de brahmana. Dói meu coração imaginar como as pessoas criticarão Você caso descubram isso. Sua forma é tão pura e maravilhosa. Por que Se sente feliz sujando Seu corpo de poeira? Vendo Você assim, abaixo minha cabeça envergonhada e desejo morrer. Seu corpo brilha como um intenso raio, e Sua face é mais bela do que muitas luas. Apesar disso, em vez de vestir Suas roupas, Você cobre Seu corpo de poeira e brinca com garotos de classe baixa”.
Iradíssima, mãe Saci mordeu o lábio inferior e censurou seu inquieto filho. “Certo, Nimai, se Você quer tanto esse filhote, então o leve para o Seu quarto. Simplesmente esqueça Seu pai e Sua mãe e brinque com Seu cachorro!”.
Contudo, a encantadora beleza do rosto formoso e inocente de Caitanya logo dissipou a ira de mãe Saci. Assumindo uma disposição jovial, mãe Saci disse: “Meu querido filho, venha subir em meu colo. Quero abraçá-lO e beijar Sua face doce e sorridente. Agora, deixe de lado esse filhote apenas um pouquinho e vá Se banhar no Ganges. Além disso, Você com certeza está com fome. Já é a hora do almoço. Por que está me enchendo de ansiedade? Agora, prenda Seu cachorrinho, tome banho e, depois do almoço, Você pode brincar com ele novamente. Seu rosto parece cansado como um lótus dourado definhado pelo Sol abrasador. Uma gota de transpiração, como uma pérola, está sobre a ponta de Sua nariz”.
Sorrindo, Caitanya disse: “Mãe, por favor, tome conta do Meu cachorrinho enquanto Eu tomo banho”. Depois de remover a poeira acumulada sobre o corpo de Caitanya, mãe Saci passou nEle um óleo perfumoso. Caitanya e Seus amigos, então, foram se banhar no Ganges. Eles riram, nadaram e atiraram água uns nos outros, como fazem elefantes brincalhões quando se banham. O corpo dourado de Caitanya parecia de poderosa constituição e tão imóvel quanto o monte Sumeru.
Enquanto isso, em Sua casa, mãe Saci soltou o cachorrinho de Caitanya e mandou-o embora. Um dos amiguinhos de Caitanya viu isso, e correu até o Ganges para informar Caitanya. “Ei, Nimai! Sua mãe despachou Seu cãozinho de estimação!”. Caitanya imediatamente correu para casa. Não vendo Seu animalzinho de estimação, o coração de Caitanya se enraiveceu. Sentindo saudades do cãozinho, chorou e brigou com Sua mãe. “Escute, mãe, você não entende… Por que fez isso coMigo? Estou muito machucado. Ele era um cachorrinho muito lindo. Como pôde mandá-lo embora?”.
Fingindo ser inocente, mãe Saci disse: “Eu não sei o que aconteceu com Seu filhote. Ele estava bem aqui. Talvez um ladrão o tenha levado. Agora, pare de chorar. Amanhã procuraremos pelo cachorro e o traremos de volta. Prometo que encontrarei Seu animalzinho de estimação. Agora, por favor, pare de chorar”.
Depois destas palavras, mãe Saci enxugou as lágrimas do rosto de Caitanya, pegou-O no colo e cobriu-O de beijos. Então, mãe Saci pacificou Caitanya dando-Lhe khira, sandesh, bananas e outros doces saborosos. Ela vestiu seu amado filho. Reunindo Seu cabelo, fez um coque no topo de Sua cabeça e passou kajjala negro em torno de Seus olhos. Ao redor de Seu quadril belamente curvo, amarrou um tecido vermelho como um rubi, e, em torno de Seu pescoço, dispôs um colar de pérolas. Uma tilaka de pasta de sândalo embelezava Sua fronte, e pulseiras e tornozeleiras de ouro embelezavam Seus membros.
Com uma bolinha doce em Sua mão, Caitanya correu para fora a fim de brincar com Seus amigos. Seu caminhar derrotava o orgulho do rei dos elefantes. Sua voz profunda soava tão doce quanto o néctar. Caitanya, a mais preciosa joia entre todos os Seus amigos brahmanas, parecia a Lua cheia rodeada por uma constelação. Os semideuses enchiam-se de felicidade vendo os passatempos transcendentais do Senhor Caitanya.
Esse filhotinho obteve a mais elevada fortuna devido ao toque transcendental do Senhor Caitanya. O animal abandonou seus maus hábitos e tornou-se consciente de Krishna. Um dia, o cachorro simplesmente começou a dançar em êxtase, cantando os santos nomes: “Radha-Krishna!”, “Govinda!”.
Ouvindo que um baixo cão estava cantando Hare Krishna, o povo de Navadvipa correu para ver o prodígio. Diante dos olhos de todos, o cachorro exibiu os sintomas corpóreos de amor extático por Deus. O cachorro estava chorando, e, tomado de arrepios, eriçavam-se os pelos de seu corpo. Repentinamente, aquele mais afortunado dos cães faleceu.
Naquele momento, uma dourada quadriga celestial desceu dos céus e transportou o cachorro para Goloka Vrndavana. Com muitas cúpulas, a quadriga era profusamente decorada por pérolas e pedras preciosas deslumbrantes. O som de sinos, gongos, búzios e karatalas acompanhavam o canto divino de Gandharvas e Kinnaras, que cantavam as glórias de Radha e Krishna.
Sobre a quadriga, coberturas e varandas brilhavam mais do que o Sol. Em seu corpo espiritual, o cão estava sentado sobre um trono de joias dentro da quadriga. Seu corpo, adornado por ornamentos divinos, parecia mais belo do que milhões de luas. O antigo cão cantava as glórias de Radha, Krishna e Caitanya. Os Siddhas abanavam-no com abanos camaras conforme ele era levado de volta a Goloka.
O Senhor Brahma, Shiva, Sanaka e outros semideuses rodeavam a quadriga e cantavam em louvor a Caitanya. “Todas as glórias, todas as glórias ao oceano de misericórdia, o amado de mãe Saci. Nunca antes Ele outorgou tão magnífica misericórdia. Ele liberou um cão e enviou-o de volta a Goloka”.
“Todas as glórias a Caitanya”, os semideuses continuaram, “o recurso dos desamparados. Sois a melhor de todas as encarnações. Por Vossa misericórdia, as pessoas da era de Kali salvar-se-ão. Quão maravilhosos hão de ser os passatempos que revelareis no futuro? Quando nós semideuses tornar-nos-emos afortunados e Vossa suprema bênção haveremos de receber? Simplesmente por Vosso toque, um cachorro obteve a liberação. Jamais vimos semelhante misericórdia, nem mesmo nos passatempos do Senhor Krishna. Ansiamos por Vossa misericórdia, de modo que também possamos alcançar o destino alcançado pelo cão. Ó Caitanya, curvamo-nos diante de Vossos pés de lótus maravilhosamente gloriosos. Sempre perdoais os erros e ofensas. Desta maneira, qualquer afortunada entidade viva que se refugie em Vós, Senhor Caitanya, alcançará Goloka”.
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23 de junho de 2014 às 4:07 PM