Onze Dias no Inferno

22 I (história - Karma e Reencarnação) MukundaBrahmana (bg) (ta) (sankirtana) (2)

Srila Vyasadeva

Depois de ser morto por um ladrão, o brahmana Mukunda é levado para o inferno. Em meio a seus tormentos infernais, no décimo primeiro dia, sua sorte muda. Que evento foi esse a livrá-lo do mundo de seres monstruosos? O que motivou esse evento? Conheça esta história do Padma Purana.

Em Koshala, às margens do rio Chandrabhaga, vivia um pecaminoso barbeiro de nome Chandaka, o qual era habituado a roubar a riqueza alheia. Entre seus crimes rotineiros estava matar viajantes para privá-los de suas posses. Também sempre se encontrava ocupado em jogar, beber e desejar as mulheres alheias. Ele quebrava paredes de templos e vendia as pedras.

Próximo a ele, vivia um brahmana chamado Mukunda. Uma noite, enquanto Mukunda dormia pacificamente nos braços de sua jovem esposa, após ter desfrutado com ela, Chandaka entrou em sua casa, de espada em mãos, desejoso de roubar as joias e outras posses de valor de Mukunda. Primeiro, o barbeiro roubou o que se encontrava no quarto do casal a dormir. Ele, então, colocou-se a pegar as joias em seus corpos. Sendo despertado pelo toque do ladrão, Mukunda abriu seus olhos. Temeroso, no entanto, ele fechou novamente seus olhos e permaneceu em silêncio. Finalmente, quando o ladrão deu-lhe as costas para partir, Mukunda levantou-se e o agarrou por trás. O ladrão, contudo, virou-se e cortou Mukunda com sua espada. Com seu estômago perfurado, o brahmana esclamou: “Pai! Mãe!”. Ao ouvirem esses gritos, as pessoas correram até o local. Quando viram o ensanguentado Mukunda com seus intestinos saindo de seu corpo, elas perguntaram: “Quem fez isso?”. Com grande dificuldade, Mukunda respondeu: “Este é o resultado de meus atos passados, feitos em uma vida pretérita. Nada mais concede a alguém prazer ou dor”. Após dizer isso, o brahmana morreu. Sua mãe então chegou ao local e colocou-se a chorar, mantendo a cabeça de seu filho sobre seu colo. Após lamentar-se profundamente, ela desmaiou. A esposa, então, colocou a cabeça de seu marido sobre o colo dela e também se lamentou em grande aflição.

Pouco tempo depois, o preceptor de Mukunda, chamado Vedayana, aconteceu de chegar ao local. Não vendo seu discípulo, ele perguntou sobre Mukunda a uma criada, a qual respondeu: “Algum ladrão matou meu patrão à noite e roubou toda a sua riqueza. Seu corpo se encontra no topo da casa. Sua esposa e sua mãe estão chorando”. Vedayana subiu ao topo da casa e viu o corpo de seu discípulo. Desejando aliviar o sofrimento da esposa e da mãe, ele explicou-lhes acerca da natureza da alma e do corpo material, que é temporário. Ele disse: “Nascimento e morte são vistos apenas por aqueles que pensam que o corpo é o eu. Aquele que compreende a Superalma jamais se lamenta pela mudança temporária do corpo”. Vedayana realizou os ritos funerários, após o que foi para o Ganges, juntamente com o irmão de Mukunda e outros parentes.

Enquanto o grupo dormia à noite às margens do Ganges, um cachorro aproximou-se e comeu o alimento cozido deles. Com efeito, o cão lambeu repetidamente as panelas. Por fim, sendo golpeado na cabeça por alguém, o cão foi embora. Posteriormente, entretanto, o cão retornou e levou o saco contendo as cinzas e ossos de Mukunda. Após rasgar o saco, o cão jogou os ossos no Ganges. Tão logo isso foi feito, Mukunda foi visto sentado em uma quadriga celestial. Vendo seu guru e seu irmão mais novo a dormirem, Mukunda gentilmente os acordou. Em sua forma divina, ele ofereceu respeitosas reverências à seu preceptor.

Maravilhado, Vedayana dirigiu-lhe a palavra: “Mukunda, dize-me a verdade. Após a morte, para onde foste? Como era a vida lá?”.

Mukunda disse: “Contarei ao senhor o que me aconteceu após minha morte. Quando o perverso Chandaka matou-me, os Yamadutas foram pegar-me. Enquanto eles me arrastavam ao longo da estrada de areia quente, batendo-me com martelos de ferro, provei imensa aflição. Eles me disseram: ‘Foi devido à sua ofensa ao seu preceptor que você morreu prematuramente’. Em pouco tempo, cheguei a Samyamani, a morada de Yamaraja, o qual me disse: ‘Quando recebi este cargo, o senhor Brahma disse-me que eu deveria punir especialmente duas classes de sujeitos, a saber, aqueles que não amparam seus pais e aqueles que ofendem seu preceptor. Brahma disse que eu não deveria sentir nenhuma compaixão deles’”.

Mukunda prosseguiu: “Em seguida, os Yamadutas atiraram-me em vários infernos. No décimo primeiro dia de meu tormento, meus ossos foram atirados no Ganges, momento no qual fui instantaneamente liberto e fui viver no céu. Os habitantes da cidade de Yama causam temor aos pecadores, mas são agradáveis com os piedosos. Assim que cheguei, vi que mesmos as mocinhas tinham rostos similares aos rostos dos animais, com presas. Elas tinham barrigas gordas e outros atributos grotescos. Quando, todavia, livrei-me de meus pecados, vi que essas mesmas pessoas tinham atributos divinos. Agora, peço ao senhor a bondosa permissão de ir para o planeta de Indra”.

Vedayana disse: “Lembro-me de ti, desde tua infância, sempre me servindo fielmente. Não consigo entender qual ofensa cometeste”.

Mukunda disse: “Jamais desobedeci a meus pais. Eu servi meus sogros como um criado subalterno, além de jamais ter desobedecido ao senhor também. Eu, contudo, ofendi o sacerdote da família. Esta é a regra há muito em nossa família: quando nasce um filho, o cordão umbilical é cortado somente depois que uma vaca ou algo de valor similar é dado ao sacerdote da família. Quando meu filho nasceu, cometi a tolice de não realizar esse ritual. Deste modo, ofendi o sacerdote da nossa família. Agora, por favor, permite-me ir para o paraíso”.

Vedayana perguntou: “Através de que ato de mérito religioso aconteceu de teus ossos serem depositados no Ganges, libertando-te, assim, do inferno?”.

Mukunda disse: “Certa noite, um brahmana veio à minha casa. Recebi-o bem, dei-lhe comida suntuosa e, então, ofereci-lhe uma cama para dormir naquela noite. Todavia, naquela noite, ele teve uma febre horrenda. Com seu corpo queimando, não conseguiu dormir e, pela manhã, ele morreu. Realizei seus ritos funerais e, posteriormente, depositei seus ossos e suas cinzas no Ganges. Foi por isso que fui similarmente favorecido”.

Depois dessas palavras, o brahmana ascendeu aos céus.

Arte: Premamrita Devi Dasi.

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Uma resposta

  1. Alexandre

    Mais um conto para favorecer os Brahmanes e seu domínio social à época. Nada demais.

    22 de junho de 2015 às 5:51 PM

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