Doutor Patel Caminha para o Vaishnavismo
Hari-sauri Dasa
Trechos da obra Um Diário Transcendental
Dr. Patel gosta de questionar livremente, e Prabhupada gosta de um debate. Como caminhará essa conversa?
17 de dezembro de 1975
Prabhupada realiza suas caminhadas ao longo de uma praia localizada a apenas um quilômetro e meio do templo. Ele parte às seis e meia e retorna uma hora após o darsana da Deidade.
Dr. Patel frequentemente se encontra com ele na praia. Ele é baixinho, parrudo e está sempre descalço. Com sua risada rouca, Dr. Patel parece imensamente cheio de si; ele, contudo, desenvolveu atração pela companhia de Prabhupada.
Ele obviamente carrega consigo grande respeito por Prabhupada, embora nem sempre seja com a humildade e a submissão cultivadas pelos devotos. Ele sabe um pouco de sânscrito e estuda o Bhagavatam de Prabhupada, o que permite conversas animadas sobre tópicos filosóficos e sobre tópicos da atualidade. Dr. Patel é conhecido entre os devotos por expressar opiniões fortes e, muitas vezes, defeituosas, embora as camufle com bom humor e, por fim, concorde com a visão pura e destendenciosa de Srila Prabhupada.
Esta manhã, eles conversaram brevemente sobre a civilização humana. Dr. Patel atribuiu a ruína da civilização moderna aos filósofos ateístas do comunismo: Marx, Hegel e Engels.
Srila Prabhupada não concordou. “Todos estão inventando suas próprias ideias”, ele disse, “inclusive líderes indianos, como Mohandas Gandhi e outros. Contudo, se as pessoas adotarem o Movimento de Sri Caitanya Mahaprabhu, o país melhorará da noite para o dia”.
Enquanto o nosso pequeno grupo seguia caminhando, as ondas do mar Arábico suavemente buscavam nossos pés. Às sete horas, centenas de pessoas caminhavam e se exercitavam pelo percurso da plana e areada orla. Jatos ocasionais estrondavam sobre nossas cabeças chegando e partindo do aeroporto Santa Cruz, não distante dali. Vários vendedores gradualmente se estabeleciam ao longo das fachadas dos hotéis, vendendo dabs (cocos verdes), chá, bidis e artigos semelhantes.
Muitos cavalheiros se aproximavam para oferecer seus respeitos a Prabhupada. Ele respondia com: “Hare Krsna! Jaya!”.
Prabhupada e Dr. Patel caminham enquanto conversam.
Dr. Patel apresentou-se como um grande admirador de um renomado poeta de Dvaraka. Seu nome era Bethai, que significa “vindo de Dvaraka – bet”. Dr. Patel mencionou que o Sr. Bethai escreveu unicamente poemas sobre Deus.
Sem intenção afrontosa, Prabhupada citou um poema bengali que dizia que, onde quer que estivesse, a pessoa não deveria nem executar atos religiosos nem pecaminosos; ela deveria simplesmente sempre se lembrar dos pés de lótus de Krsna.
18 de dezembro de 1975
Durante esta caminhada matinal, com o Dr. Patel nos acompanhando, Srila Prabhupada expandiu consideravelmente nossas perspectivas com sua explicação do verdadeiro padrão de educação e a relação deste com a cultura. A fim de descrever um homem educado, ele citou Canakya Pandita: “Matrvat para-daresu: ele vê toda mulher como mãe, exceto sua própria esposa. E para-dravyesu lostavat: e a propriedade alheia, as posses alheias, como lixo. E atmavat sarva-bhutesu: e sente por todos como se ele mesmo estivesse sentido suas dores e seus prazeres. Se a pessoa atingiu esse estágio, então ela é considerada educada”.
Caminhando pela macia areia no frescor do amanhecer, Prabhupada enfatizou veementemente que a verdadeira educação é tornar-se upadhi – menos (livre de designações materiais). Com sua inteligência afiada como uma navalha, muito esmeradamente amolada no assentador do conhecimento védico e do discernimento, Prabhupada desmascarou os líderes do mundo como pessoas destituídas de verdadeira educação. Ele rapidamente derrubou dois populares políticos indianos, em geral altamente estimados pelas massas.
“O que é educação?”, ele desafiou. “O Bhagavad-gita diz que você não é este corpo. Este é o começo da educação. Atualmente, educação significa ser nacionalista, expulsar e latir. Mesmo no nosso país, Mahatma Gandhi também foi infectado: ‘Deixem a Índia! Deixem a Índia!’”.
“Ele não quis dizer deixem a Índia”, Dr. Patel propôs. “Ele quis dizer deixem sua ocupação de governar. Na verdade…”.
Mas Prabhupada insistiu: “Sua palavra exata foi ‘Deixem a Índia!’. Tão logo você pense ‘Você é meu inimigo, ele é meu amigo’, então não há educação, e isso é tudo. Este é o padrão educacional: sama-darsinah, “ver com os mesmos olhos” (Bhagavad-gita 5.18). Krsna diz: ‘Arjuna, você é um patife. Não é o papel de um pandita pensar dessa maneira!’. Ele nunca considerou os Kauravas como o inimigo – não. O fato não é esse. O dever é lutar pela causa justa. Essa foi Sua instrução”.
“O Sr. Nehru disse que Krsna foi o maior dos fomentadores de guerra”, Dr. Patel disse.
“E ele é um patife”, Prabhupada retaliou.
Dr. Patel riu. “Ele dizia isso. Ele se considerava um homem muito grandioso”.
“Essa é a posição demoníaca”, Prabhupada disse. “‘Quem é como eu sou?’. E o bhakta, Caitanya Mahaprabhu está ensinando: trnad api sunicena taror api sahisnuna, ‘Deve-se ser mais humilde do que a palha na rua e mais tolerante do que uma árvore’ – isto é educação. Krsna, portanto, chamou essas pessoas de mudha, ou asnos. ‘Não, eles têm crédito, eles fizeram tantas provas’. Mayayapahrta-jnana, ‘seu conhecimento foi roubado pela ilusão’. Esse tipo de educação não tem valor algum porque eles estão esquecendo o verdadeiro ponto da educação”.
A conversa prosseguiu com Srila Prabhupada criticando os filósofos de sankhya que acreditam que a criação se faz por acaso.
Dr. Patel questionou: “Mas, senhor, essa filosofia sankhya também acredita nos Vedas”.
“Não, não”, Prabhupada corrigiu. “A filosofia sankhya do Kapila original. E essa filosofia sankhya posterior…”.
“…é de outro patife!”, Dr. Patel completou.
“Sim! Agora você aprendeu!”, Prabhupada exclamou.
Todos riram alto, desfrutando da educação do Dr. Patel. Através da companhia de Srila Prabhupada, ele está aprendendo a arte da boa discriminação e abandonando seu pseudoliberalismo. Pela graça de Srila Prabhupada, ele está começando a entender que nem todos têm algo digno de se falar ou ouvir. Grande parte do encanto de Srila Prabhupada é sua imparcialidade. Suas objetivas declarações são irrefutavelmente sensatas e lógicas.
“O verdadeiro problema”, Srila Prabhupada prosseguiu explicando, “é que as pessoas não estão interessadas em ouvir o Gita e o Bhagavatam, embora estas obras expliquem a essência de todo o conhecimento. Essa temática se torna aprazível por meio da companhia dos devotos, sem o que ninguém se interessa por elas. Muito embora estejamos dando aulas diariamente, não é aprazível para o homem comum”.
Dr. Patel jocosamente atribuiu isso às fortes táticas de pregação de Srila Prabhupada. “Você os metralha!”, ele disse rindo sua risada alta e destoante.
Prabhupada novamente exibiu sua neutralidade pessoal. Se ele fala de maneira crítica, não é em virtude de paixão ou preconceito. “Como eu poderia falar algo que não é falado por Krsna? Nós temos este teste: se alguém não tem interesse por Krsna, ele certamente está em um destes grupos – duskrtina, mudha ou naradhama, ‘canalhas, tolos ou os mais baixos da humanidade’. (Bhagavad-gita 7.15) E Caitanya Mahaprabhu diz: yare dekha tare kaha krsna upadesa, ‘Com quem quer que você se encontre, compartilhe a instrução de Krsna’. Deste modo, como posso violar? De ambos os modos, eu não posso violar. Caitanya Mahaprabhu disse que você deve falar apenas o que Krsna diz. E Krsna disse que qualquer um que não seja consciente de Krsna é um patife, é o homem mais pecaminoso, é o mais baixo da humanidade. Então, por que eu não deveria dizer? Isso não é metralhar, mas sim dizer a verdade”.
Então ele riu com o Dr. Patel. “Mas eu não sou um perdedor. Eu não faço nenhuma concessão. Pergunte a todos estes meus alunos. Eu nunca faço nenhuma concessão, mas, ainda assim, eles compreendem, e eles estão comigo… Em Los Angeles, muitos cientistas costumavam comparecer. Assim, após conversar com eles, eu costumava dizer: ‘Vocês são demônios! Vocês são patifes!’, e eles toleravam”.
Sorrindo, Prabhupada lembrou-nos de como eles haviam permanecido mais duas horas conversando e tomando prasada. “Eles estavam felizes comigo achando-os demônios e patifes!”.
Um devoto sugeriu que a ausência de perguntas no programa da noite anterior foi em razão da completude da palestra de Prabhupada.
“Sim”, Dr. Patel disse, “é muito difícil questioná-lo. Você aniquila facilmente a oposição!”.
Todos riram em concordância.
19 de dezembro de 1975
Próximo ao mar, apreciando o fresco ar da praia, Prabhupada descreveu quão rapidamente os seres humanos podem descender ao animalismo quando a cultura espiritual se perde. Ele nos disse que, nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, as pessoas eram forçadas a comer suas próprias fezes.
Dr. Patel reconheceu que, como coronel honorário dos ingleses, ele sabia que eles tinham uma regulação autorizando os soldados a beberem sua urina. “Mas”, ele disse, “eles não tinham permissão para comer fezes”.
Prabhupada balançou sua cabeça expressando descrença. “Vejam só: ‘Eu estou fazendo uma lei. Vocês podem beber urina!’”. Ele se voltou para nós com os olhos bem abertos enquanto todos riam também desacreditados.
Dr. Patel ofereceu sua opinião médica de que a urina tem muitas propriedades essenciais para o corpo, e que, portanto, não é tão ruim.
“Então, você está aconselhando seus pacientes a irem em frente e beberem?”, Prabhupada perguntou.
“Não, eu não digo. Mas isso não é tão ruim porque a urina estimula os hormônios…”.
Prabhupada irrompeu em risos, o que irritou o Dr. Patel.
“Ela estimula sim os hormônios. Eu estou dizendo que isto foi analisado cientificamente. Não é para fazer piadas com isso!”.
Prabhupada proferiu uma concordância jocosa: “Ne. Foi analisado. E as fezes são ricas em hidrofosfato”.
Todos os devotos estavam rindo agora, e o Dr. Patel ficou um pouco indignado. “Nosso Sr. Desai, Morarji, que perdeu sua posição de primeiro-ministro da Índia, está bebendo sua própria urina”.
“Accha! Por quê?”, Prabhupada perguntou.
Ignorando a reação de Prabhupada, o Dr. Patel continuou: “E olhe para ele! Ele está muito, digo, absolutamente saudável. O que quer dizer é que isso… nós não devemos rir sobre isso, mas há algo certo nisso”.
“Não, não. Eu não estou rindo; eu estou surpreso!”.
Prabhupada decidiu poupar o Dr. Patel de mais embaraços. Prosseguindo em sua passada regular pela areia, Prabhupada seguiu em frente e mudou a temática para a boa fortuna de nascer na Índia.
O Dr. Patel, agora novamente calmo, atestou os benefícios de tal nascimento citando o exemplo de sua mãe que morrera contemplando uma ilustração do Senhor Krsna.
Srila Prabhupada também lembrou um incidente de um homem em Delhi que pediu por uma ilustração de Radha-Krsna poucos minutos antes de seu falecimento. Ele faleceu no mesmo momento em que a ilustração foi colocada perante ele.
Dr. Patel mencionou que sua mãe também havia cantado Bhaja Govinda no momento da morte.
Prabhupada voltou-se para os devotos e comentou em apreciação: “Oh! Vejam só. Govinda”.
Nos dias atuais, infelizmente, muitos indianos estão deixando para trás sua tradição espiritual a fim de buscarem o moderno avanço materialista. Sravanananda disse que uma “missão espiritual” bem conhecida em Madras tinha um slogan acima da entrada de um campo esportivo de uma escola com os seguintes dizeres soando como o epitáfio da educação védica: “Jogar futebol aproximará a pessoa do paraíso mais do que o estudo do Gita”.
O rápido declínio da cultura espiritual é especialmente visível aqui, onde os nativos de Bombaim parecem excepcionalmente determinados a imitar a cultura ocidental. Como uma flor envelhecida que perdeu sua fragrância, esta cidade, em particular, tornou-se um verdadeiro baluarte da consciência materialista. Evidências de imposições culturais abundam. Na praia, grandes hotéis apresentam-se sem qualquer pudor como um grosseiro indicativo de que a sociedade moderna da Índia está rapidamente se degenerando, tornando-se cada vez mais dedicada à sensualidade.
Agora, entretanto, ocidentais estão vindo aqui para estudar e adotar a cultura que a Índia está se esforçando muito seriamente para se esquecer. Pela potência do amor de Srila Prabhupada a Krsna e pelo seu profundo conhecimento, ele está revertendo essa tendência.
Dr. Patel é um dos poucos que verdadeiramente apreciam a contribuição de Srila Prabhupada. Apesar de seu exterior insolente, ele tem sempre a disposição de indagar.
“Senhor, qual é a distinção entre cultura e educação?”.
Prabhupada respondeu: “Cultura significa ser humano. Como Canakya Pandita diz: matrvat para-daresu para-dravyesu lostavat atmavat sarva-bhutesu yah pasyati sa panditah. Isso é cultura. Ver toda mulher como mãe. O significado moderno de educação é lixo, aprender á-bê-cê-dê-é. Isso não é educação. Sem cultura, qual é o significado de educação?”.
“Então, cultura é a base para a educação?”, Dr. Patel perguntou querendo confirmar sua compreensão.
“Sim. Educação é algo necessário para ajudar a cultura. Não é que você se diploma em universidades e continua um cachorro. Isso não é educação. Aqui está a educação… Primeiro de tudo, aprenda como ver toda mulher como sua mãe. Aí começa a cultura. E eles estão, desde o começo da vida escolar, aprendendo a como seduzir uma garota. E dizem que isso é educação”.
Dr. Patel disse: “Eles estão seguindo os países supostamente avançados”.
Mas Prabhupada respondeu: “Avançado significa a filosofia de Freud, filosofia do sexo. Isto é a educação deles. Assim, como você pode esperar que eles aprendam? Isso não é possível. Desde o começo, não há cultura, senão que é cultura animal. Como cães – tão logo ele encontre uma cadela, ele quer fazer sexo. Essa é a educação”.
“Um amigo meu disse que essa cultura é a cultura do abutre”, Dr. Patel disse.
“Sim. Não abutres”, Prabhupada esclareceu. “Isto se chama civilização porca. Os porcos comem qualquer coisa e fazem sexo com qualquer um… Cultura significa vida humana; de outra forma, vida de cachorro… Amanitvam: primeiro de tudo, você tem que aprender como tornar-se humilde. E assim estão todas as pessoas: elas aprendem como se tornar orgulhosas. Estes jovens europeus e americanos estão oferecendo reverências ao guru – isso é cultura. Por que eles aprenderam essa cultura? Porque eles se tornaram consciente de Krsna. Portanto, yasyasti bhaktir bhagavaty akincana sarvair gunais tatra samasate surah: Se você torna a pessoa um devoto de Krsna, então toda a cultura virá automaticamente”.
20 de dezembro de 1975
Prabhupada não está se sentindo bem; inchaços em suas pernas, pés e mãos o estão incomodando. Ver seu corpo dilatado com fluídos é muito perturbador. Não obstante, ele saiu em sua caminhada, dando continuidade à educação do Dr. Patel e dos demais devotos.
Esta manhã, Prabhupada enfatizou que a pessoa deve ouvir de um guru fidedigno se ela deseja tornar-se entendida na vida espiritual. Ele condenou gurus charlatões que distorcem o processo de yoga e dizem aos outros que o indivíduo pode se tornar guru de si mesmo simplesmente “olhando para dentro”.
“Se não existe a necessidade de guru”, Prabhupada disse asperamente, “por que eles estão escrevendo livros para falarem com as pessoas? Tão logo você diga algo a alguém, isso é guru”.
Quando caminhávamos de volta para saudar Sri Sri Radha-Rasabihari, o som da voz das crianças cantando canções híndis tradicionais se fizeram ouvir partindo alto do pátio de uma escola infantil do outro lado da rua. Esta cena reforçou o ponto que Srila Prabhupada enfatizara durante a caminhada matinal – todos têm de aprender de outra autoridade qualificada.
Dr. Patel disse: “Guru é uma necessidade desde o instante do nascimento. O primeiro guru é a mãe”.
Prabhupada respondeu: “E esses patifes pregam: ‘Não existe a necessidade de um guru’”.
“Eles são patifes, senhor”.
“Sim”, Prabhupada concordou. “Simplesmente patifes. Patife significa que ele não domina o assunto e, ainda assim, ele prega. Isso é um patife. O guru tem de existir. Há muitos que dizem assim: ‘Não existe a necessidade de um guru’”.
Quando um visitante perguntou se era necessário algum empenho para obter um guru, Prabhupada apresentou sua confirmação. “Sim. Portanto, Krsna diz: tad viddhi pranipatena. Pranipat significa que você tem que se render. Quando você se submete a alguém, você tem que testar e então se submeter. Isso é sad-guru”.
“Eles dizem, senhor”, Dr. Patel falou, “que, se você é muito sincero, então o sad-guru vem automaticamente até você… como o senhor veio até nós”.
Prabhupada respondeu: “Sim. Porque Krsna está presente. Se Ele vê que alguém é realmente sério quanto a compreendê-lO, Ele envia. Dhruva Maharaja não aceitou nenhum guru, mas com fervoroso desejo determinou-se: ‘Sim, eu vou encontrar Krsna’. A mãe disse: ‘Krsna pode ser encontrado na floresta’. Ele foi para a floresta e começou de acordo com o seu próprio jeito. Krsna, então, enviou Narada Muni: ‘Esse garoto é muito sério. Vá e dê a ele um mantra de verdade’. São necessárias duas coisas: guru e Krsna”.
21 de dezembro de 1975
Não houve caminhada matinal hoje. Dando falta de Prabhupada na praia, o Dr. Patel foi até o apartamento de Sua Divina Graça com seu filho. Ele realizou uma leitura cardiográfica e deu a Prabhupada alguns comprimidos. Seu diagnóstico é pressão alta.
23 de dezembro de 1975
Srila Prabhupada está se sentindo mais forte, e o inchaço em seu corpo diminuiu em virtude dos comprimidos diuréticos fornecidos pelo Dr. Patel. Prabhupada, todavia, não tomou todos os comprimidos prescritos. Após tomar meio comprimido, tão logo ele obteve o efeito desejado, ele parou de tomar o medicamento.
Ele retomou seu exercício matinal, caminhando, como de costume, até a Praia de Juhu. Nós então nos encontramos com o Dr. Patel, que vinha caminhando na direção oposta. Ele parou para oferecer suas reverências, mas disse que não caminharia conosco. Ele estava se sentindo destratado em razão de ter sido barrado na manhã de ontem, quando eu disse que ninguém podia ir ao quarto de Prabhupada quando ele estivesse dormindo. Ele visivelmente decidiu registrar sua queixa através de um boicote. Ele disse a Prabhupada como ele se sentia ofendido por não ter sido admitido em seu quarto.
Embora eu houvesse dado a Prabhupada o medicamento, eu não havia lhe informado sobre o alvoroço que o Dr. Patel fizera ao não ser autorizado a vê-lo. Prabhupada ouviu sua queixa e, sem adiantar nenhuma conclusão, gentilmente indagou qual teria sido a razão para que seu acesso houvesse sido negado. Eu expliquei que o Dr. Patel havia chegado quando ele estava em seu descanso da manhã, e que, portanto, eu não queria perturbá-lo. Prabhupada indicou aprovar a minha ação. Discretamente, no entanto, ele também acalmou o doutor.
Quando Lokanatha o convidou a se juntar a nós, o doutor recusou, preferindo continuar com seus amigos. Conquanto tenhamos sentido falta dos animados debates, os devotos, sem o Dr. Patel para monopolizar a conversa, tiveram mais oportunidade para fazer perguntas.
24 de dezembro de 1975
O Dr. Patel juntou-se a nós novamente na praia, com seu bom humor restabelecido. Anteriormente, o doutor havia exaltado o valor da experimentação na busca pela verdade, então Prabhupada adotou isso como o tema de hoje. Ele desafiou o Dr. Patel quanto à razão para a verdade ter de se sujeitar à experimentação. “Se alguém sabe a verdade”, ele disse, “não há questão de experiência”. Como de costume, após breve debate, o Dr. Patel concordou.
Prabhupada enfatizou o princípio de que, embora o método de busca pela verdade possa ser experimentado, a verdade em si não se sujeita à experimentação.
12 de janeiro de 1976
Dr. Patel juntou-se a nós para a caminhada desta manhã. Em sua habitual impetuosidade, ele frequentemente interrompia Prabhupada antes que Prabhupada pudesse terminar o que ele estava dizendo. Algumas vezes, ele estava tão ávido por falar que ele sequer era capaz de pronunciar as palavras. Sua disposição excessivamente familiar para com Srila Prabhupada às vezes incomoda a nós discípulos e motiva certo atrito entre ele e nós. Prabhupada, todavia, é possuidor de infinita tolerância, nascida de sua avidez por ajudar os outros a avançarem na vida espiritual. Ele vê apenas o que há de bom nos outros, e, nesta manhã, sua disposição liberal e amigável estava claramente manifesta.
Dr. Patel já há algum tempo vem defendendo a posição da ciência médica e de seus praticantes contra as críticas de Srila Prabhupada. Ele insiste que eles não clamam serem capazes de salvar vidas, e que tampouco é esta a meta deles. Sua opinião é que eles estão simplesmente tentando ajudar as pessoas a viverem a limitada vida que têm de uma maneira melhor. Ele os comparou favoravelmente aos antigos filósofos védicos impersonalistas, declarando que, atualmente, a maioria dos cientistas aceita a existência de um Deus ou de alguma força superior.
Srila Prabhupada se opôs declarando que o impersonalismo também é ateísmo.
Um dos colegas do doutor fez objeção. O homem trazia a típica visão impersonalista de que jnana, o cultivo de conhecimento, é superior a bhakti, a devoção à Suprema Personalidade de Deus.
Após pedir a permissão de Prabhupada, foi o Dr. Patel quem explicou ao homem que o conceito vaisnava de que Deus é, em última instância, conhecido como a Pessoa Suprema é correto. Ele descreveu a progressão de realizações de brahman e paramatma a bhagavan. Ele, então, declarou que, não mais do que dois anos atrás, ele era inclinado à escola de pensamento impersonalista. Contudo, estudando cuidadosamente várias obras vaisnavas, especialmente os livros de Srila Prabhupada, ele, agora, estava convencido de que a devoção ao Senhor Supremo, Krsna, é a compreensão mais elevada.
Todos os devotos se alegraram perante o seu pronunciamento, e Prabhupada também estava muito satisfeito. É evidente que, apesar do hábito do Dr. Patel de propor desafios – embora de boa natureza –, e de sua tendência a preservar sua própria opinião, ele tornou-se de fato um seguidor de Srila Prabhupada. Prabhupada contou-nos que seu professor, na escola, costumava dizer que, se um garoto demora a compreender, ele também demora a esquecer, e se um garoto é rápido em compreender, será rápido em esquecer. Ele declarou, nessa lógica, que o Dr. Patel havia demorado a aprender, mas que, agora, ele não esqueceria.
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