Deus, Ordem e Justiça Política
Uma entrevista com Hridayananda Dasa Gosvami
(trecho da obra A Meta da Vida)
Em entrevista a uma rádio estadunidense, Hridayananda Dasa Goswami, um destacado líder do Movimento Hare Krishna, responde perguntas sobre Deus, justiça e política.
Entrevistador: No caso de Deus ser onipresente, alguém estaria inclinado ao aperfeiçoamento apenas porque está sendo controlado e observado o tempo todo. Portanto, não poderia se esconder. Deus tem um sistema de segurança perfeito, em que Ele pode vigiar seus pensamentos e ações. Talvez seja do nosso próprio interesse, mas não podemos sequer nos desviar, porque seríamos pegos. Há câmeras por toda parte.
Hridayananda Dasa Goswami: Eu admito que um sistema que não podemos trapacear não é muito atrativo hoje em dia.
Entrevistador: (Risos) Não foi isso que insinuei com a pergunta. Talvez algumas pessoas tenham tendência a fazer o que é certo por causa da culpa.
Hridayananda Dasa Goswami: Por exemplo, não deveríamos ter escrúpulos quanto a estuprar ou matar outras pessoas? Digamos que alguém esteja prestes a cometer um estupro, se sente culpado e não o faz. Nós diríamos a essa pessoa que ela não deveria se sentir culpada? E quando a culpa restringe alguém de um ato malicioso ou maléfico? Somos contra essa culpa? Queremos ignorar todos os obstáculos, soltar os freios e deixar o carro cair do penhasco? O que se está buscando? Algumas coisas são de fato erradas. Se alguém está sentindo-se inclinado a fazer algo que seja realmente prejudicial ou maléfico e se sente culpado em relação a essa inclinação, essa culpa é um sinal de nobreza, piedade, bondade, e alguém que ri dessa sensação de culpa é um monstro.
Entrevistador: Não estamos acostumados com alguém expondo a culpa como uma coisa boa.
Hridayananda Dasa Goswami: Isso depende. Se alguém se sente culpado por mastigar uma maçã, então talvez tenha que repensar seus valores – é claro, deve-se oferecer a maçã em sacrifício a Deus. Existe culpa racional e irracional: se alguém se sente culpado irracionalmente, tem um problema; se alguém não se sente culpado irracionalmente, tem um problema. Há situações em que, se a pessoa não sente culpa, ela tem um problema.
Entrevistador: Esse é um novo conceito para nós. E quanto às pessoas que nasceram sem culpa, que não se sentem culpadas por coisa alguma, como Ted Bundy, Jeffrey Dahmer ou os irmãos Menendez? Eles não parecem sentir qualquer culpa.
Hridayananda Dasa Goswami: Existem algumas pessoas muito monstruosas por aí. É claro que também há uma alma dentro delas, mas ela está encoberta. Devido às leis do karma, pelas nossas atividades prévias, nosso cultivo em vidas anteriores de uma consciência em particular, nascemos com muita bagagem nesta vida. As pessoas não nascem tábulas rasas, como a sociedade costumava sonhar, senão que há todos os tipos de impressões nelas. Se alguém é um monstrinho, deve-se fazer algo para proteger a sociedade. Assim como, se ciclopes caminharem pelo centro de uma cidade, temos que fazer algo em relação a isso.
Entrevistador: (Risos) Qual é o procedimento? O que uma sociedade deve fazer? Digamos que alguém seja uma semente do mal; o que se faria com essa criança que é má?
Hridayananda Dasa Goswami: Pode-se tentar corrigi-la. Se alguém está simplesmente determinado a caçar pessoas inocentes e não pode ser contido, então está fora do jogo. O que acontece se alguém esmurra o árbitro? Está fora do jogo.
Entrevistador: Deixe-me representar o papel de advogado do diabo: quero ficar do lado de um suposto criminoso. Eu cometi um crime, algo menor, um furto de uma loja, ou infringi as leis de trânsito, ou assaltei, mas sem causar dano algum. O que o senhor sugere?
Hridayananda Dasa Goswami: Estudos recentes têm mostrado que, se um governo, uma sociedade, permite todos os tipos de “atos menores” de anarquia, vandalismo, cria-se uma atmosfera na qual as pessoas não levam a sério a lei, o que conduz a crimes mais sérios. É por isso que os governos de cidades como Nova Iorque agora estão levando mais a sério coisas que costumavam pensar serem triviais. É como uma doença. Pode-se dizer, por exemplo: “Estou com febre, mas não é mortal, não é uma ameaça à vida, então não preciso cuidar disso. Não vou ficar em casa, não vou tomar remédio algum, porque é uma doença pequena”. O que acontece? A pessoa fica doente e morre. Se consideramos triviais todos os tipos de comportamentos anarquistas em uma sociedade, cria-se um ambiente, uma atmosfera, na qual a lei, a ordem, o respeito em geral por outras pessoas e suas propriedades não são levados a sério. Então, temos todos os tipos de crimes. Na verdade, esse é o fato. É como dizer: “Há um pequeno incêndio na minha casa, mas é apenas um pequeno incêndio, deixemos que queime”. Pequenos incêndios viram grandes incêndios. Se permitimos irresponsabilidade, desrespeito por outros cidadãos, por pessoas inocentes e suas propriedades, é como um fogo fora de controle. É exatamente isso o que acontece.
Entrevistador: O senhor acredita no karma. Se alguém será assaltado, roubado ou morto, é o seu karma, não é?
Hridayananda Dasa Goswami: Isso é bancar o papel de Deus. Temos que ter um sistema de leis no qual as pessoas respeitam os outros e suas propriedades, e não os exploram de forma injusta, abusiva e violenta. Esse é o dever do governo e da sociedade, e não bancar o papel de Deus e pensar que pode fazer o que quiser com qualquer um porque, se fizer algo errado com alguém, deve ser o karma dele. Deve-se lidar com as pessoas de acordo com seu comportamento neste mundo. Se elas estão se comportando apropriadamente, devemos tratá-las apropriadamente. Quanto à quantidade de força que deve ser utilizada contra o crime, o ponto simples é que não deve haver crime. E quanta força? O mínimo possível e tanto quanto necessário.
Entrevistador: Ainda sobre ofensas menores, digamos que alguém seja cleptomaníaco.
Hridayananda Dasa Goswami: O mínimo possível e tanto quanto necessário.
Entrevistador: Eu o ouvi, mas isso é uma doença, e não algo que realmente se escolhe.
Hridayananda Dasa Goswami: Pode-se dizer que assassinar em série é uma doença, não é? Você diria que um assassino em série é uma pessoa doente, ou diria que é saudável?
Entrevistador: Não, é uma pessoa doente.
Hridayananda Dasa Goswami: Então, dê a ele algumas aspirinas. O ponto é que não se pode abusar de pessoas inocentes, ponto final, quer se aceite esse princípio ou não. Se alguém acha que elas podem ser abusadas às vezes, não está qualificado para ser um governante. Se alguém acha que está tudo bem, então deve fazer outra coisa para se sustentar.
Entrevistador: O senhor tem o exemplo de uma sociedade na qual já foi comprovado que esse sistema funciona?
Hridayananda Dasa Goswami: Existem muitos países no mundo que têm diferentes sistemas de aplicação da lei – alguns deles têm pouco crime, outros têm bastante. Outra causa para todo esse crime é o que chamo de hiperurbanização. Todos sabem, ou deveriam saber, que essa tremenda urbanização que temos experimentado na nossa sociedade é o sintoma clássico da decadência. Podemos ver na Grécia e Roma antigas, nos Estados Unidos, na Índia, em qualquer parte do mundo que, quando as pessoas tendem a expandir desnecessariamente esses ambientes antropocêntricos, elas perdem o contato com a realidade, com a natureza, com Deus e começam a pensar que a realidade é criada pelos seres humanos – incluindo a realidade moral. E assim temos essas criaturas alienadas, fora de contato, hiperurbanizadas, que criam sociedades decadentes.
Entrevistador: Quais os tipos de pessoas que deveriam ocupar um posto no governo?
Hridayananda Dasa Goswami: Posso lhe dizer aqueles que não deveriam.
Entrevistador: Vá em frente.
Hridayananda Dasa Goswami: Esses que temos.
Entrevistador: E de quais precisamos?
Hridayananda Dasa Goswami: Precisamos de pessoas honestas e inteligentes.
Entrevistador: Como se mede isso? Aplica-se um teste de QI? O que é inteligência?
Hridayananda Dasa Goswami: Inteligência deve começar com sabedoria. Podemos preencher todas as habilidades técnicas, mas, se não há sabedoria, uma compreensão mais elevada, e há apenas um monte de pessoas animalescas lutando entre si para conseguir poder, então o que se pode esperar? Eu tenho um grande amigo que se graduou em uma prestigiosíssima faculdade de direito nos Estados Unidos e que tem exercido direito internacional em Manhattan pelos últimos seis ou sete anos. Ele comentou recentemente que não conseguia acreditar em quão corrupto é o sistema legal dos Estados Unidos, e no que os advogados fizeram com a justiça nesse país na busca de seu próprio interesse.
Entrevistador: Os Estados Unidos são uma exceção à regra?
Hridayananda Dasa Goswami: Eles talvez tenham mais advogados do que o resto do mundo junto. Os Estados Unidos é um país bastante avançado materialmente, o que, infelizmente, resulta em ser o mais avançado em termos de decadência. Nesse sentido, os Estados Unidos também é o melhor candidato para se sair bem, para guiar o mundo para fora dessa escuridão, porque já teve a experiência, já foi até o fim e talvez agora saiba melhor sobre isso.
Entrevistador: Como se muda a sociedade?
Hridayananda Dasa Goswami: Pode-se começar consigo próprio.
Entrevistador: Como mudo a mim mesmo?
Hridayananda Dasa Goswami: Para se tornar religioso, nós defendemos que, nesta era, todos devem cantar e meditar nos nomes de Deus, na sua própria tradição e cultura: essa é a maneira mais eficaz de se purificar a própria existência e despertar a consciência para uma realidade espiritual mais elevada.
Entrevistador: Existe escolha?
Hridayananda Dasa Goswami: Acabei de dizer: todos na sua própria tradição e cultura. Existe a opção de conseguir fazer Deus ir embora? Não é possível fazê-lO ir embora. Existe algo tão poderoso quanto Deus e Seu nome? Não existe. A escolha é que se é livre para adorar e tentar amá-lO na sua própria tradição, mas Deus está presente, e não é possível fazê-lO ir embora.
Entrevistador: O senhor segue o Bhagavad-gita. Eu li esse livro e parece haver uma diferença entre guerra boa e guerra ruim. O senhor poderia esclarecer isso?
Hridayananda Dasa Goswami: Sim, claro. Em um sentido, não existe guerra boa. Não é uma das coisas mais desejáveis. Quando se tem uma boa sociedade, guerra não é algo necessário. Porém, infelizmente, existe o mal no mundo, no sentido de que existem pessoas que causam danos aos inocentes. Então, para defender os seus direitos, para impedir que outros os prejudiquem, a guerra é boa. Ela não é boa no sentido de que seria melhor se não houvesse ninguém no mundo que quisesse causar danos a pessoas inocentes, então não haveria necessidade de guerra. Porém, pior do que defender os inocentes é não defendê-los. Guerra ruim, por sua vez, significa usar violência em algum tipo de instituição ou em nível social simplesmente para satisfazer os desejos egoístas de alguém.
Entrevistador: Qual é a sua visão sobre superpopulação?
Hridayananda Dasa Goswami: Há várias visões; não é uma questão fechada. Los Angeles e Manhattan estão superpovoadas, mas não acho que a Terra esteja. Para dizer se a Terra está superpovoada, é muito simples: veja quanta terra cultivável existe na qual se pode plantar alimentos, veja quantas pessoas existem e faça as contas. É uma questão matemática, e não uma opinião. Sabemos com certeza que uma proporção imensa da terra cultivável nesse planeta é usada para coisas como criação de gado – que é uma maneira extremamente antieconômica de usá-la –, produção de tabaco, café e chá, e para plantar e derrubar as árvores, fazendo do mundo um lugar cheio de lixo de papel. Na verdade, praticamente a maior parte da terra não está sendo usada para produzir boa comida saudável. Se estivesse, as contas dariam certo. Temos que a distribuir apropriadamente também; essa é outra questão.
Entrevistador: Há um entendimento comum de que as espécies animais relacionam-se entre si, e que o homem é um animal, ou o melhor deles. Então, qual é a diferença entre o homem e o animal?
Hridayananda Dasa Goswami: Em alguns níveis, somos animais: também respiramos, comemos comida e bebemos água, assim como eles fazem. A diferença é que um ser humano pode entender a natureza espiritual, ao passo que um animal está trancafiado no corpo material. É por isso que é muito lamentável que a sociedade humana moderna tenha amplamente ignorado essa grande bênção – de que temos inteligência e habilidade para entender a natureza espiritual eterna, em vez de, como os animais inferiores, estarmos simplesmente absortos em nosso corpo. Isso é muito lamentável.
Entrevistador: A ideia de moralidade pertence à raça humana. A seu ver, existe moralidade sem Deus?
Hridayananda Dasa Goswami: Eu acho que é um blefe. Se alguém diz que não existe um Deus, ou que não sabe se Ele existe, não acho que possa realmente demonstrar que haja algum tipo de lei moral convincente. Certamente há opiniões, e uma pode ser que existe algo como moralidade ou imoralidade. Mas isso nunca passará de uma opinião, porque quem é a autoridade? Dizer que não existe Deus é dizer que não existe uma autoridade absoluta, e, se não existe uma autoridade absoluta, tudo depende do que alguém acha, porque existem somente autoridades relativas. Portanto, todas as conclusões são relativas, o que significa que não precisamos aceitá-las.
Entrevistador: Parece que o senhor tem uma posição absolutista. Se estivesse encarregado dos assuntos do mundo, quer de um país, quer apenas de uma cidade, o senhor permitiria liberdade de imprensa?
Hridayananda Dasa Goswami: Sim, mas isso não é um assunto político. Quanto à posição absolutista, pessoas que são contra o estupro, por exemplo, acreditam que as mulheres não devem ser estupradas. Eu acredito que elas sentem que é realmente errado estuprá-las. Não acho que elas sintam que seja apenas a sua opinião – e se alguém pensa diferente, a saber, que talvez esteja tudo bem em estuprar mulheres, que isso seja apenas uma opinião diferente –, mas acho que elas realmente acreditam que é errado. Ou pessoas que sejam contra o racismo: a minha experiência é que aqueles que são contra o racismo realmente acreditam que é errado. Se alguém acha que algo é realmente errado ou certo, essa é uma posição absoluta, porque não acha que seja relativo, que dependa da sua opinião; ele realmente acha que é certo ou errado. Geralmente, pessoas que são contra posições absolutas reservam-se ao direito de serem absolutas nas suas questões mesquinhas, coisas em que acaso estejam interessadas, e, para outras coisas, não existe certo e errado.
Entrevistador: Certamente muita hipocrisia seria eliminada do mundo se o sistema védico fosse implementado nesta era. Existe alguma chance e algum sentido em produzir, ou trazer de volta, um sistema tão diferente, de uma era tão distinta da nossa?
Hridayananda Dasa Goswami: Qualquer filosofia ou cultura que valha a pena reviver deve estar repleta de valores universais. Se eles não existem, então, para que se incomodar? E se há valores universais, pode-se aplicá-los de acordo com o tempo e as circunstâncias.
Entrevistador: O que é um governo ideal?
Hridayananda Dasa Goswami: Um governo ideal é aquele que não é constituído de tolos, no qual os líderes de fato conhecem as leis da natureza. Por exemplo, imagine se o Congresso aprova uma lei desconhecendo a lei da gravidade. Se essas pessoas declaram um dia que revogaram a lei da gravidade e que todos estão livres para saltar de prédios e montanhas, porque essa não é mais a lei, as pessoas ainda assim morreriam por saltar de prédios e montanhas. Da mesma forma, o governo pode dizer, por exemplo, “claro, você pode matar animais, pode se ocupar nesse ou naquele tipo de sexo”. O governo pode dizer isso e podemos gritar que temos nossos direitos; infelizmente, isso é contra as leis da natureza, e o azar é seu. Pode-se gritar o quanto quiser, mas, ainda assim, é contra as leis da natureza e causará problemas ao mundo.
Entrevistador: Na maioria dos países democráticos, temos os partidos conservadores e liberais. O senhor poderia mencionar os prós e contras de cada um?
Hridayananda Dasa Goswami: Certamente ambos os partidos estão cheios de contras. Suponho que os liberais sejam tolerantes e tentem dar uma chance a todos. Para simplificar: os liberais tendem a ser tolerantes e imorais, e os conservadores tendem a ser morais e intolerantes. E a cultura védica é moral e tolerante.
Entrevistador: O senhor vota?
Hridayananda Dasa Goswami: Sim, quando me sinto inspirado.
Entrevistador: Quando foi a última vez que votou?
Hridayananda Dasa Goswami: Não me lembro.
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Nota dez para essa entrevista com o Maharaj! Fantástica!
15 de julho de 2014 às 3:47 PM
judio coliforme, egomaniaco, cinico, cazabobos aprovado, glorificado y venerado por gente de la misma calaña
andha yathandair upaniyamanas, un ciego q sigue a otro ciego y ambos caen en el mismo pozo
14 de fevereiro de 2016 às 3:16 PM
Fantástico! Essa é a conclusão verdadeiramente absoluta! Jay srila Acarya Deva!
11 de fevereiro de 2016 às 1:02 PM
Namaste! Jaya Srila Acharyadeva! Todas as glórias! Reverências. Amo seus pés de lótus! Hare Krishna!
Namaste .jaya. sryla..acharyadeva. todas as. Glorias. .. reverencias. Amos. Sues. Pea. Dr. Lotus.hare. krisnha
18 de abril de 2016 às 10:26 PM