Escola Bhakti: Amar é Servir
Volta ao Supremo: Como surgiu a Escola Bhakti? A que ela se propõe?
Prana-natha Dasa: O surgimento de nossa escola se deu em uma dupla asserção, a primeira se referiu à necessidade de provar que a educação védica, trazida por Srila Prabhupada, era sem dúvida o método mais sublime e eficaz para melhorarmos o nível humanitário, intelectual e espiritual da sociedade, e a segunda, que facilitou todo o processo, é que havia uma demanda a ser suprida: dezenas de crianças e jovens vinham ao nosso templo e não tínhamos um projeto que pudesse suprir as necessidades daquele público. Portanto, nossa escola é comunitária, pois atende as demandas de uma comunidade; confessional, pois confessa uma determinada fé, e filantrópica, por não cobrarmos nada por nosso serviço prestado.
Volta ao Supremo: Por que a escolha de combinar a metodologia védica de ensino com novas tendências pedagógicas, como a pedagogia Waldorf? A metodologia teórica proposta antes do início das atividades da escola se mantém ou foram necessárias adaptações à medida que os alunos revelavam seus potenciais e dificuldades?
Prana-natha Dasa: A metodologia védica já é completa em si mesma; se estudarmos a verdadeira história da educação (e um dia escreverei sobre isso), descobriremos que, no ocidente, os gregos iniciaram um processo mais sistemático de educação, baseado na indagação filosófica e ontológica, estruturada nas escolas de Atenas, e pelo lado de Esparta uma educação militar muito rígida, mas já nos perguntamos em que eles se basearam para a criação dessas escolas? Até mesmo o teatro grego… Tudo veio da Índia: as provas são vivas e claras.
Porém, quando apresentamos nosso projeto ao governo, eles nos indagaram sobre nosso método, e, para apresentá-lo, teríamos que escrever uma nova tese explicando-o em minúcias. Portanto, para que o público em geral identifique elementos pedagógicos já reconhecidos no ocidente, caracterizamos certos aspectos do nosso método utilizando-nos de métodos já reconhecidos.
O processo de mudança mais eficaz, tanto individual quanto coletivo, com certeza é a educação, porém sua característica principal é que ele ocorre de maneira muito lenta e requer muita paciência. Em nossa escola não foi diferente. Depois de dois anos, tanto o corpo docente quanto os alunos ainda estão sendo preparados para participar de uma escola diferente.
Volta ao Supremo: Embora uma escola confessional do Movimento Hare Krsna, a Escola Bhakti aceita alunos de famílias católicas e de outras religiões. Isto se revela um desafio?
Prana-natha Dasa: Tudo depende de como encaramos as situações do cotidiano. Outro dia, a mãe da Isabela me perguntou: “Faz cinco sábados que minha filha não vai para o catecismo, pois tem ido ao templo e viajado com os devotos. Sua professora está questionando o que está acontecendo”. Outra mãe, que tem quatro filhos em nossa escola, me disse: “Eu oro para Deus todos os dias para meus filhos se tornarem Hare Krishna”. Gabriel D., de 13 anos, escreveu em uma de suas cartas: “Os pais percebem que Hare Krishna não é simplesmente uma religião, mas sim um estilo de vida. Eles sentem a compaixão dos devotos e isso envolve todos em uma corrente amorosa que até mesmo os religiosos mais fanáticos acabam cedendo”.
Volta ao Supremo: Em que momento a escola apresenta os valores do Movimento Hare Krsna? É parte do currículo obrigatório ou opcional?
Prana-natha Dasa: Consciência de Krishna é parte do currículo obrigatório. Na verdade, é a parte essencial do currículo – sem isso nenhum outro conhecimento teria sentido. Todos os dias, os alunos assistem ao programa espiritual do templo, oferecem flores para Prabhupada, aprendem mantras védicos, cantam japa [oração em contas], têm aulas do Srimad-Bhagavatam duas vezes por semana e fazem o curso do bhakti-shastri três vezes por semana. O interessante foi ver como eles gostam de participar dos programas espirituais. Outro dia, em uma assembleia de alunos, houve uma votação, e, quase em unanimidade, eles votaram em participar mais dos kirtanas [canto de mantras com instrumentos musicais e dança] no templo durante a semana. Afinal, quem não gosta de cantar e dançar?
Volta ao Supremo: Qual é o perfil geral dos alunos que ingressam na Escola Bhakti?
Prana-natha Dasa: É muito variado. Nossa escola é como qualquer outra: há alunos com dificuldades de aprendizado, alunos brilhantes, alunos cooperativos, alunos egoístas etc. O que de fato se nota é que a maioria deles já passou por situações de violência, em alguns casos extrema, na comunidade e na própria família, o que é pior. Damos preferência de ingresso à escola alunos de famílias muito desprivilegiadas. Alguns alunos vêm para cá indicados pelo conselho tutelar da cidade, pois não são aceitos em mais nenhuma outra escola. Alguns já se envolveram no tráfico de drogas e coisas similares.
Volta ao Supremo: Quais mudanças são notáveis nos alunos ao serem submetidos à proposta educacional da Escola Bhakti?
Prana-natha Dasa: No último mês, convidei Sua Santidade Dhanvantari Swami para assistir uma assembleia de alunos que é realizada toda quinta-feira. Ele ficou pasmo com as colocações e a postura dos alunos, como cada um respeitava a vez do outro falar, levantando a mão, como os facilitadores de 12 e 13 anos conduziam com maturidade a reunião e como alunos de 6 anos expressavam sem medo suas opiniões. Ele ficou pasmo e expressou sua surpresa por ver como a reunião se sucedeu. Eu lhe disse: “Maharaja, o senhor não tem ideia do trabalho que nos deu para chegar neste ponto”. Ele respondeu: “Eu já havia chegado a essa conclusão durante a assembleia”. Gabriel S. repetiu de ano duas vezes por faltas excessivas e foi para o conselho tutelar por agredir uma professora. Hoje em dia, ele nos pede para ter aulas aos sábados. Na última sexta-feira, fomos à mostra internacional de cinema em São Paulo. Era um filme do circuito alternativo, o público o mais cult possível, e, ao final do filme, vieram me agradecer: “Nossa, as crianças se comportaram muito bem!”. As verdadeiras mudanças são vistas na relação entre eles, no cotidiano, em suas atitudes. O que realmente buscamos nos alunos é uma mudança de atitude, e não mero conhecimento teórico. Porém, só atingimos 30% da nossa meta. Algumas mudanças de atitudes vão levar algumas gerações para se cristalizarem.
Volta ao Supremo: Em relação a que atividades os alunos demonstram maior interesse?
Prana-natha Dasa: Trabalhar com o ser humano não é uma atividade fácil. Às vezes brinco com os alunos dizendo: “Por que não abri uma loja de sapatos…”. Na escola tradicional, os alunos têm uma grade de horário para seguir, e não há outra possibilidade. São divididos em séries e são obrigados a trabalhar com um grupo específico. Em nossa escola, o aluno pode escolher o que ele quer estudar e com quem ele quer estudar. Desta forma, o interesse dos alunos é suprido, suas questões internas são resolvidas e sua carência afetiva é sublimada quando ele tem o direito de escolher com quem e como trabalhar. Na escola védica, depois de limpar a escola e cuidar das vacas, a primeira atividade diária do aluno é ir à floresta buscar lenha para que o guru possa executar sacrifício. Façamos uma análise simbólica dessa atividade: quem traz a lenha é o aluno, e o professor queima-a no fogo do sacrifício, ou seja, quem traz as indagações e o interesse é o aluno, e o professor queima essas dúvidas e anseios ocupando o aluno em diferentes atividades. Janaina é adolescente, não queria fazer atividade física, se sentia um pouco afastada do resto do grupo por ser mais velha, ter outros interesses, passa por alguns desafios internos, normais para os adolescentes. A professora de matemática a elogiou e, na frente de toda a escola, ela foi glorificada. Na semana seguinte, ela estava feliz na piscina nadando com todos outros colegas e jogando futebol com suas amigas – seus interesses mudaram, seu aprendizado mudou.
Volta ao Supremo: Qual o nível de satisfação dos pais dos alunos em relação à Escola Bhakti? Qual a participação da família na escola?
Prana-natha Dasa: Algumas mães nos idolatram, outras não entendem muito bem nosso projeto, e outras são completamente indiferentes. No geral, há uma satisfação. Infelizmente, não há muita participação das mães no projeto. Franco da Rocha é uma cidade dormitório. A maior parte das mães trabalha como diarista e tem pouco tempo para se dedicar à família, o que dizer à escola dos filhos. A ideia é no futuro criar programas e oficinas para as mães se envolverem mais.
Volta ao Supremo: Como foi no começo e é agora a receptividade dos alunos e dos pais dos alunos em relação à alimentação vegetariana?
Prana-natha Dasa: No início foi um caos. Muito alimento foi perdido. Foi uma adaptação para todos. Não tínhamos um merendeiro que fosse experiente em cozinhar para crianças, e os alunos não tinham consciência de que estavam recebendo um alimento sagrado. Com o tempo, todos se adaptaram, muitos alunos se tornaram vegetarianos e nós orientamos as famílias em como preparar alimentos saudáveis e nutritivos para seus filhos. Recentemente, durante três quinzenas na escola, alguns alunos fizeram uma pesquisa muito profunda sobre o vegetarianismo e seus vários aspectos, e criaram até o MCJV (Movimento de Crianças e Jovens Vegetarianos).
Volta ao Supremo: A escola aborda com os alunos assuntos polêmicos, como gravidez precoce e homossexualidade? A partir de qual idade? De que maneira?
Prana-natha Dasa: Como sabemos, a cultura védica, assim como o ayurveda [medicina tradicional védica], é uma ciência preventiva. Nosso foco é conscientizar os alunos para que eles não sejam vítimas, ou causas, de problemas sociais. O Srimad-Bhagavatam aborda esses temas de maneira muito profunda, e, nas aulas do Bhagavatam, todos os alunos, de todas as idades, participam. Quando começou a primavera esse ano, o Cupido flechou vários de nossos estudantes, e, como nós temos uma relação muito próxima, muitos se aproximaram para pedir conselhos. Esse foi o momento chave, a necessidade surgiu deles, então nos reunimos com os meninos e depois com as meninas, explicando diferentes pontos sobre relacionamento e sexualidade. Neste fim de semestre, os alunos com mais de 12 anos estão lendo o livro Guerreiro Espiritual II, de Bhakti Tirtha Swami, onde todos esses pontos são tratados de maneira madura e consciente.
Volta ao Supremo: Atualmente, no Brasil, pesquisas revelam que o professor é um profissional com baixa autoestima e alto nível de estresse. É comum os professores se queixarem de inveja e competição em seu ambiente de trabalho, bem como medo de violência por parte dos alunos. A realidade dos professores na Escola Bhakti é diferente?
Prana-natha Dasa: Nossa relação com os alunos é muito, muito diferente dos professores das escolas comuns. Aqui nós convivemos com os alunos, comemos com eles, viajamos com eles, compartilhamos nosso dia-a-dia, muitos passam seus fins de semana conosco no templo – eles não são só um número. Nossa relação é paternal e maternal, porém os desafios para os professores seguem os mesmos. Às vezes são ainda maiores, pois todos são voluntários. Alguns pegam três horas de condução para chegar aqui, outros abandonaram propostas de emprego e se sacrificaram por nossas crianças, etc. Apesar de termos quinze professores, ainda enfrentamos certa carência para cumprir nossa matriz curricular, e isso dificulta uma relação mais próxima entre o corpo docente, pois estamos sempre ocupados com os alunos, das 7:30 às 18 horas.
Volta ao Supremo: Como a Escola Bhakti capitou recursos para se estabelecer e como se mantém sem cobrar mensalidade dos alunos? Há algum apoio governamental?
Prana-natha Dasa: O sankirtana [distribuição de livros devocionais] é a principal fonte de renda para a escola, principalmente nas maratonas de julho e dezembro quando todos estão livres para sair às ruas. Recebemos poucas doações, pois infelizmente o povo brasileiro não tem essa cultura de investir em programas sociais. O governo ajuda pouco, doando-nos parte da alimentação dos alunos. O voluntariado é que mantém nossa escola, em outras palavras, o amor e a vontade de ajudar o próximo é o que move nosso projeto. Isso é Bhakti, serviço devocional, por isso Escola Bhakti.
Volta ao Supremo: Quais são as perspectivas de crescimento da escola? Crescerá para atender também alunos de Ensino Médio?
Prana-natha Dasa: Na realidade, já instalamos o ensino médio este ano, mas atendemos somente alunos que terminaram o ensino fundamental em nossa escola. Para o próximo ano, iremos receber 15 alunos novos chegando ao limite de 90 alunos no total. Todos serão do primeiro ano do fundamental, pequenos, por volta de 5 anos. Queremos investir na base.
Estamos coletando fundos e negociando um terreno que fica a 7km de nossa escola. Ele fica na área rural, um ambiente muito bucólico perto de uma reserva florestal. Ali queremos fazer um gurukula nos moldes tradicionais para atender 1000 crianças até o final desta década. Será uma eco-escola junto com uma pequena comunidade para pessoas interessadas em viver da terra e com espírito comunitário. Lá também iremos instalar nossa universidade.
Volta ao Supremo: O que é preciso para matricular uma criança ou um adolescente na escola? Como alguém interessado em auxiliar a escola na função de professor, em funções administrativas ou outras pode fazê-lo?
Prana-natha Dasa: Temos quase 100 crianças esperando vaga em nossa escola. Os interessados preenchem uma ficha socioeconômica que é analisada pelos professores, e, quando há possibilidade de vaga, verificamos quais alunos têm mais necessidade. Ele passa por um período de adaptação até que ele seja efetivamente matriculado na escola. Demos início a um pequeno internato este semestre, com cinco alunos que vivem no ashram, quatro deles sendo filhos de devotos.
Quanto à necessidade de voluntários para auxiliar na escola, toda ajuda é bem-vinda, tanto na parte administrativa quanto na pedagógica. Basta contatar-nos via telefone, e-mail ou pessoalmente. Temos também o programa Adote um Aluno, em que o contribuinte envia uma quantia mensal para algum aluno específico. Mais informações podem ser obtidas em nosso website: www.escolabhakti.com.br.
Assista ao vídeo promocional da Escola Bhakti:
Essa semente brotou no coração e alma do Prana Natha, germinou no coração dos devotos e das devotas e virão árvores e mais árvores de raízes e troncos muitos fortes.
Hare Krishna!
7 de dezembro de 2012 às 10:04 AM
Meus olhos se enchiam de lágrimas a cada resposta que eu lia… Muito boa essa entrevista. Para quem está longe como eu, pude ter uma noção de quão maravilhosa está a Escola Bhakti.
Trabalhei anos em projetos em outras escolas que não tiveram resultados tão impressionantes – e em tão pouco tempo – como podemos ver nesse lindo projeto do Templo de Franco da Rocha.
Desejo que meu filho estude nessa escola (ou quem sabe numa filial dela…).
Parabéns a tod@s @s devot@s envolvid@s. Parabéns a todos os estudantes, por serem tão merecedores de tamanha misericórdia.
Gaura Premanande!!!!!
7 de dezembro de 2012 às 12:04 PM
Obrigada pelo belo trabalho. Vocês inspiraram o meu dia. Parabéns e que Krishna continue iluminando o projeto e despejando chuvas de bençãos a todos, professores, alunos, cozinheiros, monges, administradores… Escola Bhakti ki Jaya!
Gopi Kanta D D
7 de dezembro de 2012 às 2:36 PM
Minha filha estuda na Escola Bhakti há 1 ano e só tenho coisas boas a falar, seja da escola, seja de seus educadores. Prananatha é uma pessoa iluminada!!!!!!
7 de dezembro de 2012 às 3:31 PM
Eu também espero que as filiais desse projeto maravilhoso se proliferem. Que a Escola Bhakti se fortaleça cada vez mais para o bem da humanidade e a glória de Srila Prabhupada, com as bênçãos de Sri Sri Radha Krishna. Meu coração pula de alegria sempre que revejo alguma notícia da Escola Bhakti. Hare Krishna!
8 de dezembro de 2012 às 3:31 PM
Acredito que tudo já foi dito… Linda iniciativa. Realmente espero que meus filhos tenham o privilégio de poder fazer parte deste projeto futuramente… quem sabe aqui em Suzano. PARABÉNS. Todas as glórias a Srila PRABHUPADA.
9 de dezembro de 2012 às 8:10 PM
Parabéns!!!!!!!!!!
A Prabhu Prana Natha, Sri Krishna Prabhu, Mataji Krishna Bhava e a toda a Congregação de Franco da Rocha pela: “ESCOLA*BHAKTI” e pelo belo serviço a Srila Prabhupada, descobrindo a todas estas almas (vaisnavas (is)) que nasceram escondidas dentro das Famílias de Franco, fazendo-os lembrar e praticar o tesouro do Serviço Devocional a Sri Sri Radha Syamasundara e Sri Jaganatha, Baladeva e Subhadra. Aqui nasce o futuro de uma nova sociedade baseada na Cultura Védica, como o Título do Prabhupada Lilamrita diz: Unindo Dois Mundos. Que o Senhor Krishna sempre ilumine o caminho destes Guerreiros (as) Espirituais por muitos e muitos anos, em Consciência de Krishna.
De seu amigo e servo benquerente,
Murari Govinda das e família
10 de dezembro de 2012 às 12:39 AM
Aloha re Hare Krsna!!! Jaya Prabhu Prananatha… dandavats pranams. Parabéns pelo grande trabalho em consciência de Krsna. Todas as glórias a Srila Prabhupada. A importância de uma escola (gurukula) consciente de Krsna para a sociedade é muito grande. Eu tenho um filho, Govinda, 26, formado em arquitetura, que estudou integralmente no Gurukula. Eu sei a importância da educação séria, correta, que os devotos fazem no Gurukula. Espero que Deus, Krsna, abençoe a todos da Escola Bhakti por este maravilhoso trabalho. PARABÉNS!!! Um grande abraço! Seu servo, Murari Gupta das. HARIBOL!!!
13 de dezembro de 2012 às 5:32 PM