Perdoe e Esqueça

05 I (artigo - Superação de Obstáculos) Perdoe e Esqueça (1002) (sankirtana) (bg)Rashi Parikh

Quando nos sentimos ofendidos, mesmo com a menor coisa possível, podemos encontrar “amigos” que nos encorajem a buscar vingança ou, ao menos, não esquecer a ofensa até que o culpado sofra em arrependimento. Poucas vezes nos damos conta de que esses obstáculos (ou pessoas) vêm por um arranjo do Onipotente com lições explícitas para nós.

Toda criança tem suas brigas com seus irmãos. Assim também acontecia comigo.

No entanto, toda vez que eu reclamava com minha mãe, dizendo o quanto meu irmão se comportava mal comigo, ela dizia: “Você precisa aprender a perdoar e esquecer”. Essas palavras me irritavam. Elas me faziam sentir que eu perderia meu autorrespeito e meu espírito de luta.

Quando passei a ter contato com a filosofia da consciência de Krishna, comecei a ouvir esta frase mais frequentemente: “Perdoe e esqueça”. Parecia ser tão difícil. Ainda assim, como dito a mim, era algo crucial.

Deixe-me narrar um encontro instrutivo que tive outro dia.

Uma Experiência Instrutiva         

O tráfego às sete naquela noite estava surpreendentemente difícil. Estava a caminho de casa. A brisa era refrescante, e eu estava absorto em pensamentos. De repente, um estrondo de buzinas me tirou do meu devaneio. Virei-me para o banco de trás de meu carro.

Um jovem motociclista estava tentando nos ultrapassar. Ele estava encostando em nosso carro. Porém, nós não conseguiríamos sair de seu caminho; à nossa frente, um caminhão, que não conseguia ir mais rápido, evitava que outros acelerassem. No entanto, o ciclista não parava de buzinar. Sua insistência lembrou-me da frase do filme Hallabol: “Ataque com força total!”.

Assim, desesperados para fazer com que ele parasse de buzinar, mudamos de pista e permitimos que ele passasse. Contudo, enquanto nos ultrapassava, ele diminuiu sua velocidade na moto e olhou para nós com imensa ira. Era como se tivéssemos bloqueado oxigênio, mais do que apenas a pista. Meu motorista recusou-se a reconhecer sua face irada, o que o fez apenas tardar por mais alguns segundos, tentando conseguir alguma reação. Sua concentração sobre nós era tanta que ele não percebeu a pista a sua frente. De repente, o caminhão que estava na nossa frente reduziu a velocidade.

“Krishna!”, eu gritei, enquanto meu motorista acionava os freios. O jovem rapaz continuou a acelerar, indo bem na direção do caminhão. Ele desviou para a direita, o ciclista derrapou e quase perdeu o equilíbrio. “Oh meu Deus”, orei por ele. Enquanto passávamos o caminhão, apenas um segundo depois, olhamos pelo retrovisor e vimos que o motociclista havia se recomposto. Agora ele dirigia sobriamente, utilizando sua segunda chance com foco e sabedoria.

Obstáculos na Estrada da Vida

O nosso caminho espiritual sempre nos leva a uma circunstância onde enfrentamos face a face algo ou alguém que consideramos responsável por nos levar para trás. Mesmo após termos atravessado a barreira, normalmente esperamos poder humilhar o “réu”.

Quando nos sentimos ofendidos, mesmo com a menor coisa possível, podemos encontrar “amigos” que nos encorajem a buscar vingança ou, ao menos, não esquecer a ofensa até que o culpado sofra em arrependimento. Poucas vezes nos damos conta de que esses obstáculos (ou pessoas) vêm por um arranjo do Onipotente com lições explícitas para nós. Como o motorista na história, podemos nos ver atravessando muitos obstáculos, mas assim que estamos prestes a sair do problema, voltamos atrás para remexer na sua causa.

Isso pode dar prazer ao ego de inclinação maldosa, mas Krishna fica aflito, especialmente quando essa briga ocorre entre dois ou mais de Seus devotos.

A pessoa que está em sua jornada em direção a Krishna nunca pode fazer justiça mantendo sentimentos de ódio em seu coração contra alguma pessoa. Um pensamento ruim tem o poder de nos fazer perder o foco em nossa meta e canaliza toda nossa energia à ridicularização. Esse abuso, seja ele físico, verbal ou mental, deteriora a vida espiritual – e nem sempre ganhamos uma segunda chance.

Alguns momentos de sentimentos danosos a alguém fez o motociclista perder seu equilíbrio.

Sua Santidade Radhanatha Swami disse em uma palestra: “Quando perdoamos alguém das injustiças contra nós, nos libertamos do veneno dessa negatividade que está dentro de nosso próprio coração”.

Esquecer e Perdoar Não É um Sinal de Fraqueza

Circunstâncias como essa podem nos lembrar de Maharaja Prithu. Ele estava prestes a começar o sacrifício do centésimo cavalo, que marcaria o fim de um sacrifício ashvameda muito bem-sucedido. Porém, Indra, afrontado com essa poderosíssima ação fruitiva, não seria capaz de tolerar o sacrifício de Prithu. Em um surto de inveja, e sem ser visto, roubou o animal do sacrifício quando o filho de Vena estava oferecendo o último sacrifício de cavalo para a satisfação do Senhor de todo sacrifício. O rei Indra confundiu religião com irreligião. O Srimad-Bhagavatam 4.20.3 diz: “O mais inteligente em favorecer os outros neste mundo, seja Deus, seja humano, pertence ao melhor dos seres humanos; ele nunca age com malícia em relação a outros seres vivos, tampouco se esquece da alma dentro deste veículo do tempo”.

Porém, Maharaja Prithu, devido a sua grande compaixão, decidiu retirar-se e finalizou a cerimônia antes de completá-la. Ao fazer isso, satisfez imensamente o Senhor Vishnu. O Senhor disse: “Meu querido rei, fui bastante cativado por tuas elevadas qualidades e excelente comportamento, e assim estou muito favoravelmente inclinado a ti. Podes, portanto, pedir a Mim qualquer bênção que desejas. Aquele que não possui conduta e qualidades elevadas não poderá lograr Meu favor simplesmente pela prática de sacrifícios, severas austeridades ou yoga místico. No entanto, Eu sempre permanecerei estável no coração daquele que também é estável e equânime em todas as circunstâncias”. (Srimad-Bhagavatam 4.20.16)

Aparentemente Maharaja Prithu perdeu muito. Quantos de nós têm um coração que rejeite o prestigiado posto de Indra? “É fácil rejeitar algo quando não nos é oferecido”, Sua Santidade Radhanatha Swami disse uma vez. Todavia, será que realmente estaríamos perdendo algo quando estamos dispostos a satisfazer o Senhor como parte do sacrifício? Indra teve que completar cem sacrifícios de cavalo para ganhar sua posição; Maharaja Prithu, porém, ao praticar apenas noventa e nove, não só ganhou o coração do Supremo Senhor Krishna como também lhe foi oferecida qualquer bênção que desejasse. O que foi que satisfez tanto o Senhor ao ponto de Ele estar disposto a aparecer a Prithu? Ele se mostrou aberto a perdoar Indra da sua inveja ao roubar o cavalo do sacrifício. Tal é a grandeza do perdão.

Perdoar e esquecer sempre parece algo que os perdedores fazem devido à fraqueza. No entanto, eu pude entender que perdoar e esquecer é, precisamente, o que os perdedores não fazem. E isso é o que os tornam perdedores.

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Tradução de Chitralekha Devi Dasi.

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4 Respostas

  1. Marcela Beatriz Teodoro Dos Santos

    Hare Krishna! Foi muito bom ter tido a oportunidade de ler este artigo, justamente em um momento de dificuldades… Me ajudou muito! Obrigada! :’)

    5 de novembro de 2014 às 11:29 AM

  2. silvia regina silva

    Intelectual e moralmente aceito e aprovo com todo o conteúdo do texto. Na prática considero a importância de se vivenciar plenamente o que é correto e justo. Porém, se se estar em companhia de alguém com sentimentos e índole diferente, não devocional, prejudica o progresso espiritual, devo perdoar, esquecer e afastar-me dessa pessoa. obrigada

    5 de novembro de 2014 às 7:19 PM

  3. Bruno Miranda

    Excelente texto, os conteúdos do blog estão sempre muito bons.

    11 de junho de 2016 às 5:58 PM

  4. Anônimo

    Muito obrigado. Li em um momento em que precisava muito. Por favor, continue a escrever sobre esse assunto, pois muitas são as vezes em que caímos nas armadilhas de Maya e da nossa mente e falso ego.

    25 de junho de 2016 às 5:33 PM

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