Aula, Baula, Sani e Daravesa: Uma Análise dos Baulas da Bengala

31 I (artigo - Desvios Filosóficos) Aula, Baula, Sani e Daravesa, Uma Análise dos Baulas da Bengala (1300) (ta)Suhotra Swami

Essas escolas desviantes dos ensinamentos do Senhor Chaitanya são sincréticas, combinando aspectos de diferentes disciplinas religiosas vaishnavas, mayavadis, tântricas e islâmicas. Seus membros rejeitam a adoração à Deidade a ponto de serem iconoclastas, e incentivam os casais da comunidade a trocarem de parceiro sexual entre si livremente. Conheça mais sobre esta escola denunciada por Srila Bhaktivinoda Thakura.

Srila Bhaktivinoda Thakura identificou treze escolas desviantes dos ensinamentos do Senhor Chaitanya. São elas conhecidas como aula, baula, kartabhaja, neda, daravesa, sani, sahajiya, sakhibheki, smarta, jata-gosani, ativadi, cudadhari e gauranga-nagari. Porque essas escolas desviantes, ou apasampradayas, não cultivam as qualidades vaishnavas, suas atividades missionárias são condenadas como “enganadoras”. Neste artigo, analisaremos os aulas, baulas, sanis (ou sains) e daravesas.

Essas quatro apasampradayas são intimamente conectadas. Podem ser tidas como divisões de um grupo, normalmente chamado de “os baulas da bengala”. Fortemente tântricos, com propenções sufis, não necessariamente se apresentam como vaishnavas, embora digam corporificar o verdadeiro espírito do movimento do Senhor Chaitanya.

Os aulas, naulas, sains e daravesas compartilham da mesma filosofia, que descende diretamente da tradição budista tântrica de nome sahajayana. Eles veem toda a existência como formada pela combinação dos princípios mundanos masculino e feminino (purusha e prakriti). Eles podem harmonizar esses dois princípios dentro de si, acreditam, através do dito amor gerado pela união corporal de homem e mulher através de yoga tântrico. Quando purusha e prakriti estão perfeitamente harmonizados, o indivíduo experiencia o êxtase interno que eles chamam de jiyante mara, ou “morte enquanto vivo”, entendido pela completa interrupção de toda atividade física e mental.

Identificam esse estado com o êxtase mahabhava de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Quando esse êxtase é alcançado, eles dizem, pode-se conhecer o maner manush, “o homem no coração”, também conhecido como sahaja manush (“homem natural”), bhaber manush (“homem de devoção”), raser manush (“homem de rasa”) e sonar manush (“homem de ouro”).

Essas quatro seitas acreditam que todos os estados elevados de consciência, como a realização de Vaikuntha e Krishnaloka, encontram-se no corpo físico. Seu mote é: “O que não pode ser encontrado no corpo não pode ser encontrado em nenhum lugar”. Sem entrar em detalhes de suas práticas, é o bastante dizer que essa filosofia encoraja a pessoa a libertar a “bem-aventurança interior” armazenada no corpo através de atos degradados de luxúria e depravação.

Essas apasampradayas são sincréticas, combinando aspectos de diferentes disciplinas religiosas vaishnavas, mayavadis, tântricas e islâmicas. Eles rejeitam a adoração à Deidade a ponto de serem iconoclastas.

A palavra aula tem diferentes significados, podendo ser de origem arábica ou bengali. A palavra persa aul (do arabe wallia) significa “pessoa muito importante”, indicando o status supostamente elevado de um membro do culto dos aulas. No mundo islâmico, existe também a palavra auttal, “a primeira fase”. Isso indica que, das quatro seitas, os aulas estão no primeiro estágio de avanço em razão de serem chefes de família casados.

Outro significado de aula é au (“mulher”) e ula (“descer”). Esse significado aponta para sua conexão próxima com mulheres, através das quais acreditam descer a sabedoria mais profunda do universo. Em bengali, a palavra aul é ligada a kulata (“aflito”) no sentido de estar aflito por amor. Por exemplo, no Chaitanya-charitamrita, a palavra aulaya denota a aflição das gopis com amor por Krishna.

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Os ensinamentos do Senhor Chaitanya distinguem claramente amor e luxúria.

Os aulas praticam o que se chama de “meditação corporal”. Isso significa que os homens dessa seita consideram-se purusha, e as mulheres consideram-se prakriti. Seu caminho para a perfeição é o sexo ilícito. Os casais da comunidade trocam seus parceiros entre si livremente. A ideia deles é excitar seus sentidos a um auge a fim de experimentarem o amor divino. Eles afirmam que o Senhor Chaitanya, o Senhor Nityananda e os Seis Gosvamis eram todos auliyas e se valem de citações do Sri Chaitanya-charitamrita para tentar substanciar essa afirmação.

Contudo, os ensinamentos do Senhor Chaitanya distinguem claramente amor e luxúria. O Sri Chaitanya-charitamrita (Adi 4.165) define amor, ou prema, como a avidez por aprazer a Krishna, ao passo que luxúria é a avidez por gratificar os próprios sentidos. Por essa definição, as práticas dos aulas são simplesmente luxúria, não tendo qualquer conexão com escrituras autorizadas.

A influência da filosofia mayavada na seita aula é notória. As escrituras vaishnavas afirmam que Krishna é o único purusha transcendental. Os aulas, porém, dizem que, se acontece de o indivíduo ter uma forma masculina, ele também é purusha e pode imitar as atividades de Krishna impunemente.

A palavra baula vem da palavra sânscrita vatula, ou “louco”. Também pode ser associada à palavra vyakula, que significa “impacientemente ávido”.

Os baulas são menestreis andarilhos que tocam instrumentos como o ektar, de uma corda só; o dugi, que é um tambor similar ao tambor maior na tabla, e a flauta de bambu. Eles entoam publicamente os nomes de Krishna e cantam canções hipnóticas com palavras enigmáticas.

Os baulas, sendo musicistas folclóricos, exercem uma influência extraordinária sobre a cultura bengali. Foram patrocinados por ninguém menos do que Rabindranath Tagore, o poeta nobel da Bengala. Intelectuais bengalis os apreciam fortemente, tendo escrito muitos livros para glorificá-los. Nos anos recentes, esse tipo de apreço sofisticado pelos baulas difundiu-se para o ocidente. Baulas se apresentaram até mesmo no Albert Hall, de Londres.

É frequente que baulas tenham cabelo longo e o prendam em um coque no topo da cabeça. Costumam também usar tilaka na testa. Às vezes, usam a veste de um faquir muçulmano e adornam o pescoço com contas shaivites de rudraksha, as contas vítreas de muçulmanos e as contas de japa dos vaishnavas. É comum que sejam barbudos e carreguem uma bolsa de ombro, uma bengala de bambu e um fisti (um pote feito de um coco grande). São conhecidos por usar haxixe liberalmente para auxiliar no “autocontrole”.

Os baulas se reúmem tipicamente em festivais que eles chamam de mahotsabs, muitos dos quais coincidem com importantes funções gaudiya-vaishnavas. O Jayadeva Mela, que acontece nos invernos em Kenduli, na Bengala, é o maior de tais mahotsabs. Os baulas têm um akhra (ou asrama) lá, e milhares deles convergem para esse local para participar do festival de três dias.

Em outros lugares na Bengala e em Bangladesh, organizam mahotsabs ao longo do ano. Os baulas vão de um ao outro, tocam, fumam maconha e procuram por mulheres. Frequentemente, um baula pega uma mulher (ou sadhika) em um mahotsab e a deixa no próximo para pegar outra nova. Sua antiga sadhika ficará com outro baula.

Alguns baulas escrevem livros apresentando relatos pervertidos da vida de Sri Chaitanya Mahaprabhu e Seus associados. Em virtude de seus talentos, os baulas lançam sobre a mente da população inocente o entendimento de que o comedimento dos vaishnavas é extremamente inauspicioso.

A palavra sani vem de svami, que significa “mestre” em sânscrito. O grupo sani é mais comumente conhecido como “os sains”. São mendicantes que vagueiam sem seguir nenhuma disciplina em particular, tendo supostamente renunciado todas as designações externas.

Supostamente libertos das concepções materiais, os sains podem ser vistos em qualquer tipo de roupa (de sannyasi hindu ou faquir muçulmano) ou mesmo sem vestes. Estão tão acima das garras da ilusão que podem beber vinho e comer carne humana para expressarem sua elevada consciência. Muitos sains se mantêm distribuindo curas e medicamentos misteriosos.

Os daravesas (darbesh) são os gurus dos aulas, baulas e sains. Eles supostamente alcançaram a realização mais elevada através da prática tântrica. Darbesh é um termo sufi, derivado do persa dar (“porta”) e do também persa bhitan (“mendigar”), significando “aquele que mendiga de porta em porta”.

O Darbesh Ashram, em Dubrajpur, Bengala Ocidental, foi fundado por Atal Behari Darbesh, conhecido simplesmente como Darbeshji. É dito que, por seus feitos místicos, colocou um rei sob seu controle. O rei lhe deu a terra onde o asrama está situado. Os aulas, baulas e sains veneram Darbeshji como um gigante espiritual.

Os seguidores de Darbeshji se vestem como imaginam que Sanatana Gosvami estava vestido quando escapou da prisão do nababo Hussain Shah para juntar-se a Sri Chaitanya Mahaprabhu em Prayaga. Sanatana disse ao carcereiro, o qual subornava para que o libertasse: “Irei a Meca como um renunciante [daravesa]”. O culto darbesh tem isso como a instrução mais profunda de Srila Sanatana Gosvami.

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