Existe Sexo após a Morte?
Karnamrita Dasa
A pergunta que não quer calar.
Não, este não é um título “picante” para aumentar o número de leitores do artigo. Este é o nome de um filme de 1972. E daí? Enquanto caminhava a esmo, aconteceu de Srila Prabhupada, o fundador do Movimento Hare Krishna, deparar-se com uma propaganda desse filme em um outdoor, e, oportunamente, em uma aula do Srimad-Bhagavatam, mencionou-o.
Existe Sexo após a Morte?, comédia adulta dos diretores Alan Abel e Jeanne Abel.
Ele falou sobre ele em uma mistura de humor debochado e seriedade. Como um acharya (professor exemplar), ele observava tudo ao seu redor e, dando àquilo uma perspectiva consciente de Krishna, ensinava-nos a fazer o mesmo em nossa vida. Prabhupada apontou que, uma vez que a massa de pessoas está preocupada com sexo, desejam saber se continuará havendo sexo em algum tipo de vida após a morte. As implicações são que, se não houver sexo para onde vão, qualquer existência após a morte certamente não é um destino muito desejável.
Quando eu estava crescendo e frequentando o ensino básico e a faculdade, parecia que, embora o aprendizado fosse supostamente o propósito das instituições de ensino, a mistura entre os sexos parecia ser o principal ocupante da mente de todos. Na minha própria vida, posso ver na prática que aquilo em que nos absorvemos durante a juventude se torna muito enraizado em nós, e se deixamos isso vicejar durante a fase adulta, é praticamente impossível conceber a vida sem tal coisa. Como diz o ditado: “Cachorro velho não aprende truque novo”. Quanto mais, e por quanto mais tempo, pensamos ou focamos algo, maior será sua influência sobre nós. O título do filme, portanto, é de fato muito significativo.
Consideramos nossa verdadeira vida aquilo ao que somos viciados, e imaginar não ter tal coisa a que nos sentimos dependentes é inconcebível. Muito embora esportes profissionais, televisão, cinema, música popular, jogos de toda sorte e nosso uso de eletroeletrônicos não sejam frequentemente considerados vícios no sentido tradicional, como o são drogas e álcool, muitas pessoas considerariam difícil viver sem eles. Na verdade, todo o mundo material e nossos desejos sensoriais podem ser vistos como um vício que nos ocupa ou nos distrai do verdadeiro propósito da vida, a autorrealização. Quando de fato compreendemos nossa identidade como seres espirituais, isso muda nosso relacionamento com tudo.
Sem conhecimento transcendental, a alma eterna fica no mundo material, tendo seus desejos por desfrute mundano facilitados pelos objetos sensoriais, que são como fortes cordas, ou âncoras, para a alma. Podemos pensar na alma como um balão projetado para voar até Deus, mas, devido aos nossos desejos mundanos, que são como pesos, somos mantidos na superfície da terra, assim incapazes de conhecermos nosso verdadeiro potencial. No sentido inverso, também recebemos o método para obter o ilimitado céu do mundo espiritual: o santo nome, cantado com desejo intenso, ou avidez espiritual, para obter Krishna e Seu serviço divino.
A alma se chama “energia marginal”, o que significa que ela é produto de seu meio, ou se torna como o que a rodeia. A alma jamais é independente e é forçada a servir a Deus ou indiretamente através da energia material, ou a servir voluntariamente através de refugiar-se em Krishna em devoção amorosa. A vida humana é a oportunidade de escolhermos de que maneira queremos servir, mas temos que servir. Isso se chama sanatana-dharma, a natureza constitucional da alma.
Prabhupada teceu considerações em relação à pergunta proposta pelo título do filme nunca cogitadas por seus produtores. Primeiramente, ele explicou que, uma vez que a maioria das pessoas é apegada à vida sexual, terão de retornar ao plano material, onde o sexo é considerado a força amarradora. Em toda espécie de vida, o sexo existe em alguma forma. Quer entre os seres humanos, quer entre os animais, quer entre os vegetais, o sexo existe de modo a permitir que outras almas nasçam naquelas espécies.
Corpos materiais, embora aparentemente existam por si mesmos, têm sentido somente em relação às almas, que necessitam de corpos como veículos para facilitarem o extravazamento de impulsos carnais e o desejo de dominar a matéria. Nossa habilidade depende da construção específica de um corpo e de uma mente, o que é, na verdade, uma grande limitação da capacidade da alma. A vida humana propicia tanto os melhores recursos para tentarmos controlar e explorar a natureza quanto – o mais importante – para desenvolvermos uma percepção espiritual superior.
Da perspectiva mais elevada e profunda, para respondermos à pergunta de se sexo existe além desta vida, podemos recorrer a muitos textos védicos, como o primeiro verso do Srimad-Bhagavatam e o Sri Brahma-samhita, os quais declaram que o que quer que exista no mundo material tem sua origem no mundo espiritual. O mundo material é a como a sombra, ou o reflexo pervertido, da dimensão espiritual, motivo pelo qual, se existe sexo aqui, o sexo tem certamente sua origem espiritual pura. O desfrute material é sempre temporário e dependente de condições ideais dificilmente disponíveis, ao passo que o gozo espiritual é sempre novo e sempre crescente.
A alma, assim como Deus, por natureza busca pelo prazer, e é somente porque nos esquecemos de nossa fonte pura de desfrute que estamos centrados no desfrute material. Eis porque o princípio apresentado no Bhagavad-gita (2.59) é tão importante: “param dristva”, a verdade de que só podemos nos fixar em nossa vida espiritual por muito tempo quando estamos experienciando o gosto superior do desfrute espiritual. O dever pode nos carregar por algum tempo, mas o gosto espiritual nos avivará e nos permitirá medrar o caminho de bhakti.
Aprendemos com um de nossos grandes acharyas, Srila Visvanatha Chakravarti Thakura, sobre a psicologia original do sexo puro (adi-rasa), que é destituído de toda inebriação mundana. A absorção material na atração sexual é pensar que a vida gira em torno de nossos desejos tentando desfrutar de nossos sentidos pessoais, ao passo que a vida espiritual é tentar agradar o Desfrutador Supremo, Sri Krishna, e ver-nos como rendidos à vontade suprema. Portanto, existe sexo após a morte, quer reencarnemos nesta esfera material em resposta ao nosso desejo material de desfrute egoísta e mecânico dos sentidos (o que, por fim, se torna detestável), quer nos purifiquemos para experimentar a bem-aventurança eterna na dança de júbilo sempre crescente do amor Divino, com Krishna e suas associadas eternas. A consciência de Krishna é o processo para mudarmos da primeira forma de sexo para a segunda, ou do assim chamado desfrute material no mundo da morte (martya-loka) para o verdadeiro desfrute da alma com Deus no plano espiritual.
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Prabhupada diz sempre a Verdade.
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