O Florescer da Consciência

O Florescer da Consciência 1

Bhakticharu Swami

As escrituras védicas dividem a consciência em cinco categorias, a saber, encoberta, minúscula, em botão, florescente e plenamente desabrochada.

Árvores e plantas, por exemplo, são quase inertes, e estão na categoria de “consciência encoberta”. Elas parecem não mostrar nenhum sinal de consciência, mas, quando as observamos cuidadosamente, vemos que têm uma consciência limitada.

Outras entidades vivas, como vermes, insetos e animais estão em “consciência minúscula”. Não são tão encobertos quanto as plantas, mas sua consciência também não é completamente desenvolvida.

Os seres humanos possuem “consciência em botão”. Um botão parece minúsculo, mas tem o potencial de desabrochar em uma flor. A consciência humana tem potencial semelhante: parece minúscula como a do animal, mas os humanos têm a habilidade inata de desenvolver sua consciência a uma extensão quase ilimitada, até o ponto de conhecerem a Verdade Absoluta, a Suprema Personalidade de Deus.

Outras espécies não possuem essa habilidade especial, daí as escrituras védicas considerarem a forma humana de vida como a mais elevada. Com efeito, todas as escrituras consideram a vida humana especialmente sagrada.

Quando um ser humano começa a indagar sinceramente acerca da Verdade Absoluta, sua consciência espiritual em botão começa a se expandir ou evoluir. Esse é o estado de consciência “florescente”. Quando, por resultado de sua indagação, ele pratica a disciplina espiritual regulada, ele evolui cada vez mais. Finalmente, ele aufere completa percepção de Deus, o estado de consciência “plenamente desabrochado”.

Conhecer Deus é possível porque a verdadeira identidade do ser vivo é como alma espiritual, não o corpo material. A alma não é produto da natureza material, senão que vem da natureza espiritual. Quando a alma cai nos níveis inferiores de consciência, ela é encoberta primeiramente pelo corpo material sutil, ou etérico, feito de mente, inteligência e falso ego. Então, é encoberta pelo corpo material grosseiro, feito de terra, água, fogo, ar e éter.

Os corpos que percebemos com nossa visão material são corpos materiais grosseiros. Dentro do corpo grosseiro está o corpo sutil, que não podemos ver com nossos olhos porém podemos perceber através de nossa inteligência.

Superior a esse corpo material sutil de mente, inteligência e falso ego é a alma, não material, que anima o corpo. A alma é a fonte da consciência, a fonte da vida no corpo. A alma é o “eu”. Enquanto a alma esteja no corpo, o corpo parece vivo, a consciência flui pelo corpo, e a alma encoberta se identifica erroneamente com o corpo, considerando-o como o eu.

Uma alma corporificada transmigra de um corpo a outro em consequência de suas atividades pretéritas. Toda ação sua deixa uma impressão na mente, ou corpo sutil, e, segundo as impressões, o corpo sutil é moldado.

Se alguém age, por exemplo, como um anjo, seu corpo sutil se torna como aquele de um anjo. Se alguém age como um porco, seu corpo sutil se torna como aquele de um porco. Quando a alma deixa o corpo grosseiro na hora da morte, o corpo sutil carrega a alma para um ventre apropriado determinado pelo formato do corpo sutil. Desta forma, a alma transmigra de um corpo a outro segundo o estado de consciência que desenvolve.

O Florescer da Consciência 2

Foto: Humanos com consciência meramente animal.

As escrituras védicas descrevem que o indivíduo obtém um corpo humano após transmigrar por oito milhões de espécies inferiores. Gradualmente, cada alma caída evolui pelos vários estágios de consciência encoberta, minúscula e em botão. No estágio em botão, a alma corporificada tem a chance de desenvolver plenamente sua consciência espiritual despertando seu relacionamento com Deus, o ser supremamente consciente. Caso ela negligencie essa oportunidade, poderá novamente se submeter à transmigração pelos estágios de consciência encoberta, minúscula e em botão.

As espécies subumanas estão absortas em consciência corpórea. Frequentemente os seres humanos também o estão, mas os seres humanos podem se elevar a níveis superiores. Essa é a principal diferença entre o homem e os animais. Se um homem, apesar de suas faculdades superiores, dedica-se apenas às propensões animais de comer, dormir, acasalar e defender-se, ele faz péssimo uso de uma maravilhosa dádiva – perde uma rara oportunidade.

Um ser humano, devido à sua inteligência elevada, tem a liberdade de escolher ou evoluir espiritualmente e sair por completo da consciência material ou descer mais uma vez à consciência inferior.

Pessoas menos inteligentes frequentemente consideram o desfrute sensorial a meta da vida e desperdiçam suas vidas esforçando-se por objetos prazerosos aos sentidos. Sua absorção em ambições materiais torna a consciência mais baixa sua escolha automática.

Pessoas inteligentes compreendem a futilidade de semelhantes esforços por prazeres corpóreos. Elas entendem que tudo no reino material é temporário. Pela inteligência mais refinada, entendem que todos os esforços em busca de gozo terminam em cativeiro e miséria, daí vermos que, ao longo da história, nossos maiores pensadores eram avessos aos desfrutes materiais.

Mera aversão, porém, não é o bastante. A pessoa talvez seja avessa aos desfrutes materiais e renuncie ao mundo, mas o desejo por desfrute é natural. Porque a alma é uma centelha do desfrutador supremo, Krishna, a alma tem todas as Suas qualidades em nível diminuto, motivo pelo qual a tendência inata a buscar por desfrute é inseparável da alma. Entender a alma é entender que não podemos suprimir ou eliminar completamente o desejo por desfrute.

Uma pessoa verdadeiramente inteligente, portanto, tenta encontrar o padrão de desfrute verdadeiro. Se essa pessoa é séria e afortunada, entra em contato com um instrutor espiritual genuíno, por cuja misericórdia ela descobre o que é desfrute real. Com a guia do mestre espiritual, ela obtém a oportunidade de restabelecer seu relacionamento com Deus há muito perdido.

Esse despertar do amor dormente da alma por Deus é uma necessidade absoluta porque a alma, como centelha de Deus, jamais estará plenamente satisfeita a menos que unida com Ele. Essa é a mensagem central dos textos védicos.

As escrituras védicas nos aconselham que, mesmo se queremos desfrutar de coisas materiais, devemos, em vez de nos esforçarmos independentemente para satisfazer esses desejos, prestarmos serviço devocional e orarmos ao Senhor pedindo a realização de tais desejos. Esse não é o padrão mais puro de devoção amorosa, mas ao menos se reconhece o Senhor como o proprietário supremo. Naturalmente, conforme o sujeito cresce em percepção, ele compreende a necessidade de oferecer tudo a seu verdadeiro proprietário. A feitura de tais oferendas é o começo do serviço devocional ao Senhor.

A palavra “devoção” implica um amor intenso e extático. Experimentamos esse amor oferecendo a Deus objetos que consideramos valiosos ou belos. Sabemos quão intenso é o amor entre um jovem rapaz e uma mulher, mas com que frequência nosso amor por Deus atinge tão alta intensidade? O amor entre um homem e uma mulher não é nada senão o reflexo pervertido do verdadeiro amor da alma individual pelo Senhor.

A natureza material é em si um reflexo pervertido da realidade espiritual. É ilusória, como um sonho. A única diferença é que um sonho é individual, ao passo que este sonho chamado realidade física é coletivo. Contudo, além desta dita realidade, está a realidade absoluta, na qual se baseia o reflexo pervertido. Quando nossa consciência evolui e transcendemos o condicionamento ao corpo material, podemos desenvolver um relacionamento amoroso com o Senhor. Nós, então, nos qualificaremos a entrar nessa realidade na qual o desfrute real está sempre presente.

Não existe júbilo verdadeiro neste mundo material. Trata-se simplesmente de uma miragem. Parece que o desfrute está aqui ou ali, mas, quando corremos a seu encontro, ele foge de nós. É por isso que, em menor ou maior grau, todos se frustram cedo ou tarde com a vida material – não conseguimos aquilo pelo que o nosso coração anseia. A razão para essa frustração é que somos espirituais, e não materiais.

Nossa ânsia por desfrute também é espiritual, mas, tendo-nos esquecido de nossa natureza espiritual, buscamos em vão por desfrute dentro do mundo material. Nós nos identificamos com o corpo material e tentamos desfrutar da matéria, mas não conseguimos, em virtude do que naturalmente nos frustramos. Se você tirar um peixe da água e oferecer a ele todo tipo de conforto em terra, ele ficará feliz em algum momento? Da mesma forma, somos de natureza espiritual. Jamais poderemos nos tornar felizes mediante desfrutes materiais.

Na era moderna, avançamos muito cientificamente, mas, em última instância, isso confundiu ainda mais as pessoas. As pessoas se tornaram mais ateístas e mais materialistas sob a falsa esperança de que a ciência proverá respostas à nossa busca pela felicidade. Na verdade, vemos que, apesar de nossas facilidades, confortos, desenvolvimento econômico, programas de segurança social e assim por diante, suicídio, homicídio, estupro, aborto e outros crimes continuam crescendo. Esses são sinais óbvios de uma sociedade infeliz.

Se alguém quer saborear prazer verdadeiro, tem que desenvolver consciência espiritual, a qual culmina em amor a Deus. Este é o motivo para toda religião nos ensinar a orar, a chamar o nome do Senhor com toda seriedade: para que possamos nos tornar conscientes de Sua forma divina. Todas as escrituras recomendam o canto do santo nome do Senhor. O som espiritual penetra as coberturas da matéria e permite que o eu espiritual veja a Verdade Absoluta face a face. Esse é o mais elevado estado de consciência – a consciência plenamente desabrochada. Trata-se da derradeira evolução do homem, não apenas por hoje, mas em todos os tempos.

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Uma resposta

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