Uma Surpresa para o Swamiji

2 (história) Uma Surpresa para o Swamiji (1303)Satsvarupa Dasa Gosvami
(Excerto da obra Um Santo no Século XX)

Swamiji, como Srila Prabhupada era conhecido no começo de seu movimento, fica surpreso com uma demonstração de afeto e de amadurecimento espiritual por parte de seus primeiros seguidores em Nova Iorque.

Devido à presença do Swami e às palavras que ele falava ali e aos kirtanas, todos já se referiam à lojinha como “o templo”. Mas ela continuava sendo apenas uma lojinha depauperada e esquálida. A inspiração para decorar o lugar veio dos rapazes da rua Matt.

Howard, Keith e Wally planejaram uma surpresa para o Swami quando ele viesse para o kirtana noturno. Wally retirou as cortinas do apartamento deles, levou-as à lavanderia automática (onde tornaram a água marrom de tanta sujeira) e depois as tingiu de púrpura. O apartamento da rua Matt estava decorado com pôsteres, pinturas e amplas e decorativas colgaduras de seda que Howard e Keith haviam trazido da Índia. Os rapazes reuniram todos os seus quadros, tapeçarias, incensários e outras coisas e levaram, juntamente com as cortinas púrpuras, para a lojinha, onde começaram a fazer sua decoração. Na lojinha, os rapazes construíram uma plataforma de madeira para o Swami sentar-se e forraram-na com um velho pano de veludo. Por trás da plataforma, na parede dos fundos, entre as duas janelas que davam para o quintal, penduraram as cortinas púrpuras, ladeadas por um par de cortinas alaranjadas. Contra um painel alaranjado, logo acima do assento do Swami, penduraram uma tela circular com uma grande pintura original de Radha e Krishna de um artista chamado James Greene. Bhaktivedanta Swami encarregara James de fazer a pintura, dando-lhe como modelo a sobrecapa de seu Srimad­Bhagavatam, com seu rústico desenho indiano. As imagens de Radha e Krishna eram um tanto abstratas, mas os críticos que no Lower East Side frequentavam a lojinha aclamaram a obra como uma conquista maravilhosa.

Como Keith e Howard estavam pouco confiantes de que o Swami aprovaria as suas pinturas e gravuras da Índia, penduraram-nas no setor do templo que ficava perto da rua e mais afastado do assento do Swami. Uma dessas gravuras, conhecidíssima na Índia, mostrava Hanuman, que pelo céu carregava uma montanha para o Senhor Ramachandra. Os rapazes não faziam ideia de que espécie de criatura Hanuman era. Acharam que talvez fosse um gato, devido ao formato de seu lábio superior. Havia, também, a imagem de uma figura masculina com seis braços – dois braços de coloração esverdeada seguravam um arco e flecha; outro par, de tonalidade azulada, segurava uma flauta, e o terceiro par, de tonalidade dourada, segurava um bastão e um cântaro.

À tarde, já haviam forrado a plataforma do assento, arrumado as cortinas, instalado as sedas decorativas e gravuras e pendurado os quadros, e estavam decorando o estrado com flores e castiçais. Alguém trouxe um travesseiro para o Swamiji sentar-se e retirou de uma cadeira acolchoada uma almofada desbotada que serviria de recosto.

Além das provisões trazidas pelos rapazes da rua Mott, Robert Nelson, um dos amigos suburbanos do Swami, pegou um tapete de estilo belga que seu avô mantinha na garagem no subúrbio e levou-o de metrô até o número 26 da Segunda Avenida. Até mesmo Raphael e Don, dois hippies que pareciam interessados apenas em comida grátis e num lugar para dormir, participaram na decoração.

Guardou-se bem o segredo e os rapazes esperaram para ver a reação do Swamiji. Naquela noite, ao se apresentar para iniciar o kirtana, ele admirou otemplo recém-decorado (havia até incenso queimando) e ergueu as sobrancelhas em sinal de satisfação. “Vocês estão avançando”, disse ele enquanto percorria o olhar pela sala, com um sorriso largo. “Sim”, acrescentou ele, “isto é consciência de Krishna”. Seu súbito estado de felicidade parecia quase como a recompensa dada a eles pelo seu dedicado esforço. Ele então subiu na plataforma – enquanto os rapazes prendiam a respiração, esperando que ela não cedesse – e sentou-se, olhando para os devotos e as decorações.

Eles o deixaram satisfeito. Mas agora ele assumiu um aspecto de extrema gravidade, e, embora todos soubessem que ele era o mesmo Swamiji, seus sorrisos foram sufocados em suas gargantas, e os alegres olhares que lançavam entre si de súbito converteram-se em incerteza e nervosismo. Enquanto observavam a gravidade do Swamiji, a alegria que haviam sentido há poucos instantes de repente ficou parecendo infantil. Assim como uma nuvem rapidamente cobre o Sol com uma sombra escura, o Swami mudou de atitude, passando de alegre a grave – e espontaneamente eles também resolveram ficar graves e sóbrios. Ele pegou os karatalas e voltou a sorrir num gesto de apreciação, e seus corações ficaram radiantes.

O templo ainda era uma discreta lojinha, com muitas baratas escondidas e à vista, piso inclinado e iluminação precária. Mas como muitas decorações eram da Índia, havia nela uma atmosfera autêntica, especialmente com o Swamiji ali presente no estrado. Agora, as visitas que entravam eram de repente acolhidas num pequeno templo indiano.

Bhaktivedanta Swami olhava para o seu grupo de seguidores. Estava comovido por eles lhe terem oferecido um assento de honra e por suas tentativas de decorar a lojinha de Krishna. Ver um devoto fazer uma oferenda para Krishna não era algo novo para ele. Mas isto era novo: em Nova Iorque, a semente de bhakti estava crescendo, e, naturalmente, como o jardineiro daquele delicado rebento, ele agia impelido pela misericórdia de Krishna. Observando as imagens na parede, ele disse: “Amanhã virei olhar os quadros e lhes direi quais deles são bons”.

No dia seguinte, Bhaktivedanta Swami desceu para apreciar a nova obra de arte em exposição. Uma pintura em aquarela mostrava um homem tocando tambor enquanto uma moça dançava. “Esta está bem”, disse ele. Porém, outra pintura de uma mulher era mais mundana, e ele disse: “Não, esta pintura não é muito boa”. Ele caminhou até os fundos do templo, seguido ansiosamente por Howard, Keith e Wally. Ao deparar-se com a pintura da pessoa de seis braços, ele disse: “Ah! Esta é muito boa”.

“Quem é?”, perguntou Wally.

“Este é o Senhor Chaitanya”, respondeu o Swamiji.

“Por que Ele tem seis braços?”.

“Porque Ele mostrou ser tanto Rama quanto Krishna. Estes são os braços de Rama, e aqueles são os braços de Krishna”.

“De quem são os outros dois braços?”, perguntou Keith.

“São os braços de um sannyasi”.

Ele se dirigiu para a figura seguinte: “Esta também é muito boa”.

“Quem é?”, perguntou Howard. “É Hanuman”.

“Ele é um gato?”.

“Não”, respondeu o Swamiji. “É um macaco”.

Hanuman é glorificado na escritura Ramayana como o valente e fiel servo do Senhor Ramachandra. Milhões de indianos adoram a encarnação do Senhor Rama e do Seu servo Hanuman, cujas façanhas são perenemente exibidas em peças teatrais, filmes, arte e nos processos de adoração no templo.

Pelo fato de não conhecerem quem era Hanuman, os rapazes da rua Matt não eram menos ignorantes do que qualquer outro grupo de pessoas. No entanto, havia algo de especial naqueles jovens: estavam servindo o Swamiji e cantando Hare Krishna. Estavam aborrecidos com a vida material e com a síndrome do trabalho remunerado que acometia a classe média. Seus corações haviam despertado para a consciência de Krishna expandida, prometida pelo Swamiji, em cuja companhia pessoal sentiam algo sublime. Os rapazes do Lower East Side eram um pouco amalucados, apesar do que, como Bhaktivedanta Swami via o fato, Krishna os orientava no interior de seus corações. Bhaktivedanta Swami sabia que eles melhorariam, cantando e ouvindo sobre Krishna.

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Uma resposta

  1. Anônimo

    Estive lá há muito tempo, na lojinha Presentes Inigualáveis, e foi comovente ver o local onde Srila Prabhupada começou seu Movimento da Consciência de Krishna! Jay Srila Prabhupada! 😉

    23 de janeiro de 2015 às 5:30 PM

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