As Dez Ofensas no Cantar dos Nomes de Deus
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
(Trecho da obra Uma Solução para a Era das Desavenças)
Para dissipar a ilusão do falso ego e devolver o indivíduo à sua posição verdadeira, existe o processo do cantar dos santos nomes. Para completo êxito no processo, é preciso conhecer as dez ofensas e evitá-las com diligência.
Em geral, discrimina-se o nível do cantar em três: shuddha-nama, o nome cantado puramente; namabhasa, o nome quase puro, e namaparadha, o nome cantado de maneira ofensiva. Começamos pelo cantar em namaparadha e, se fazemos algum progresso, evitando as dez ofensas ao cantar do santo nome, pouco a pouco o cantar se torna namabhasa.
Quais são as dez ofensas a serem evitadas?
Primeira Ofensa ao Cantar
A primeira ofensa é difamar os grandes devotos que pregam as glórias do Senhor. As pessoas precisam ser instruídas acerca das glórias do Senhor Supremo, diante do que os devotos que se dedicam a isso jamais devem ser depreciados. É dito nas escrituras que ninguém é capaz de distribuir os santos nomes do maha-mantra Hare Krishna a menos que seja empoderado pela Suprema Personalidade de Deus. Se alguém é ofensivo contra alguém que divulga os santos nomes, como poderá fazer algum avanço no cantar? Tudo se acabará logo no começo. E mesmo se alguém já fez algum avanço nisso, seu avanço será completamente arruinado.
Com efeito, não devemos apenas não insultar um devoto de Deus, mas também não devemos insultar ninguém desnecessariamente.
Segunda Ofensa
A segunda ofensa é comparar os santos nomes do Senhor com valores materiais. O Senhor é o proprietário de todos os universos, em virtude do que Ele pode ser conhecido em diferentes lugares por diferentes nomes, mas isso de modo algum define a plenitude do Senhor. Qualquer nomenclatura relacionada com o Senhor Supremo é tão sagrada como as outras porque todas se destinam ao Senhor. Esses santos nomes são tão poderosos como o Senhor, e em nenhuma parte da criação existe algo que impeça que a pessoa cante e glorifique o Senhor através do nome específico com que o Senhor é conhecido naquele local. Todos eles são auspiciosos e ninguém deve distinguir esses nomes do Senhor como se faz com artigos materiais.
Todos os nomes de Deus, como Alá, Jeová e Krishna, são auspiciosos.
Por exemplo, se o nome Alá indica Deus, a palavra Alá é tão boa quanto a palavra Deus. Não há diferença. E de fato ouvi os muçulmanos entoarem nas mesquitas: allah-u-akbar. Se essa oração não fosse o nome de Deus, que valor teria? Mas é um nome de Deus. Os hindus, por sua vez, podem cantar Hare Krishna, o que indica a mesma personalidade. Embora sejam línguas diferentes, é igualmente Deus, porque Deus é absoluto. Cada um pode seguir sua própria escritura e, se nela é mencionado o nome de Deus, como se menciona o nome “Jeová” nas escrituras judaicas, pode-se cantar esse nome.
Não é importante por qual nome você se dirigirá a Deus – pode ser Jeová, Krishna ou outro entre os muitos milhares de nomes que Ele tem –, mas o importante é aceitar a autoridade de Deus, aceitar que Ele é o ponto central e tentar amá-lO.
Terceira Ofensa
A terceira ofensa é considerar que o mestre espiritual que propaga as glórias do Senhor é um ser humano comum.
O mestre espiritual é descrito em toda escritura como sendo o representante da Suprema Personalidade de Deus. Por que o mestre espiritual deve ser considerado assim? A razão é que ele está dando o conhecimento de Krishna. Enquanto ele se mantenha adepto do princípio de transmitir o verdadeiro conhecimento de Krishna, ele é guru, ou mestre espiritual. E tão logo ele, o mesmo homem, interrompe a distribuição do conhecimento puro, ele é um homem comum. É como o caso de uma escultura de pedra. Enquanto ela é adorada de acordo com os princípios reguladores, a escultura de pedra é Krishna. E a mesma escultura, quando estava na estante da loja do escultor, era apenas pedra.
O representante de Deus é mais amável e mais acessível do que Deus. Uma alma pecaminosa não pode se aproximar de Deus diretamente, mas esse indivíduo pecaminoso pode se aproximar com muita facilidade de um devoto puro do Senhor. E se ele aceita ser orientado por um devoto do Senhor, também pode entender a ciência de Deus e também pode se tornar um devoto puro e transcendental do Senhor e, deste modo, obter a libertação, voltando ao lar, voltando ao Supremo, para ser eternamente feliz.
Quarta Ofensa
A quarta ofensa é blasfemar a literatura védica, o conhecimento védico. Os Vedas não podem ser objeto de blasfêmia porque são livros de conhecimento transcendental. Os Vedas não são compilações do conhecimento humano. O conhecimento védico vem do mundo espiritual, do Senhor Krishna.
No estado condicionado, nosso conhecimento está sujeito a quatro defeitos. O primeiro é que não podemos deixar de cometer erros. “Errar é humano”, diz o ditado. Outro defeito é nos iludirmos, ou seja, aceitarmos como real algo que é falso. Todos acham, por exemplo, que o eu é o corpo. O terceiro defeito ao qual todos são propensos é enganar os outros. Um homem, por exemplo, talvez seja o tolo número um, mas, ainda assim, ele quer se fazer passar por muito inteligente. Por fim, o quarto defeito é que nossos sentidos são imperfeitos. Por exemplo, se, de repente, a sala escurece, você não consegue ver nem mesmo suas mãos. Com todas essas deficiências, na vida condicionada não podemos dar conhecimento perfeito a ninguém. Tampouco somos perfeitos. Por isso, aceitamos os Vedas.
Pelos defeitos inerentes a todo humano, não podemos produzir um conhecimento perfeito.
“Vedas” não diz respeito apenas aos Vedas, mas também a livros como a Bíblia e o Corão. Que há livros que são mais elevados que outros, que há livros que são primários e outros que são secundários, é outra questão. Em todo caso, onde quer que haja informações sobre Deus, isso é uma escritura reconhecida. Nós temos predileção pelos Vedas, mas não há dúvidas de que qualquer escritura que esteja apresentando informações científicas sobre Deus, e que é aceita pelas pessoas em geral, também é Veda. Não se devem fazer blasfêmias contra esses escritos.
Quinta Ofensa
A quinta ofensa é definir o santo nome do Senhor em termos de cálculos mundanos. O santo nome do Senhor é idêntico ao próprio Senhor, e a pessoa deve procurar entender que o santo nome do Senhor não é diferente dEle.
Sendo Deus absoluto, não há diferença entre o nome de Deus e o próprio Deus. No mundo material, há diferença entre água e a palavra “água”, entre uma flor e a palavra “flor”, por exemplo. No mundo espiritual, entretanto, no mundo absoluto, não existe tal diferença. Portanto, no mesmo instante em que você vibra “Hare Krishna”, “Hare Krishna”, você se associa com o Senhor Supremo e Sua energia.
Sexta Ofensa
A sexta ofensa é interpretar o santo nome. O Senhor não é imaginário, tampouco é imaginário o Seu santo nome. Pessoas com um pobre fundo de conhecimento pensam que o Senhor é uma imaginação do adorador e, por causa disso, julgam que Seu santo nome é imaginário. Quem segue essa linha de pensamento não pode alcançar o sucesso reservado àquele que canta verdadeiramente o santo nome.
Todos estão tentando entender Krishna a partir do ponto de vista de sua compreensão pessoal, mas não conseguirão. Portanto, um dos nomes de Krishna é Adhokshaja, “além dos limites”. Ele só pode ser conhecido caso Ele mesmo Se apresente, Se revele. Temos o exemplo de como Krishna Se revelou ao devoto Arjuna. Arjuna não entendeu Krishna por meio de sua especulação filosófica, senão que Krishna Se revelou diretamente para ele. Esse é o processo para se entender Deus. Você não pode criar Deus a partir de sua imaginação. Deus Se revela a você ao ficar satisfeito com as atividades devocionais que você prestou. É como Krishna disse a Arjuna: “Você é Meu amigo muito querido, você é Meu devoto. Por causa disso, Eu Me revelarei a você. A outros, não Me revelarei.” Tornar-se devoto é a qualificação para se entender Deus.
Sétima Ofensa
A sétima ofensa é apoiar-se na força do santo nome e cometer pecados intencionalmente. Nas escrituras, afirma-se que, pelo simples fato de cantar o santo nome do Senhor, a pessoa pode libertar-se dos efeitos de todas as ações pecaminosas. Aquele que, querendo tirar proveito deste método transcendental, continua cometendo pecados na esperança de neutralizar os efeitos dos pecados cantando posteriormente os santos nomes do Senhor é o maior dos ofensores.
Semelhante indivíduo pensa: “Por cantar o mantra Hare Krishna, eu me livro de todas as reações da minha vida pecaminosa. Então, ao longo de todo o dia, seguirei cometendo todo tipo de atividades pecaminosas e, à noite, ou em algum outro momento, cantarei Hare Krishna e tudo estará liquidado.” É verdade que, por cantar o mantra Hare Krishna, ficamos livres de pecados, mas por que cometer atividades pecaminosas novamente?
Expiar os pecados através de confissão ou cantar dos nomes de Deus sem a intenção de cessar os pecados é a pior ofensa.
Os cristãos fazem algo parecido. Eles vão à igreja no domingo e confessam: “Senhor, fiz todas estas atividades pecaminosas na semana que passou.” “Tudo bem, expie assim.” Então, a partir da segunda-feira, recomeçam as atividades pecaminosas. Este é um pensamento pecaminoso: “Jesus assinou um contrato para nos livrar das atividades pecaminosas.” Isso é um grande pretexto para os pecadores continuarem agindo pecaminosamente, e Cristo assinará um contrato para neutralizar. Essa é a convicção mais pecaminosa. Em vez de pararem com as atividades pecaminosas, assinam um contrato com Jesus Cristo para neutralizá-las.
Você pode ser perdoado, mas não repita o erro. Uma vez ou duas vezes, pode haver perdão, mas, se você continua, você terá que sofrer.
Oitava Ofensa
A oitava ofensa é considerar que o santo nome do Senhor e o método como ele é cantado são iguais a alguma atividade material auspiciosa. Existem várias categorias de boas ações que produzem benefícios materiais, mas cantar o santo nome não é um mero serviço sagrado e auspicioso. Sem dúvidas, o santo nome é sagrado, mas nunca se deve utilizá-lo com propósitos materiais.
O Senhor Supremo é o desfrutador supremo, e não o servo ou supridor dos desejos de outros. Como o santo nome do Senhor é idêntico ao Senhor, ninguém deve tentar utilizar o santo nome para seu serviço pessoal. A meta última é compreendermos: “Sou um servo eterno de Deus, Krishna.”
Nona Ofensa
A nona ofensa é fornecer explicações sobre a natureza transcendental do santo nome àqueles que não estão interessados em cantar o santo nome. Se essa instrução é transmitida a uma audiência relutante, sem fé ou sem inteligência, o ato é considerado uma ofensa aos santos nomes.
Qualquer um pode participar do canto do santo nome do Senhor, mas, no começo, não se devem instruir as pessoas acerca da potência transcendental do Senhor.
Qualquer um pode participar do canto do santo nome do Senhor, mas, no começo, não se devem instruir as pessoas acerca da potência transcendental do Senhor. Aqueles que são excessivamente pecaminosos não conseguem apreciar as glórias transcendentais do Senhor, daí ser melhor não os instruir sobre esse assunto. Contudo, por ouvirem constantemente o santo nome, o coração desses indivíduos se purificará, após o que serão capazes de entender a posição transcendental do santo nome.
Décima Ofensa
A décima ofensa é perder o interesse pelo santo nome do Senhor mesmo após ouvir sobre a natureza transcendental do santo nome. Quem canta o santo nome do Senhor sente seu efeito e liberta-se do conceito de falso egoísmo. O falso egoísmo manifesta-se quando a pessoa julga-se o desfrutador do mundo e pensa que tudo no mundo serve apenas para o seu próprio prazer. Todo o mundo materialista move-se sob esse falso egoísmo que se apresenta sob a forma de “eu” e “meu”, mas o verdadeiro efeito de cantar o santo nome é livrar-se dessas falsas concepções, sem manter apegos.
A entidade viva é um servo eterno de Krishna. Quando ela, em vez de servir Krishna, quer imitar Krishna, isso se chama maya, ilusão. Nesse estado, ela pensa: “Eu sou Deus”, “eu sou o mestre”, “eu sou o proprietário”. Para dissipar essa ilusão e devolvê-la à sua posição verdadeira, existe o processo da consciência de Krishna.
Contudo, existem aqueles que estão acima desse erro, dessa energia ilusória. Quem são eles? Os devotos. Para nos tornarmos devotos, é preciso evitarmos as dez ofensas aos santos nomes. Nós não estamos ensinando nenhum tipo particular de religião. Estamos simplesmente ensinando que as pessoas devem aprender a amar a Deus, e isso é possível mediante o canto do mantra Hare Krishna.
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