Krishna West: Como e Por quê

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Entrevista com o idealizador do programa Krishna West, Hridayananda Dasa Gosvami. 

Volta ao Supremo entrevista o idealizador do programa Krishna West, Hridayananda Dasa Gosvami. Krishna West, como se define em um panfleto de divulgação, “é uma iniciativa da ISKCON que visa servir o mundo ocidental com ativismo espiritual inteligente, apropriado e não-sectário que aborda eficientemente, com a sabedoria encontrada no Bhagavad-gita e no Srimad-Bhagavatam, questões de justiça social e econômica, meio-ambiente global e desenvolvimento de consciência mais elevada através do ensino e da prática de bhakti-yoga”. O termo west, da língua inglesa, significa “Ocidente”, e se deve ao objetivo que têm de “tornar bhakti-yoga fácil, relevante e agradável às pessoas ocidentais, sem de modo algum comprometer, diluir ou diminuir a pureza e o poder da nossa gloriosa tradição”. 

Volta ao Supremo: Por que o Krishna West é necessário?

Hridayananda Dasa Gosvami: Prabhupada queria que seu movimento fosse um grande sucesso no Ocidente. Isso não está acontecendo. Devemos pelos menos tentar fazer uma apresentação mais efetiva.

Volta ao Supremo: Existem práticas que não podem ser ajustadas por serem essenciais, conforme descritas no capítulo seis de O Néctar da Devoção, e que foram fortemente enfatizadas por Srila Prabhupada, como a adoração a Tulasi e a organização de Ratha-yatras. No entanto, essas práticas também são exóticas para o público em geral, possivelmente mais do que, por exemplo, o uso das vestimentas indianas. No Krishna West, tais práticas serão mantidas? Como torná-las familiares aos ocidentais sem as diluir?

Hridayananda Dasa Gosvami: Nós devemos adorar Tulasi. Devemos convidar o público a participar em tempos e circunstâncias apropriados. Muitas pessoas gostam de Ratha-yatra, um festival que acontece uma vez por ano. Poucas dessas pessoas sentem interesse em frequentar um templo nosso ou adotar nossas práticas. Com comunidades mais acessíveis, um Ratha-yatra anual ajuda, e não prejudica.

Volta ao Supremo: Recentemente, o Papa veio ao Brasil trajando as vestimentas tradicionais da Igreja católica. Porém, embora não sejam roupas que os ocidentais queiram usar, o Papa atraiu milhões de pessoas às ruas. Talvez se ele viesse trajando roupas comuns, como calça e camisa social, ou quem sabe um terno, as pessoas estranhassem muito esse fato e questionassem se o Papa estaria se desviando. Alguns devotos parecem pensar assim, ou seja, se vissem um sannyasi trajando roupas ocidentais pensariam que ele está se desviando da vontade de Srila Prabhupada. Poderia comentar?

Pope Attends Welcoming Ceremony in Rio de Janeiro

Papa Francisco em sua primeira visita ao Brasil.

Hridayananda Dasa Gosvami: Como a pergunta diz, a roupa do Papa é tradicional no Ocidente, faz parte da cultura. Quantos católicos que foram ver o Papa estavam vestidos como ele? O povo já era católico, mesmo que não praticante. Para um católico, ver o Papa com suas vestimentas é como um estudante do gurukula ver um sannyasi da ISKCON. Não há problema. A pergunta relevante será: “Como podemos atrair muitas pessoas inteligentes para a ISKCON?”. O que estamos fazendo agora obviamente não está funcionando.

Volta ao Supremo: Em seu seminário sobre as Religiões da Índia, ministrado em Campina Grande no ano de 2009, o senhor se mostrou um grande conhecedor das religiões do mundo e disse que, em geral, a história do começo das religiões se repete. O Krishna West é um fenômeno que encontra analogia na história pioneira de outras tradições religiosas?

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O entrevistado lecionando na Universidade da Flórida um curso sobre religiões da Índia, cuja uma parte do conteúdo apresentou em Campina Grande no ano de 2009 no Seminário Hare Krishna de Filosofia e Teologia.

Hridayananda Dasa Gosvami: Sim, em todas. O budismo cresceu readotando os costumes hindus. O cristianismo morria, até suspender a regra de que um seguidor de Jesus tinha que seguir muitos costumes judaicos. Mesmo o profeta Maomé disse que os pregadores islâmicos deviam se adaptar a cada país a que fossem. Não existe uma religião que eu conheça que virou um grande sucesso sem fazer ajustes relevantes.

Volta ao Supremo: Como uma iniciativa criada recentemente, quais os riscos que o Krishna West corre em termos do fanatismo típico de alguns membros de novos empreendimentos, especialmente de caráter religioso?

Hridayananda Dasa Gosvami: Cada iniciativa religiosa neste mundo corre riscos. Prabhupada correu muitos riscos ao viajar para a América, ao formar a ISKCON, ao abrir centros em países remotos etc. Fazemos o nosso melhor.

Volta ao Supremo: O senhor acha que sua tentativa de pregação focada em um público específico tem alguma semelhança com a postura de Bhakti-tirtha Swami, que, em dado momento, pensou em uma forma de pregação específica para alcançar o público Nova Era com a consciência de Krishna? Há outros líderes na ISKCON pensando em projetos análogos de pregação?

Hridayananda Dasa Gosvami: Claro que existem análogos entre outros pregadores. Não quero apenas pregar para um grupo limitado como os fãs de yoga, de discos voadores, executivos de empresas etc. Quero que a missão de Prabhupada seja um movimento importante no mundo em geral, uma religião mundial importante.

Volta ao Supremo: O senhor acredita que a ISKCON um dia possa se tornar uma instituição com diferentes “ordens”, como acontece no catolicismo? Isso seria positivo?

Hridayananda Dasa Gosvami: Sem dúvida. Prabhupada mesmo recomendou que estudássemos a estrutura administrativa da Igreja católica.

Volta ao Supremo: Uma qualidade que o senhor tem deixado transparecer ao longo de seus discursos sobre o Krishna West é a humildade. O senhor constantemente coloca que não apenas aceita críticas, mas admira sinceramente as pessoas que o criticam bem como suas convicções e projetos pessoais. É algo muito inspirador de ver. Haverá algum tipo de treinamento para “missionários Krishna West” fomentando-lhes essa postura humilde e outras posturas fundamentais para quem represente o Krishna West?

Hridayananda Dasa Gosvami: Espero que nossos devotos tenham bom senso e boas maneiras. Cobramos isso.

Volta ao Supremo: Algumas pessoas expressam diferentes preocupações em relação ao Krishna West. Uma questão frequente é se os centros de pregação Krishna West indicarão aos interessados em iniciação apenas ou preferencialmente o senhor e outros gurus que aderirem ao Krishna West ou se esse tipo de sectarismo será recriminado. Poderia comentar?

Hridayananda Dasa Gosvami: Obviamente preferimos gurus que apoiem nosso programa, e não gurus que estejam contra ou que não vejam valor no que fazemos. Quem neste mundo gostaria de trabalhar duríssimo e daí chegar um guru que estraga tudo que você tentava fazer?

Volta ao Supremo: Em um debate na internet, sugeriu-se como uma boa postura se o Krishna West se chamasse “ISKCON Krishna West” de modo a prevenir qualquer desligamento ou afastamento da ISKCON. O senhor acha que o uso do nome “ISKCON Krishna West” seria de bom auxílio nesse entendimento de todos de que é, como o senhor disse na Declaração da Missão do Krishna West, “um movimento dentro do movimento”?

Hridayananda Dasa Gosvami: Os jesuítas se chamam “Jesuítas Católicos Romanos” no dia-a-dia? Na ISKCON, existem quantos “centros culturais” sem “ISKCON” no nome? Nós temos a palavra ISKCON em todos os nossos documentos importantes.

Volta ao Supremo: Já existem livros entre os escritos por Prabhupada ou por devotos contemporâneos que podem servir de referência para aqueles que se aproximem da consciência de Krishna através do Krishna West ou tais livros ainda estão por ser escritos? Quer dizer, o Krishna West conduzirá seus adeptos para leituras específicas de artigos e livros ou terá as mesmas fontes que a ISKCON, por assim dizer, “tradicional”?

Hridayananda Dasa Gosvami: Usaremos as mesmas fontes, com alguns livros novos que eu e outros estamos escrevendo.

Volta ao Supremo: Seu interesse em facilitar o acesso à consciência de Krishna por parte de homossexuais é conhecido devido a seu ensaio “Teologia Moral Vaishnava e Homossexualidade” e por outras declarações. Os centros de pregação Krishna West terão uma política “gay-friendly”? Em caso positivo, como isso se traduzirá na prática?

Hridayananda Dasa Gosvami: Oferecemos a todos a mesma oportunidade de avançar na consciência de Krishna, seguindo os mesmos princípios.

Volta ao Supremo: O Krishna West cantará mantras nas línguas locais onde se estabeleça, compondo na língua local como fez Bhaktivinoda Thakura, ou preservará o canto de mantras exclusivamente em sânscrito e bengali?

Hridayananda Dasa Gosvami: O “programa espiritual” diário é o mesmo de qualquer centro da ISKCON. Na ISKCON, já existem devotos “normais” que cantam em línguas locais, fora do programa básico no templo.

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Titikshava Karunika, devoto famoso por sua banda de roque com letras em inglês sobre a consciência de Krishna.

Volta ao Supremo: No panfleto de divulgação do Krishna West, descreve-se que “também estamos constatando em diferentes partes do mundo que Krishna West é uma ferramenta poderosa para atrair devotos experientes de volta ao serviço ativo”. Poderia discorrer sobre isso? Não há muitos devotos que se afastam da ISKCON por questão da “indianização”, até onde entendemos, mas, em geral, afastam-se por desavença entre os devotos, decepção com líderes que caem, dificuldade com o sadhana pessoal, descrença da teologia etc. O Krishna West tem procedimentos diferentes da “ISKCON geral” para lidar com tais coisas também de modo a atrair aqueles que se afastaram por esses motivos de volta ao serviço devocional?

Hridayananda Dasa Gosvami: Na realidade, muitos devotos se afastam da pregação ativa porque não se sentem bem com a apresentação muito indiana. Sei disso porque tais devotos falam comigo. Em geral, queremos oferecer um programa amistoso, razoável e consciente de Krishna, e quem quiser pode participar.

Volta ao Supremo: Ainda em meio a muitas ideias abstratas, alguns gostariam de visualizar mais concretamente como seria um centro Krishna West. O senhor poderia fazer uma descrição de um visitante chegando ao centro, vendo-o do lado de fora e também sua experiência em seu interior ao longo de toda a programação até o momento em que retorna para casa?

Hridayananda Dasa Gosvami: Será um centro normal, porém com estilo ocidental de sattva-guna. Simples.

Volta ao Supremo: É famosa a história de que, quando Prabhupada chegou ao ocidente, disse que já podia ver a ISKCON no futuro com muitos templos, escolas e outras facilidades, uma realidade separada apenas pelo tempo. Como o senhor imagina o Krishna West daqui a uma década ou duas?

Hridayananda Dasa Gosvami: Espero que seja muito grande. Acho que será.

Volta ao Supremo: Sabemos o quanto o tempo do senhor é curto, então agradecemos imensamente pela entrevista. Alguma mensagem final aos leitores do blog Volta ao Supremo?

Hridayananda Dasa Gosvami: Cantem Hare Krishna e sejam felizes!

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5 Respostas

  1. Pessoalmente, acho fantástica a ideia do Krishna West e acho que tem tudo para dar certo e incorporar os ensinamentos de Srila Prabhupada numa linguagem mais atual e mais ocidental.

    Guptananda Swami/Swami Anand Sarjan

    16 de fevereiro de 2014 às 5:22 PM

  2. swarupa

    Logo veremos as deidades de paletó…

    8 de março de 2014 às 4:49 AM

    • marcio

      Seria ridículo uma deidade de paletó, tanto quanto é ridículo um ocidental vestido de indiano.

      12 de setembro de 2016 às 9:46 AM

      • Anônimo

        Pensamos que dhoti e sari são roupas indianas. Isto é um equívoco. Dhoti e sari são roupas utilizadas no mundo espiritual, e, por amor e devoção, nós utilizamos neste planeta. Imaginem um pujari sem roupa devocional como seria triste. As escrituras como o Srimad-Bhagavatam relatam que grandes personalidades, como o próprio Senhor Krishna e Srimati Radhika, usam estas vestes. Como, então, podem ser indianas, já que o Senhor Krishna é o Senhor do universo? Se alguém deseja vestir roupas normais, tudo bem, mas não confundam as mentes dos amados vaisnava e vaisnavis.

        4 de outubro de 2016 às 10:01 PM

  3. Ednei m souza

    Achei muito bom o Krishna West, se é para crescer o movimento.

    26 de março de 2014 às 12:29 PM

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