O Brilho do Vagalume à Luz do Sol: A História do Rapto dos Amigos e Bezerros de Krishna
Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
(Excerto da obra Krishna, a Suprema Personalidade de Deus)
Brahma, a poderosa divindade responsável pela criação do mundo material, tenta desconcertar Krishna, que lhe parecia um garotinho comum a brincar com Seus amigos e a comer. Contudo, é Brahma quem termina desconcertado quando Krishna decide exibir Sua glória e o Seu poder.
O Senhor Krishna, certo dia, levou Seus amigos até a beira do Yamuna e lhes falou o seguinte: “Meus queridos amigos, vejam só como este local é muito agradável para almoçar e brincar nas margens arenosas e macias do Yamuna. Podem ver como as flores de lótus na água estão desabrochadas e belas e como distribuem seu perfume por toda a parte. O gorjeio dos pássaros junto com o grito dos pavões, rodeados pelo sussurro das folhas nas árvores, combinam-se e apresentam vibrações sonoras que ecoam entre si. E isso só enriquece a bela paisagem criada pelas árvores aqui. Vamos almoçar neste lugar porque já está tarde e estamos com fome. Que os bezerros fiquem perto de nós e bebam água do Yamuna. Enquanto almoçamos, os bezerros podem comer o capim macio que há neste local”.
Krishna e Seus amigos na prazerosa floresta de Vrindavana.
Ao ouvirem essa proposta de Krishna, todos os meninos ficaram muito contentes e disseram: “Sem dúvida, vamos todos sentar aqui e almoçar.” E então soltaram os bezerros para comerem o capim macio. Sentando-se no chão e tendo Krishna no centro, eles começaram a abrir suas lancheiras trazidas de casa. O Senhor Sri Krishna sentou-Se no centro do círculo, e todos os meninos voltaram seus rostos para Ele. Eles comiam e sempre desfrutavam a visão do Senhor face a face. Krishna parecia o verticilo de uma flor de lótus, ao passo que os meninos que O rodeavam pareciam as diferentes pétalas. Os meninos juntaram flores, folhas e cascas de árvores e as colocaram sob suas respectivas lancheiras e, assim, começaram a almoçar na companhia de Krishna. Enquanto almoçavam, cada menino começou a manifestar diferentes espécies de relações com Krishna e desfrutavam da companhia mútua com gracejos.
Enquanto o Senhor Krishna desfrutava dessa maneira Seu almoço com Seus amigos, Sua flauta estava enfiada dentro do cinturão de Sua roupa, e Seus cajado e corneta estavam enfiados do lado esquerdo de Sua roupa. Ele segurava na palma da mão esquerda um bocado de comida preparada com iogurte, arroz, manteiga e pedaços de frutas, que se podia ver através das juntas de Seus dedos semelhantes a pétalas. A Suprema Personalidade de Deus, que aceita os resultados de todos os grandes sacrifícios, estava rindo e brincando, saboreando o lanche com Seus amigos em Vrindavana. Essa cena estava sendo observada pelos semideuses do céu, e, quanto aos meninos, eles simplesmente gozavam bem-aventurança transcendental na companhia da Suprema Personalidade de Deus.
Krishna fazendo Sua refeição com Seus amigos. No céu, Brahma se aproxima sobre seu cisne transportador.
Nessa ocasião, os bezerros que estavam pastando por perto embrenharam-se na floresta, atraídos por capim novo, e ficaram gradativamente fora de vista. Quando os meninos viram que os bezerros não estavam mais por ali, temeram pela segurança dos bezerros e gritaram sem demora: “Krishna!”. Krishna é o matador do medo personificado. Todos temem o medo personificado, mas o medo personificado tem medo de Krishna. Com o grito da palavra “Krishna”, os meninos transcenderam imediatamente a situação de medo. Devido à Sua grande afeição, Krishna não queria que Seus amigos interrompessem seu agradável almoço e saíssem procurando os bezerros. Por isso, disse: “Meus queridos amigos, não é preciso que vocês parem o seu almoço. Vou pessoalmente até onde estão os bezerros”. Assim, Krishna, ainda segurando um punhado de arroz com iogurte em Sua mão esquerda, partiu imediatamente em procura dos bezerros nas grutas e moitas.
Ele procurou nas cavernas das montanhas e nas florestas, mas em lugar algum pôde encontrá-los. Na ocasião em que Aghasura fora morto e os semideuses assistiam ao incidente com grande surpresa, Brahma, que nasceu da flor de lótus do umbigo de Vishnu, também fora ver. Ele se surpreendeu ao ver que um menino pequeno como Krishna pudesse agir de maneira tão maravilhosa. Embora houvesse sido informado de que o vaqueirinho era a Suprema Personalidade de Deus, ele queria ver mais passatempos gloriosos do Senhor e, assim, roubou todos os bezerros e vaqueirinhos e levou-os para um lugar diferente. O Senhor Krishna, portanto, apesar de procurar os bezerros, não conseguiu encontrá-los, e até mesmo perdeu Seus amigos à margem do Yamuna onde estavam almoçando. Na forma de um vaqueirinho, o Senhor Krishna era muito pequeno em comparação com o Senhor Brahma, mas, por ser a Suprema Personalidade de Deus, Ele pôde compreender logo que todos os bezerros e meninos tinham sido roubados por Brahma.
Krishna pensou: “Brahma levou embora todos os meninos e bezerros. Como posso voltar sozinho para Vrindavana? As mães ficarão aflitas!”. Por isso, para satisfazer as mães de seus amigos, bem como para convencer Brahma da supremacia da Suprema Personalidade de Deus, Ele Se expandiu imediatamente como vaqueirinhos e bezerros.
Declara-se nos Vedas que a Suprema Personalidade de Deus expande-Se em muitas entidades vivas por Sua energia. Portanto, não era muito difícil para Ele Se expandir novamente em tantos meninos e bezerros. Ele Se expandiu para tornar-Se exatamente como os meninos, que eram todos de diferentes aspectos, no rosto, na constituição corporal, em suas roupas, adornos e em seu comportamento e atividades pessoais. Em outras palavras, cada qual tem gostos diferentes; sendo uma alma individual, cada pessoa tem atividades e comportamento completamente diferentes. Todavia, Krishna Se expandiu em todas as diferentes posições dos meninos individuais. Ele também Se transformou nos bezerros, que eram todos diferentes em tamanhos, cores, atividades etc. Isso foi possível porque tudo é expansão da energia de Krishna. Afirma-se no Vishnu-Purana que parasya brahmanah shaktih, ou seja, tudo o que de fato vemos na manifestação cósmica — seja a matéria ou as atividades das entidades vivas — é simplesmente uma expansão das energias do Senhor, assim como o calor e a luz são diferentes expansões do fogo. Assim, expandindo-Se como os meninos e bezerros em seus atributos individuais e rodeado por essas expansões dEle mesmo, Krishna entrou na aldeia de Vrindavana.
Os moradores não tinham conhecimento do que acontecera. Depois de entrar na aldeia de Vrindavana, todos os bezerros foram para seus diferentes estábulos, e os meninos também foram para suas respectivas mães e lares. As mães dos meninos ouviram a vibração de suas flautas antes de sua entrada, e, para recebê-los, elas saíram de suas casas para abraçá-los. E por causa do amor maternal, o leite escorria de seus seios e elas deixavam que eles o bebessem. Porém, seu oferecimento não era para seus filhos, mas para a Suprema Personalidade de Deus que Se expandira nesses meninos. Essa foi outra oportunidade de todas as mães de Vrindavana alimentarem a Suprema Personalidade de Deus com seu próprio leite. Portanto, o Senhor Krishna deu não só a mãe Yashoda a chance de alimentá-lO, mas, desta vez, Ele deu essa oportunidade a todas as gopis mais velhas.
Todos os meninos começaram a tratar suas mães da maneira habitual, o mesmo ocorrendo com suas mães. Ao entardecer, elas começaram a banhar seus próprios filhos, enfeitá-los com tilaka e adornos e dar-lhes o alimento necessário depois do trabalho do dia. As vacas também, que estavam fora nos pastos, voltaram antes de escurecer o dia e começaram a chamar seus bezerros. Os bezerros logo se aproximaram das mães e elas puseram-se a lamber-lhes os corpos. Essas relações das vacas com seus bezerros e das gopis com seus filhos continuaram sem alteração, embora, de fato, os bezerros e meninos originais não estivessem ali. De fato, a afeição das vacas pelos bezerros e das gopis mais velhas pelos meninos aumentou sem razão aparente. Seu afeto aumentou naturalmente, ainda que os bezerros e meninos não fossem filhos delas. Embora as vacas e gopis mais velhas de Vrindavana gostassem mais de Krishna do que de seus filhos, seu amor por seus filhos, depois deste incidente, aumentou, exatamente como o amor que elas tinham por Krishna. Durante um ano inteiro, Krishna Se expandiu como os bezerros e vaqueirinhos e esteve presente no pasto. Como se declara no Bhagavad-gita, a expansão de Krishna está no coração de todos como a Superalma. De maneira semelhante, em vez de Se expandir como a Superalma, Ele Se expandiu como numerosos bezerros e vaqueirinhos durante um ano inteiro.
Um dia, poucos dias antes de completar um ano, quando Krishna, junto com Balarama, mantinha os bezerros na floresta, Eles viram algumas vacas que pastavam no topo da colina Govardhana. As vacas podiam ver lá embaixo o vale onde os meninos cuidavam dos bezerros. De repente, avistando seus bezerros, as vacas começaram a correr para eles. Elas saltaram colina abaixo com as pernas da frente e de trás juntas. As vacas estavam tão enternecidas por seus bezerros que não se incomodaram com a dificuldade do caminho do topo da colina Govardhana até o pasto. Elas se aproximaram dos bezerros com as tetas cheias de leite e seus rabos levantados. Quando desciam a colina, suas tetas derramavam leite no chão por causa de seu intenso amor maternal pelos bezerros, embora não fossem seus próprios bezerros. Essas vacas tinham seus próprios bezerros, e os bezerros que pastavam abaixo da colina de Govardhana eram maiores; não se esperava que eles mamassem senão que se satisfizessem com o capim. Porém, todas as vacas vieram sem demora e começaram a lamber os corpos deles, e os bezerros também começaram a mamar. Parecia haver um grande vínculo de afeição entre as vacas e os bezerros.
Quando as vacas vieram correndo do topo da colina de Govardhana, os homens que estavam cuidando delas tentaram detê-las. Os homens cuidam das vacas e os meninos cuidam dos bezerros, e, tanto quanto possível, se conservam separados os bezerros das vacas para que eles não bebam todo o leite disponível. Por isso, os homens que tomavam conta das vacas no topo da colina Govardhana tentaram impedi-las, mas falharam. Confundidos com seu fracasso, eles se sentiam envergonhados e zangados. Estavam muito infelizes, mas, quando desceram e viram seus filhos tomando conta dos bezerros, eles de repente sentiram muita afeição pelos meninos. Foi muito surpreendente. Embora os homens tivessem descido desapontados, confusos e zangados, eles, logo que viram seus filhos, se enterneceram com grande afeição em seus corações. Imediatamente desapareceram suas ira, insatisfação e infelicidade. E, com grande afeição e amor paternal pelos meninos, esses vaqueiros pegaram seus filhos no colo e os abraçaram. Começaram a cheirar as cabeças deles e desfrutaram de sua companhia com grande felicidade. Depois de abraçar seus filhos, os homens levaram as vacas de volta ao topo da colina de Govardhana. No caminho, começaram a pensar em seus filhos, em consequência do que seus olhos encheram-se de lágrimas de amor.
Quando Balarama viu essa extraordinária troca de amor entre as vacas e seus bezerros e entre os pais e os meninos — quando nem os meninos nem os bezerros precisavam de tanto cuidado —, Ele começou a Se perguntar por que acontecia esse evento extraordinário. Balarama perguntou a Krishna sobre a verdadeira situação. Ele disse: “Meu querido Krishna, no início pensei que todas essas vacas, bezerros e vaqueirinhos eram ou grandes sábios e pessoas santas ou semideuses, mas agora parece que realmente são expansões Suas. Eles são todos Você; Você mesmo está fazendo os papéis dos bezerros, das vacas e dos meninos. Qual é o mistério desta situação? Para onde foram todas aquelas outras vacas, bezerros e meninos? E por que Você Se expande como vacas, bezerros e meninos? Pode-Me fazer o favor de dizer qual a causa disso?”. A pedido de Balarama, Krishna explicou em resumo como os bezerros e os meninos tinham sido roubados por Brahma e como Ele estava ocultando o incidente expandindo-Se para que as pessoas não soubessem que as verdadeiras vacas, bezerros e meninos estavam desaparecidos.
Enquanto Krishna e Balarama conversavam, Brahma regressou após um momento (segundo a duração de sua vida). Temos informação sobre a duração da vida de Brahma pelo Bhagavad-gita: mil vezes a duração das quatro eras, ou seja, quatro milhões e 300 mil vezes mil anos correspondem a doze horas de Brahma. Assim também, um momento da vida de Brahma equivale a um ano de nosso cálculo solar. Depois de um momento segundo o cálculo de Brahma, ele foi ver a diversão causada por seu roubo dos meninos e bezerros. Contudo, também tinha medo de estar procedendo de maneira errônea e perigosa para si. Krishna era seu Senhor e ele tinha feito uma travessura para se divertir roubando os bezerros e meninos. Ele estava deveras ansioso, daí não ter ficado fora por muito tempo.
Brahma viu que todos os meninos, bezerros e vacas estavam brincando com Krishna do mesmo modo como quando ele os encontrara, embora ele tivesse certeza de tê-los levado e feito com que adormecessem sob o encanto de seu poder místico. Brahma pensou: “Todos os meninos, vacas e bezerros foram levados embora por mim e sei que eles ainda estão dormindo. Como é que um grupo semelhante de vacas, meninos e bezerros está brincando com Krishna? Será que eles não sofrem a influência de meu poder místico? Eles ficaram brincando um ano inteiro com Krishna?”.
Brahma tentou entender quem eram eles e como eles não sofriam a influência de seu poder místico, mas não conseguiu descobrir. Em outras palavras, ele mesmo caiu sob o encanto de seu próprio poder místico. A influência de seu poder místico parecia a neve no escuro e o vaga-lume durante o dia. Durante a escuridão da noite, o vaga-lume pode exibir algum poder de iluminar, e a neve empilhada no topo de uma colina ou no chão pode brilhar durante o dia. Durante a noite, porém, a neve não tem nenhum brilho prateado, nem o vaga-lume consegue iluminar. Assim também, quando o pequeno poder místico exibido por Brahma estava diante do poder místico de Krishna, ele era como a neve ou o vaga-lume. Quando um homem de pequeno poder místico quer mostrar poder na presença de um poder místico maior, ele diminui sua própria influência em vez de aumentá-la. Mesmo uma personalidade tão grandiosa como Brahma, quando quis mostrar seu poder místico diante de Krishna, tornou-se ridículo. Brahma então ficou confuso quanto a seu próprio poder místico.
Para convencer Brahma de que todas aquelas vacas, bezerros e meninos não eram os originais, as vacas, bezerros e meninos que estavam brincando com Krishna transformaram-se em formas de Vishnu. Na verdade, os originais estavam dormindo sob o encanto do poder místico de Brahma, mas os atuais, vistos por Brahma, eram todos expansões imediatas de Krishna, ou Vishnu. Vishnu é a expansão de Krishna, e, por isso, as formas de Vishnu apareceram diante de Brahma. Todas as formas de Vishnu eram de cor azulada e vestiam roupas amarelas; todas elas tinham quatro mãos decoradas com maça, disco, flor de lótus e búzio. Simplesmente por Seu olhar, Eles pareciam os criadores e mantenedores dos modos da ignorância e paixão. Vishnu representa o modo da bondade, Brahma representa o modo da paixão e o Senhor Shiva representa o modo da ignorância. Portanto, como aquele que mantém tudo na manifestação cósmica, Vishnu também é o criador e mantenedor de Brahma e do Senhor Shiva.
Depois dessa manifestação do Senhor Vishnu, Brahma viu que muitos outros Brahmas e Shivas e semideuses e até mesmo entidades vivas insignificantes, como formigas e graminhas — entidades vivas móveis e inertes —, estavam dançando ao redor do Senhor Vishnu. Sua dança era acompanhada por várias espécies de músicas, e todos estavam adorando o Senhor Vishnu. Brahma compreendeu que todas aquelas formas de Vishnu eram completas, a começar da perfeição anima, que permite ao indivíduo ficar pequeno como um átomo, até a perfeição de ficar infinito como a manifestação cósmica. Todos os poderes místicos de Brahma, Shiva e de todos os semideuses e os vinte e quatro elementos da manifestação cósmica estavam completamente representados na pessoa de Vishnu. Pela influência do Senhor Vishnu, todos os poderes místicos subordinados ocupavam-se em Sua adoração. Ele estava sendo adorado pelo tempo, espaço, manifestação cósmica, reforma, desejo, atividade e as três qualidades da natureza material. O Senhor Vishnu, Brahma também percebeu, é o reservatório de toda a verdade, conhecimento e bem-aventurança. Ele é a combinação de três aspectos transcendentais, ou seja, eternidade, conhecimento e bem-aventurança, e Ele é o objeto de adoração dos seguidores das Upanishads.
Brahma compreendeu que todas as diferentes vacas, meninos e bezerros transformados em formas de Vishnu não foram transformados por um poder místico do tipo que um yogi ou semideus pode exibir por poderes específicos que lhe foram atribuídos. Os bezerros e meninos transformados em vishnu-murtis, ou “formas de Vishnu”, não eram exibições de vishnu-maya, ou a energia de Vishnu, senão que eram o próprio Vishnu.
As vacas, bezerros e meninos que estavam brincando com Krishna transformam-se em formas de Vishnu.
As formas transcendentais da Suprema Personalidade de Deus são tão grandiosas que os seguidores impersonalistas das Upanishads não conseguem alcançar a plataforma de conhecimento para compreendê-las. Na verdade, as formas transcendentais do Senhor estão além do alcance dos impersonalistas, que só podem compreender, através dos estudos das Upanishads, que a Verdade Absoluta não é matéria e que a Verdade Absoluta não sofre restrição material causada por alguma potência limitada. O Senhor Brahma entendeu Krishna e Sua expansão nas formas de Vishnu e pôde compreender que é devido à expansão da energia do Senhor Supremo que existe tudo o que é móvel e inerte na manifestação cósmica.
Quando Brahma estava assim confuso em seu poder limitado e consciente de suas atividades limitadas dentro dos onze sentidos, ele pôde ao menos perceber que ele também era uma criação da energia material, como uma marionete. Assim como uma marionete não tem poder independente para dançar, senão que dança de acordo com a orientação do marionetista, assim também os semideuses e as entidades vivas estão todos subordinados à Suprema Personalidade de Deus. Como se diz no Chaitanya-charitamrita, o único senhor é Krishna, e todos os outros são servos. O mundo inteiro está sob as ondas do encanto material, e os seres estão flutuando como palhas na água. Assim continua sua luta pela existência. Todavia, tão logo o sujeito se torna consciente de que é servo eterno da Suprema Personalidade de Deus, essa maya, ou luta ilusória pela existência, detém-se imediatamente.
O Senhor Brahma, que tem pleno controle sobre a deusa do conhecimento e que é considerado a melhor autoridade em conhecimento védico, estava assim perplexo, sendo incapaz de compreender o poder extraordinário manifestado pela Suprema Personalidade de Deus. No mundo material, até mesmo uma personalidade como Brahma é incapaz de compreender o poder místico do Senhor Supremo. Brahma não só deixou de entender como também ficou perplexo ao ver a exibição que Krishna manifestava diante dele. Krishna teve compaixão de Brahma, que sequer era capaz de entender como Ele estava exibindo as formas de Vishnu, transformando-Se em vacas e vaqueirinhos, e assim, enquanto manifestava plenamente a expansão de Vishnu, Ele de repente puxou Sua cortina de yogamaya sobre a cena. Declara-se no Bhagavad-gita que a Suprema Personalidade de Deus não é visível por causa da cortina puxada por yogamaya. Aquilo que cobre a realidade é mahamaya, ou a energia externa, que não permite a uma alma condicionada compreender a Suprema Personalidade de Deus além da manifestação cósmica. Mas a energia que manifesta parcialmente a Suprema Personalidade de Deus e parcialmente não permite que alguém O veja, chama-se yogamaya. Brahma não é uma alma condicionada comum. Ele é muitíssimo superior a todos os semideuses, apesar do que ele não pôde compreender a exibição da Suprema Personalidade de Deus, daí Krishna ter decidido parar de manifestar qualquer outra potência.
Quando ficou livre de sua perplexidade, Brahma pareceu ter acordado de um estado de quase morte e começou a abrir os olhos com grande dificuldade. Assim, ele pôde ver a manifestação cósmica com olhos comuns. Ele viu em toda a sua volta a magnífica paisagem de Vrindavana, cheia de árvores, as quais são a fonte de vida para todas as entidades vivas. Ele pôde apreciar a terra transcendental de Vrindavana, onde todas as entidades vivas são transcendentais à natureza ordinária. Na floresta de Vrindavana, mesmo animais ferozes como tigres vivem em paz com veados e seres humanos. Ele pôde entender que, graças à presença da
Suprema Personalidade de Deus em Vrindavana, aquele lugar é transcendental a todos os outros lugares e que lá não existem luxúria e cobiça.
Brahma, então, deu consigo diante de Sri Krishna, a Suprema Personalidade de Deus, fazendo o papel de um vaqueirinho. Ele viu aquele menininho com um bocado de comida em Sua mão esquerda, procurando Seus amigos, vacas e bezerros, assim como Ele estava fazendo um ano antes, depois do desaparecimento deles.
Imediatamente, Brahma desceu de seu grande cisne transportador e caiu diante do Senhor como uma vara dourada. A palavra que se usa entre os vaishnavas para “oferecer respeitos” é dandavat. Essa palavra quer dizer “cair como uma vara” – deve-se oferecer respeito a um superior vaishnava prostrando-se reto, com o corpo esticado como uma vara. Brahma, então, caiu diante do Senhor como uma vara para oferecer respeito, e porque Brahma é de cor dourada, ele parecia uma vara de ouro caída diante do Senhor Krishna. Todos os quatro capacetes das cabeças de Brahma tocaram os pés de lótus de Krishna.
Brahma oferece orações a Krishna, agora já ciente de Seu poder ilimitado e perfeito.
Brahma, estando muito alegre, começou a derramar lágrimas que lavaram os pés de Krishna. Ele se prostrou e se levantou repetidas vezes ao lembrar as maravilhosas atividades do Senhor. Depois de muito tempo repetindo reverências, Brahma levantou-se e esfregou as mãos nos olhos. Vendo o Senhor diante dele, começou bastante trêmulo a oferecer preces com muito respeito, humildade e atenção.
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Cada vez que releio esses maravilhosos e nectáreos passatempos do Senhor Krishna, de significado tão rico e filosófico, minha mente se cala, minha inteligência pouca se ilumina como uma lamparina que se acende na imensidão do oceano noturno de maya.
Hare Krishna! Muito obrigado!
12 de setembro de 2014 às 7:28 PM